TITO GUARNIERE
O CANDIDATO MORO
Quando o ex-juiz Sérgio Moro se tornou conhecido, parecia se tratar de um magistrado jovem e corajoso, capaz de enfrentar as chicanas dos réus de crimes de colarinho branco e, quando fosse o caso, de botá-los no lugar devido, isto é, na cadeia.
Nunca me deixei contagiar de entusiasmo. Sempre me incomodaram os discursos moralistas e as propensões meramente punitivistas que, desde a velha UDN, pretendem reduzir os problemas do país apenas à corrupção. Seria bom que fosse só esse o nosso gargalo, mas eles vão muito além e são muito mais complexos.
Exige muito mais esforço e continuidade no tempo, por exemplo, a realização de um projeto nacional de educação, um projeto consistente de aumentar a produção dos bens e da riqueza. É muito fácil lançar mão ao dinheiro do tesouro e distribuí-lo à população mais carente. Tão fácil que Lula e Bolsonaro, embora pareçam tão antagônicos, fizeram a mesma coisa, chame-se o programa de Bolsa Família ou de Auxílio Brasil.
Mas o discurso moralista sempre foi atraente – por mania e desaviso – e sempre mobilizou certas faixas da população. Collor, Lula e Bolsonaro são exemplos notórios da adesão em massa ao facilitário.
Mas vá lá. A corrupção não é o nosso maior problema, mas é uma chaga moral que precisa ser extirpada. Não há porque não apoiar e aplaudir quem toma a bandeira a si e a desfralda – como Moro.
Encorajado pela adesão entusiasmada das massas moralistas, que estavam em todos os lugares, na imprensa, na sociedade civil, Moro, se tornou um herói. E infeliz é o país que precisa de heróis (Brecht).
Daí a misturar os fins e os meios foi um passo. E lá estava ele, o agora salvador da pátria, dando toda a máquina para atrelar a condenação de Lula, – que o tiraria do pleito de 2018 – ao calendário eleitoral.
Até aí tudo ao menos era discutível. Teria de verdade acelerado o processo de Lula para tirá-lo da disputa presidencial? Que ele o fez, eu não tenho dúvidas. Mas sempre poderia ser apenas uma narrativa.
A máscara caiu quando aceitou o cargo de ministro da Justiça. Não se deu conta de que ia pegar mal afastar da disputa o principal contendor de Bolsonaro, e depois servir ao seu governo.
Moro imaginou que no Ministério seria como em Curitiba, onde ele fazia e desfazia, sozinho, no papel do juiz do feito. Iria, portanto, dar as cartas e jogar de mão, propondo medidas, combatendo a criminalidade. Depois, era só correr para o abraço da consagração pública. Foi um fiasco. Tudo o que ele conseguiu foi assumir como seus os méritos que já vinham do governo anterior de Temer, de redução das estatísticas criminais.
Após uma sequência de derrotas no Congresso – ele não tem a menor ideia como funciona o Legislativo – e de humilhações sofridas no interior do governo, pela falta de traquejo, de educação e de lealdade do chefe, pediu as contas e saiu.
Volta agora como candidato. Não terá vida fácil pela frente, por causa dos erros graves que cometeu. Não é à toa que os seus índices de rejeição, nas pesquisas, são praticamente iguais aos de Bolsonaro. Ele vai ter de superá-los – um enorme desafio, dado o seu limite, o seu despreparo.
twitter: @TittoGuarnieree