O nome do bandido é mio-mio, mas se o Criador o colocou nos nossos campos, então deve ter um motivo. Olhem o lindo nome científico do “serial killer”: (Baccharis coridifolia). Nos países de língua espanhola é “romerillo”.
Mio-mio é uma erva bem verdinha, altamente tóxica, que medra nos campos de quase toda a região centro-oeste do RGS e não tem como a extirpar. Corta aqui, ela aparece com mais força acolá.
Explico que a região de Santiago, Itaqui, descendo para Uruguaiana e Quaraí é useira e vezeira em secas, geadas e lá está o famigerado vegetal. Todavia o animal que não conhece o “bandido”, se comer a erva está morto e sepultado. No inverno os campos tem geada, o que é ótimo para extinguir várias espécies que prejudicam os animais, mas o sacana tem folhas bem verdinhas, a contrastar com a palha deixada pelas geadas. Oba, pensam bois, vacas, touros, ovinos inexperientes: “olha que bóia gostosa vamos comer”!
Os animais que nascem onde há mio-mio, não o comem. Mas com os de outras paragens há que se tomar uma série de providências.
Esses animais chegam de caminhão depois de uma longa viagem, chacoalhando, estressados, com sede e fome. Eu sempre mando descarregar na mangueira, onde já os espera água e muita alfafa ou pasto cortado.
Os animais vão comendo e descansando. Depois de várias horas a gente vai a cavalo e os tange para beber água do açude. Depois vão passar dois dias num pequeno potreiro com muita pastagem. Voltam para a mangueira, onde é passado mio-mio nos seus beiços para que o repugnem.
Há uns 10 anos comprei 120 novilhas de um proprietário longínquo.
Perguntei se os animais conheciam mio-mio. Responderam-me que sim.
Eu queria transportá-las em caminhões boiadeiros. Seriam umas poucas viagens e pronto.
Mas meu pessoal queria porque queria trazê-las por terra. Parece que atropelaram demais. As reses chegaram bem estressadas, com fome. Ainda inventaram de as marcar logo na chegada. Relembremos que marcar é colocar um símbolo super quente, em brasas, no couro do animal. Extremamente dolorido. Hoje isso está mudando para o brinco ou o chip.
Resultado: comeram mio-mio, se “ervaram” e a metade morreu intoxicada.
Perdi, portanto, 60 novilhas. Multiplica isso por 6 mil pilas hoje cada uma. Não me nocauteou, mas doeu na guaiaca.
Fiquei abatido uns três dias, mas aprendi.
No campo a última palavra é tua. As consequências também.