Até vários anos atrás a maioria das casas de praia eram espaçosas mas abrigavam móveis e utensílios que vinham da moradia da cidade quando seus ocupantes faziam melhorias. Digamos assim: a casa da praia era um depósito de móveis usados.
Numa época em que as mulheres em sua maioria ficavam em casa cuidando dos filhos, as pessoas abriam a casa da praia em fins de dezembro. As mulheres e as crianças ficavam até início de março. Os maridos vinham aos fins de semana.
Com a chegada de março a casa era fechada para só muito eventualmente ser reaberta num feriadão.
Eu gostava muito de passar mais tempo na praia. Mas podem crer, era uma solidão de dar medo ficar durante o inverno. Eu sempre dormia com a Frau Glock debaixo do travesseiro. Não poucas vezes fui obrigado a dar uns tiros de alerta para cima ante atitudes suspeitas na rua.
Com o surgimento do fenômeno dos condomínios fechados as casas já tinham requintes modernos, sendo que muitas vezes a morada da praia era mais confortável do que a da cidade.
Todavia havia poucos e pequenos mercados. Frutas eram difíceis de aparecer. Tinha-se que trazer quase tudo da cidade.
Aos poucos, comecei a gostar muito de ficar na casa da praia. Fui conhecendo os meandros: onde comprar lenha para o churrasco e a lareira; onde pedir ajuda para pequenas obras e, principalmente, onde jogar tênis. Daí a formar um grupo de watts foi um pulo. Claro que ficou estipulado que o watts era só para combinar jogos nas quadras cobertas da Saba. Nada de política.
Com a chegada em massa de aposentados que cada vez mais ficavam na praia por largos períodos, começaram a brotar, em todos lugares: ótimos supermercados, clínicas , oficinas, casas de móveis, restaurantes, pets etc..
Com o fato de famílias inteiras migrarem para a orla, ocorreu um “boom” na indústria da construção. Já não há mais distinção entre inverno e verão no litoral.
Quase todo o trabalho hoje é feito de modo remoto. Então para que ir pessoalmente a uma reunião?
Meu escritório no Edifício Tribuno, bem como quase todos outros, está deserto. Para que sete salas? para que uma secretária? Hoje a maioria dos jovens advogados prefere marcar suas reuniões em salas compartilhadas.
Nos tribunais os servidores se apertavam nas salas. Hoje ficam um ou dois de plantão e os demais estão em casa cumprindo suas tarefas. Acabou-se o tempo do processo físico.
Para que vão servir esses enormes palácios agora?
Volto na próxima semana com mudanças que ocorrem na Alemanha.A Tagesschau publicou uma enquete interessante.