quarta-feira, 25 de novembro de 2020
BOULOS - TITO GUARNIERE
TITO GUARNIERE
BOULOS
Espero estar errado, mas acho que o futuro prefeito de São Paulo será Guilherme Boulos. O homem não regateia nas promessas de campanha: inclusão social, auxílio emergencial, concurso para substituir terceirizados, milagres de mobilidade urbana – passagem gratuita para gestantes, mulheres com criança de colo e estudantes – etc. e tal. Olhando na câmera, com o ar cerimonioso de quem acredita no que está dizendo, Boulos jura que vai inverter a lógica das elites que sempre governaram a capital de São Paulo – à exceção, é claro, do período em que a sua vice Luiza Erundina foi prefeita.
No outro lado está o atual prefeito Bruno Covas, contido, avesso a pirotecnias, escolado na prática da responsabilidade fiscal, que tem a cara dos tucanos do PSDB.
Em meio às incertezas e angústias da pandemia, é pouco provável que o eleitor paulistano prefira o discurso da seriedade fiscal, de não gastar mais do que a receita, face ao discurso do ganho imediato.
Charles de Gaulle, o estadista francês, dizia que "as promessas só comprometem aqueles que as recebem". Se Boulos vencer vai ser o azar de São Paulo. Fiel à tradição dos demagogos convictos, transmite a ideia de que os problemas da metrópole só não são resolvidos por falta de "vontade política". Passa a ideia de que antes dele (à exceção de Erundina) ninguém fez nada que não fosse para servir às elites locais. Apresenta soluções prontas, acabadas, que ditas de certa maneira, parecem fáceis, e só não são adotadas por pura maldade ou desídia dos governantes.
De esquerda, o candidato é adepto da crença esotérica de que os recursos públicos são elásticos, que sempre cabe um gasto novo, e que o orçamento é uma peça de decoração. Ignora olimpicamente a dura realidade: o cobertor é curto, as necessidades e demandas são ilimitadas e os recursos, dramaticamente finitos.
A solução de Boulos para o déficit colossal da previdência municipal de São Paulo (R$ 163 bilhões de reais) é uma miragem: nomear mais procuradores para cobrar a dívida ativa. Ora, os bilhões da dívida ativa são incobráveis: os devedores, em medida larga, são de empreendimentos que foram à lona, empresas que faliram e acumulam passivos milionários de tributos, obrigações trabalhistas e previdenciárias, e credores de toda ordem. É preciso ser razoavelmente ignorante ou mistificador para passar esse mico adiante.
As carteiras de dívidas ativas, impagáveis, só existem no papel, e não apenas em São Paulo, mas na União, estados e municípios. Boulos, levado a crer que viu o que os outros não foram capazes de ver, e que os governantes anteriores são rematados idiotas, não se pergunta porque eles não adotaram o plano, já que os recursos estavam ao alcance da mão.
A promessa do candidato de uma "renda cidadã" para os paulistanos pobres, se for cumprida, atrairá para a metrópole já saturada, poluída, caótica e ingovernável, magotes de novos imigrantes.
Leva anos para apurar os efeitos de um governo irresponsável do ponto de vista fiscal. E pior do que isso, leva décadas até o eleitor crédulo, que acredita em Papai Noel, descobrir que é ele mesmo quem – ao fim e ao cabo – sofre as consequências e paga a conta.
titoguarniere@hotmail.com
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