Esta preocupante realidade de que tu, bem a propósito,
falas foi historicamente construída. Para a maioria dos brasileiros
educação não tem um fim em si mesmo, falta-lhe a compreensão de que educação
deve formar integralmente o ser humano. Educação aqui no Brasil é antes vista
como um sacrifício, como um meio para se atingir um fim, como um emprego, por
exemplo. Se este fim não é alcançado, costuma-se compreender que todo o
“sacrifício” foi em vão. Ouço muito: “tudo que gastei com o curso foi pra
nada”. Ah, educação é gasto que se faz, não investimento em si próprio.
A isso se agrega a reforma de ensino de 1971,
promovida pelo regime militar. Lembras de quando nós frequentamos a
escola? Havia Admissão ao Ginásio, havia Ginásio técnico e Ginásio científico,
Segundo grau técnico e científico. Nós ainda somos frutos desse processo
educacional anterior à derrocada iniciada em 1971. Com a reforma foram
excluídos o latim e a filosofia dos currículos. O aprendizado de Línguas
estrangeiras foi considerado supérfluo (até hoje recebe este tratamento nas
escolas). Leitura foi considerada desnecessária, tanto que a redação foi
excluída do vestibular (reintroduzida mais tarde quando perceberam o estrago
feito). Desestimulando a leitura, não mais foi promovido o saudável
hábito da reflexão, a formação do juízo crítico. Com aquela
reforma, toda a formação humanística foi colocada no lixo; desaprendemos
o valor da vida, desaprendemos a ser éticos, desaprendemos tantos outros
valores substanciais para a vida em coletividade. Cidadania virou sinônimo de
direito, o sentido de dever foi se esvaecendo. E ainda há governos municipais
que promovem eventos para a formação cidadã que servem muito mais ao lazer (com
esportes e shows), do que à promoção da consciência cidadã, isto pude ainda
hoje constatar em meu jornal local.
Louvo também as palavras de nossa confrade Laís. Não
sabemos, nem queremos saber nada de Latim, nem nos importamos com nossa
língua oficial, que se dirá, então, de nossa diversidade linguística (uma das
maiores no planeta)! Simplesmente fazemos de conta que não existe.
P.S.: quanto à afirmação de Chico, de que a Bossa Nova
teria sido imposição das elites e o Funk seria fruto da democracia. Pergunto:
não seria antes fruto da televisão brasileira, formatadora de manadas?