CONVERSANDO COM UM VEREADOR SUÍÇO
(Prof. Altair Reinehr)
Pois lá já se vão quase 28 anos desde que
passei um final de semana de outubro de 1986 em casa da Família Bucher (Fritz e
Hanni), em Aezighofen, Meikirch, a 10 km de Berna, capital da Suíça. Eu era
estudante no Goethe-Institut em Munique, Alemanha e a minha família anfitriã
(Heinrich e Elfriede Seyfried) morava em Kolbermoor, a 60 km da capital bávara.
Como o transporte ferroviário é muito
eficiente naqueles países, é relativamente fácil vencer maiores distâncias em
tempo reduzido. E assim, viajei bastante naqueles 3 meses, que lá permaneci. O
motivo de ir à Suíça, era o de visitar dois ex-alunos - Roque Schwerz, de
Maravilha e Elson Wandscher de Bom Jesus do Oeste - que faziam estágio agrícola
naquele país.
Os dois estagiários brasileiros e Frau
Bucher - na hora e local marcado - estavam à minha espera na estação
férrea central de Berna. Cumprimentos, e, logo empreendemos viagem até a
propriedade rural dos Bucher, onde chegamos quando já era noite. A casa de
madeira fora construída há 189 anos...! A propriedade era de 20 hectares de
terra, na qual trabalhavam duas famílias... (...E ainda tinham em estagiário
estrangeiro...!)
Ao chegar à casa dos patrões de Roque Schwerz
- era numa sexta-feira à noite - o dono da casa, Herr Bucher, 72
anos, deu-me as boas vindas (Herzlich Willkommen), e disse que eu me
sentisse em casa e não me importasse pela saída dele, neste momento, pois ele
tinha um compromisso como vereador na "Gemeinderat" = Câmara
de Vereadores. Agradeci pela cordial recepção e o septuagenário "agricultor-vereador"
foi para onde o dever o chamava.
Dia seguinte, sábado, às 09:00 horas,
deixamos Aezighofen, e, num automóvel da família anfitriã - pilotado pela Sra.
Hanni Bucher - empreendemos uma "tournée" pela Suíça, passamdo
por Interlaken, Saint-Gotard Pass, Rhonne-Gletscher, Luzern e outros pontos
maravilhosos daquele pequeno país, localizado no coração da Europa, que no
mundo é visto como um exemplo de Paz, Democracia, de ordem e justiça social. .
Retornando já à noite, tive a oportunidade de
manter um prolongado "bate-papo" com Herr Bucher - um vereador
dos agricultores suíços, da comunidade de Aezighofen - Meikirch, que foi, para
mim, a mais notável "Aula-de-Democracia e Política", que
eu tive ao longo da minha vida. Pedi a ele que me desse, um suma, uma noção de
como funciona a Política e a Democracia em seu país.
Herr Bucher não teve papas na língua e
falou com segurança e convicção: "Na Suíça não há partidos políticos.
Os "...partidos...", que aqui existem, têm mais a função de
"grêmios", onde pessoas de profissões afins se encontram. Cada
categoria profissional tem o seu representante e é na sede do seu sindicato
(Gewerkschaft), onde tudo é decidido. Plebiscitos (Volks-Abstimmungen) são
muito comuns. Nós temos na Suíça uma "Democracia Participativa" e não
representativa...! O povo participa, diretamente das decisões. Os vereadores,
os deputados cantonais (estaduais) e os federais não são remunerados. Quando a
serviço da entidade, é o sindicato que os paga. E no seu retorno, devem dar um
"RETORNO" àqueles, que representam. O mandato dum parlamentar tem
"tempo máximo, não mínimo...!" E Herr Bucher continuou: "Eu
já sou vereador dos agricultores pela quarta vez aqui na comunidade. Da última
vez, fui à reunião do sindicato, não sabendo que a nossa cadeira na Câmara
Municipal estava vaga e voltei vereador eleito...! A minha esposa, Hanni, já
foi duas vezes vereadora pelas "Donas de Casa...!"
Herr Bucher também queria saber algo sobre o "sistema
democrático e político no Brasil...!" Falei. Ficou surpreso quando lhe
contei que um funcionário público, quando aceita concorrer a um cargo eletivo,
deve "licenciar-se 90 dias antes do pleito para tomar parte na 'campanha
política'...!" (= Wahlkampf, que ele não sabia o que era...) Expliquei
que é o período em que os candidatos vão ao encontro dos eleitores,
expondo-lhes o seu plano de trabalho e pedir o voto. Indignado, observou: "Sim,
e os eleitores não conhecem os candidatos...?! Não sabem do seu modo de
pensar...?! Não sabem do que os candidatos são capazes...?! E daí vão
importunar e molestar pessoas, durante o tempo de trabalho...?! Para quê
essa perda de tempo...?! E com ênfase, disse: "So ein Kerl würde
ich mit den Hunden jagen...!" (= Um cara desses eu botaria a correr com os
cachorros...!) (...E eu nem contei para Herr Bucher, que aqui também
há os "cabos eleitorais" e que nos períodos, que antecedem as
eleições, muitíssimos eleitores são acometidos por uma cíclica doença, que só é
curável com "favores e dinheiro de candidatos...!")
Na Suíça, sair a campo, pedir votos, molestar
eleitores em horário de trabalho ou de descanso, é algo inimaginável. É ofensa!
É desaforo! É coisa de lambaio desocupado...! E acho que até daria cadeia! De
lá para cá - 28 anos - algumas coisas lá também mudaram. Até via internet já é
possível votar... São as diferenças culturais...!!!
Sim, os suíços não gastam tempo, nem "$apato$"
numa eleição...!! O voto não é obrigatório, mas quem não vota, não
está participando das importantes decisões, e como tal, não tem direito a
reivindicar coisa alguma...! Isso é Democracia Participativa...! São as
diferenças políticas...!
Grato pela publicação, "na íntegra",
Prof. Altair Reinehr
(CPF: 033.467.499-91)
Rua Santa Catarina, 120
Fones: (0..49)3664-0156 e 8409-2931
89874-000 - Maravilha - SC