Disse um sábio, certo dia,
Falando em seus ancestrais,
Que aprendemos a ser filhos
Depois que já somos pais...
E disse ainda que a vida,
Que pulsa dentro de nós,
Só nos ensina a ser pais
Depois que somos avós.
É que o tempo, em seu galope,
Nos açoita, sem piedade,
Nos ensina que pecamos
Em face da mocidade...
Nos mostra que a vida inteira,
Provemos bens materiais,
Quando os filhos só nos querem
Por perto um pouquinho mais.
Por isso tenho, com os netos,
Tanta doçura e carinho,
E lhes entrego esse afeto
Que guardei, pelo caminho...
Então, quando eles afagam
Os meus cabelos tordilhos,
Eu esbanjo estes desvelos
Que “soneguei”aos meus filhos.
Queira Deus que haja tempo
De corrigir o que eu possa:
De dar um beijo num filho,
De afagar a filha moça...
De dizer, olho no olho,
Tanta palavra não dita,
E dar-lhes, ainda a tempo,
Minha ternura infinita.
Talvez meus filhos, bondosos,
Queiram me estender a mão
E me alcancem, generosos,
A graça do seu perdão...
E, assim, olhando esse apego,
Que tenho com os meus netinhos,
Compreendam e me desculpem
A falta dos meus carinhos
· Baseado em Texto de Affonso Romano de Sant’Anna