domingo, 1 de janeiro de 2012

MAIS UMA LIBERTAÇÃO

Creio que na maior parte dos casos tornamo-nos escravos ou porque queremos ou porque não nos damos conta de coisas essenciais.
Quando derrapamos para uma relação amorosa doentia e rancorosa, custamos a nos dar conta de que esse doentio realimenta nossa insanidade, de sorte que cada reatamento é um êxtase, seguido da repetição  óbvia das depressões.
Ao seguirmos a manada e comparecermos a " obrigações" sociais que nos desgostam e desgastam, esquecemos que a vida é nossa e que não perdemos nada recusando " programas de índio".
Nos últimos tempos venho me libertando de muitas amarras.
Uma delas, só para dar um exemplo, foi a cerveja. Um dia dei-me conta de que estava comprando um engradado a cada três dias. Isso não podia estar certo.
Muito simples,  coloquei todos os engradados na calçada e os dei a um carroceiro que passava. Nunca mais cheguei nem perto da loirinha gelada.Já vão oito anos e 20 quilos a menos.
Não vou a nada que comece depois de dez da noite. Que fazer: gosto da minha casa, amo dormir cedo, sou arredio a junção.
Aprendi a não me apegar a coisas materiais: não gosto mais do lugar?, me mudo; não me apraz mais a casa? passoa-a nos cobres.
Ontem estava eu no alpendre da casa da estância, contemplando o arrebol. Automaticamente eu havia colocado o canal 481 da Sky que toca música clássica.
Sempre fazia isso.
Maristela aproximou-se de mim com o controle remoto na mão e me disse, suavemente:
- posso desligar? vamos ouvir os passarinhos?
dei-me conta, num átimo, que eu era um desses abobados que  faz jogging mas tem que ter headphones enfiados nas orelhas; desses que tem que almoçar na frente da TV, sem falar com o filho ou a  mulher; desses que tem que estar dia e noite com um tablet, sem poder conversar.
Mesmo Mahler, Beethoven, Mozart, são dispensáveis no meio do mato. Não tem porque ter um som ligado.
Mais uma libertação minha. Aos poucos vou me liberando das muletas.
Como dizia o cara se afogando na rebentação:
- morrendo e aprendendo.