Defensora da natureza que sou, fiquei pasma com as notícias do tal galo de Capão Novo. Uma alcatéia de criaturas (só debochando, mesmo), as quais não têm o que fazer, decidiram reclamar do canto do galo ao alvorecer. E estão em férias!!! Bastava virar a cabeça para o outro lado e continuar dormindo, mas não, preferem chamar a polícia, reunir manifestantes, etc. São pessoas dotadas de personalidade querelante, sem dúvida.
Lembro a eles que, segundo a mitologia grega, o galo canta ao alvorecer por “castigo” do deus Marte, aquele da guerra. Ele era amante de Vênus, a deusa do amor, que era casada com o deus Hefestos, que trabalhava de madrugada, forjando raios para o deus Júpiter (senhor dos raios e trovões) lá na entrada dos infernos (vulcão Etna, na Itália). Enquanto os amantes refestelavam-se, o pobre marido trabalhava até o raiar do dia. Marte levava um jovem (Alektrion), que ficava na porta da alcova, para anunciar o raiar do dia. Um belo dia, Alectrion adormeceu e não cumpriu seu papel, propiciando aos amantes que fossem surpreendidos pelo marido traído. Marte, enfurecido, usou seus poderes e transformou Alektrion num galo, condenado a anunciar o alvorecer por toda a eternidade. Mas Marte não conhecia os veranistas de Capão Novo, neuróticos de doer!
Para eles, sugiro que ouçam a música “Luar do sertão”, de 1908, composta por Catulo da Paixão Cearense, especialmente os versos abaixo:
“Coisa mais bela neste mundo não existe
do que ouvir-se um galo triste no sertão, se faz luar
Parece até que a alma da lua é que descanta
escondida na garganta desse galo a soluçar”