quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

LAÍS LEGG E O GALO MÁRTIR DE CAPÃO NOVO


Defensora da natureza que sou, fiquei pasma com as notícias do tal galo de Capão Novo. Uma alcatéia de criaturas (só debochando, mesmo), as quais não têm o que fazer, decidiram reclamar do canto do galo ao alvorecer. E estão em férias!!! Bastava virar a cabeça para o outro lado e continuar dormindo, mas não, preferem chamar a polícia, reunir manifestantes, etc. São pessoas dotadas de personalidade querelante, sem dúvida.

Lembro a eles que, segundo a mitologia grega, o galo canta ao alvorecer por “castigo” do deus Marte, aquele da guerra. Ele era amante de Vênus, a deusa do amor, que era casada com o deus Hefestos, que trabalhava de madrugada, forjando raios para o deus Júpiter (senhor dos raios e trovões) lá na entrada dos infernos (vulcão Etna, na Itália). Enquanto os amantes refestelavam-se, o pobre marido trabalhava até o raiar do dia. Marte levava um jovem (Alektrion), que ficava na porta da alcova, para anunciar o raiar do dia. Um belo dia, Alectrion adormeceu e não cumpriu seu papel, propiciando aos amantes que fossem surpreendidos pelo marido traído. Marte, enfurecido, usou seus poderes e transformou Alektrion num galo, condenado a anunciar o alvorecer por toda a eternidade. Mas Marte não conhecia os veranistas de Capão Novo, neuróticos de doer!

Para eles, sugiro que ouçam a música “Luar do sertão”, de 1908, composta por Catulo da Paixão Cearense, especialmente os versos abaixo:

“Coisa mais bela neste mundo não existe

do que ouvir-se um galo triste no sertão, se faz luar

Parece até que a alma da lua é que descanta

escondida na garganta desse galo a soluçar”

( Lais Legg é psiquiatra e uma das mais atiladas comunicadoras de P. Alegre)