RUDOLF GENRO GESSINGER
Vocês
têm visto como está baixo o nível do futebol na Eurocopa? Até o fechamento desta
coluna (antes das semifinais), os quatro artilheiros possuem três gols cada,
sendo que foram marcados dez gols contra em toda competição. São jogos sem
muitas alternativas de jogadas de ataque e de defesas exageradamente abertas e
esculhambadas, como a da Itália.
Não
que a Copa América esteja enchendo os olhos, afinal historicamente não é o que
acontece. Nos jogos que terminaram empatados e foram para os tiros livres da
marca do pênalti, foi entregue alguma emoção ao espectador. Na disputa, os
goleiros perdedores também brilharam defendendo cobranças.
Na
Eurocopa, a prorrogação era só mais 30 minutos de suplício para quem jogava e
para quem assistia.
Esboçada
a caricatura, pintemos o fundo do quadro.
O
futebol, enquanto produto, deve(ria) ter como foco entregar entretenimento para
seu consumidor. Logicamente é importante vencer, mas não sacrificando o
espetáculo.
Não
ignoro que o futebol se tornou mais físico que nos anos 1980, por exemplo,
época marcada por times técnicos como a inesquecível Seleção Brasileira de
1982. Para dar espaço a uma musculatura presa para aguentar a carga de jogos,
saíram o drible, a técnica e o tempo de treinamento para cobrar uma falta com
perfeição.
Os
goleiros são os únicos jogadores com prerrogativa de serem atendidos pelos
médicos em campo, interrompendo a sequência da partida. Não é concebível,
entretanto, que a cada grande defesa o goleiro se contorça no gramado e chame
atendimento médico para “ganhar” tempo.
Circunstancialmente,
é uma estratégia para esfriar o ímpeto do adversário, mas usada com muita
frequência, só torna o jogo chato, picotado. Nenhum acréscimo devolve a
naturalidade do jogo, que os goleiros consomem fazendo cera.
Aliás,
será que não poderíamos repensar a extensão do jogo? E se fossem dois tempos de
trinta minutos ou três de vinte? Seria condizente com uma época em que
aceleramos tudo no mínimo para a velocidade 1.5.
No
basquete dá certo jogar em tempos curtos.
A
essência popular do futebol, que germinou e fez florescer o esporte, está há
tempo minguando.
A
começar pelos campos: é preciso uma organização semiprofissional para juntar
vinte e duas pessoas para jogar futebol de campo, em qualquer horário que seja.
Mesmo no Society é uma luta para fechar dois times, fora que não existem quadras
a menos de 10 reais por jogador.
Sem
a grama sintética que arrebenta joelhos e tornozelos, beach tennis e padel, por
exemplo, têm se mostrado mais atrativos para quem quer praticar um esporte no
tempo livre.