segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

OS QUE FICAM E OS QUE FOGEM - FRANKLIN CUNHA

 Os que ficam e os que fogem

 

Sócrates foi condenado à morte no ano de 339 A.C sob as acusações de perverter os jovens e de introduzir deuses diferentes daqueles do Estado. Seu amigo Criton insistia para que fugisse de Atenas e que fosse para Tebas, Tesália ou outro lugar e lhe dizia: "Em qualquer parte do mundo sempre serás querido e bem recebido". Sócrates, porém argumentava que os cidadãos celebraram um contrato para constituir um Estado e que se fugisse cometeria uma falta de lealdade política com o povo de Atenas.Sob essa premissa todo cidadão deve aceitar as decisões do Estado, mesmo que sejam contra seus interesses, mesmo que lhe pareçam injustas e até mesmo que esteja em jogo a própria vida.Sócrates percebia que colocar em risco a polis e a democracia ateniense era um ato tão ou mais injusto do que aquele que estavam cometendo contra ele. Para um cidadão ateniense o lógico era se submeter às leis da polis porque sem ela, ele não era nada. O fato de que naquele momento histórico a polis estava se debilitando e o princípio de unidade estava em crise, não debilita, mas reforça essa firme defesa da polis. Platão afirmava que insistir na unidade da polis mesmo quando fraturada é semelhante a quem insiste em se manter vivo apesar de estar em situação agônica.  

Franklin Cunha

Médico