quinta-feira, 2 de junho de 2022

UM POUCO SOBRE ANIMAIS

 Muitos anos atrás , estando sozinho, comprei uma casa em Ipanema, na Rua Flamengo, na zona sul de Porto Alegre. Decidi cercar todo o pátio, fiz um galinheiro, comprei uma galinha, um galo e vários pintinhos. De manhã cedo os tratava e depois ia ao Tribunal. Voltava ao fim da tarde,passava num mercadinho onde buscava restos de verduras, trocava a água e realimentava o bicharedo.

Perto de  mim morava um casal bem velhinho, do qual fiquei muito amigo. Assim, quando eu queria pernoitar fora ou viajar, entregava as chaves ao seu Aureliano e à dona Mathilde.

Tratavam-me como filho. Às vezes seu Aureliano vinha na minha casa escondido para tomar uma ou duas cervejas comigo. Dona Mathilde se irritava pois sentia o bafo do seu marido.

Eu tinha uma empregada que cuidava da minha casa, limpava o pátio , enfim era bem zelosa. Chama-se Zaida. Ficava só um turno. O marido era pedreiro.

Certo dia ela, querendo me agradar, passou um veneno onde as galinhas dormiam.

Um dia depois começou a tragédia: as penosas foram morrendo com a cabeça e a crista bem escuras . Só sobraram o galo e uma pintinha. Incrível, o galo assumiu o lugar da choca e passou a cuidar da órfã. Mas também ele foi ficando com a crista azul e morreu.

Peguei meu carro e  levei a pintinha sobrevivente para a casa de minha mãe em Santa Cruz que, como vocês devem ter lido aqui na Gazeta, criava galinhas em seu pátio a duas quadras da Catedral.

Dona Ludmilla adotou a pintinha, que se transformou numa bela galinha, que namorou, teve pintinhos e nunca tivemos coragem de a matar. Acabou falecendo de morte natural.

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Só voltei a lidar com galinhas depois que comprei a fazenda em consórcio com minha mulher Maristela, também apaixonada por tudo quanto era  ser vivo. Vejo mais claro agora como leva tempo recuperar a fauna em caso de destruição.

Realmente: anos atrás  em nossos matos começaram a aparecer bugios mortos. Foi tamanha a mortandade que nossa família e todos os peões fomos nos  vacinar contra a febre amarela.

Já se passaram vários anos e até hoje é raro o aparecimento desses simpáticos animais. Calculo que os raros que existem vieram migrando de outras localidades distantes.

Mas o pior aconteceu por falta de esclarecimento. Eu mesmo ouvi, na fila de vacinação, várias pessoas dizendo que iam matar todos os bugios “ porque eles trouxeram a febre amarela”, quando na verdade eles serviram de alerta da doença.

A  fauna está caminhando em passos irreversíveis para o indesejável.. 

É demais a sujeira do “ homo burraldus”  e a troca das noites pelos dias.