Santa Cruz teve a ventura de receber imigrantes muito valentes e trabalhadores. Fé, cultura e trabalho, era seu lema . Na nossa região as pessoas eram muito religiosas, sendo fundamentais escolas e igrejas. A cerimônia, as galas, a contrição, a seriedade eram vividas na Semana Santa.
Nesses dias celebravam-se cultos, com nossa catedral Gótica de luto pesado, para tudo florescer de júbilo no domingo de Aleluia.
Eu acompanhava tudo isso como quem assiste a um espetáculo, prendendo a respiração e muito condoído pelo suplício a que foi submetido Jesus Cristo.
No domingo de aleluia revezavam-se os corais nas Igrejas. E Santa Cruz tinha muitos deles.
E a Hallelujah de Haendel inundava de glória nossos espíritos. Isso me marcou pelo resto da vida.
Mas meus avós não chegaram a viver para presenciar o que agora acontece.
Hoje a coisa virou, em quase todo país, um banquete pantagruélico de comilanças, enquanto o pobre sofre o jugo da crendice inocente.
Uns comem lagosta a “thermidor” e outros são obrigados a comprar uma lata de sardinha.
De minha parte me recolho na fazenda, faço minha galinha com arroz e dispenso a peonada. Eles têm suas crenças que tem que ser respeitadas. Do que não gosto é que, por mais que tenha pesquisado, jamais vi onde está escrito que na sexta feira santa o pobre tem que gastar o que não pode, ou que seja “ obrigatório” comer peixe.
Vou repetir o lugar comum: éramos felizes, mas não sabíamos avaliar o quanto.
Penso ser fundamental conhecer e reconhecer as feras que nos habitam.
A Humanidade sempre teve, aqui e acolá, a salutar prática de a pessoa se retirar, de tempos em tempos, para pensar, meditar, refletir. Para tanto, o isolamento não era difícil, a população era mais rarefeita do que hoje.
De muito me serviram os chamados "retiros espirituais", em que ficávamos recolhidos às vezes por três dias, conversando só o necessário, apenas lendo, meditando e ouvindo palestras.
O "retiro", com o distanciamento, faz com que possamos ver melhor a pequenez do que no aturdimento nos pareceu grande.
Gosto muito de, vez por outra, quando fico inquieto, me recolher um pouco. Pode ser em qualquer das habitações, conquanto a fazenda em Unistalda seja o melhor lugar. Primeira providência: desligar o celular. A seguir, não ligar o som.
E então respirar o ar puro e abraçar até as árvores, como me ensinou minha irmã Lia.
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Cumprimento meu amigo Claudio Spengler pelo lançamento de seu novo livro “ O sentido da vida” em parceria com Enio Medeiros.