Eu ainda peguei, como juiz, a época da redução a termo através da máquina de escrever Remington. Muito cuidado para colocar sob a folha de papel uma de carbono, para obter uma cópia.As prateleiras estavam repletas de processos já findos. Mas não se permitia , de jeito nenhum, incinerar ou mandar dar outro fim para essa papelama.Nas audiências tinham que ser reduzidos a termo os depoimentos. Depois vinha a conferência, sempre alguém alegando que não fora isso que o depoente dissera.
Gravar a audiência, nem pensar, mesmo porque ainda não havia tecnologia adequada.
Nos estabelecimentos bancários havia centenas de escriturários. O dinheiro dos correntistas era lançado numa grande folha , onde eram registradas as saídas e ingressos.
Muito se usava o cheque.
Quando eu era criança eu fui uma ou duas vezes com meus pais votar no centro de Santa Cruz. Havia horrores de folhetinhos no chão com o nome dos candidatos. Meu pai era do partido do Norberto Schmidt e a mãe votava pelo partido do Euclides Kliemann. Era tudo num papelzinho.Diziam,na época, que era um problema as contagens dos votos.
Quando ainda havia o voto físico,eu era juiz eleitoral. A Unisinos engatinhava com a informática. Me reuni com alguns próceres e bolamos uma maneira de totalizar rapidamente os votos. A contagem era nas mesas, que forneciam o boletim, o qual ia para o computador.
Eu sempre ouvira que as urnas não podiam dormir sozinhas. Que durante a madrugada poderia haver uma “ insônia”.
Ora, a lei dizia que as apurações deveriam iniciar no dia seguinte ao da eleição. Bueno, conclui que no primeiro minuto seguinte ao do dia da eleição era lícito iniciar a contagem.
Foi o que fiz. Convoquei os mesários e abri as urnas no primeiro minuto depois da meia noite, com fiscais dos partidos e a imprensa.
O presidente do TRE não gostou. Mas fui em frente, pois houvera a concordância de todos partidos e do M.P. Horas depois estava tudo resolvido e proclamados os resultados.
Como presentinho o TRE se reuniu e me aplicou a pena de Censura. Amigos pediram para eu recorrer. Declinei porque nada de grave aconteceu.Não se anulou nada.
Levei algumas “caronas” nas promoções.
Mas a grande vitória de todos nós, como magistrados e cidadãos, foi o advento das urnas eletrônicas. O que alguns mal informados estão querendo fazer é tornar a votação insegura, mais complicada.
E querem voltar ao voto com papel? De novo com dias e dias para a apuração?
Tomara que não se complique um sistema que funciona muito bem. Papel é retrocesso.
Espera-se prudência por parte dos congressistas.