Sob o domínio da incerteza
A adolescência e a juventude são períodos no qual a convivência pública toma o lugar - ainda que não totalmente - das relações familiares. São os novos grupos de relacionamento, experiências e descobertas. Além de ampliar as perspectivas pessoais, trata-se essencialmente da constituição do sujeito e sua aceitação social.
Entretanto, não é o que estamos vendo. Um número cada vez maior de
jovens promove um estreitamento de suas relações e dos espaços passíveis de
ocupação e circulação.
Os mais frágeis e suscetíveis à “competição social” desenvolvem
formas de isolamento, gerando preocupações clínicas aos pais. Trata-se de uma
resposta racional e biológica ao “mundo” herdado, “um mundo” decadente, onde
não é (mais) possível viver (mais).
Pesquisas confirmam o que já sabíamos no dia-a-dia, nas notícias
de jornal, nas filas do desemprego, etc..., isto é, a dificuldade de ascensão
social. A mobilidade social – ascender(subir) de uma classe social para outra
de nível superior – está relacionada à questão educacional e ao (des)emprego.
O quadro é perturbador porque está associado à incerteza que recai
sobre o futuro da juventude. O desemprego provoca o que os cientistas sociais
chama de “transversalidade”: a experiência com a polícia/trabalho/desemprego.
Somos uma sociedade gravemente doente. Criminalidade, violência e
desorganização social são as evidências. Proliferam novas formas de dominação,
há um crescimento dos sentimentos de medo e insegurança, há o estímulo de uma
“cultura do excesso”, etc...
São fatores que afetam negativamente a organização social e
comprometem a comunidade. Consequentemente, alimentamos conflitos e
discriminações assentadas em classes sociais, em questões de gênero, raciais,
religiosas, tocante à opção sexual, ao estilo de vida, às idéias regionais e ao
comportamento.
Não é à toa que crescem certas seitas e religiões que oferecem aos jovens uma nova ideologia, uma espiritualidade, uma identidade, uma opção de inclusão social.
E como tudo pode piorar, aqui estamos em meio a um processo político-eleitoral completamente contaminado e doentio, sob circunstâncias em que qualquer afirmação e tentativa de diálogo é distorcida. Até mesmo por históricos amigos!
O que deveria ser uma oportunidade e “janela” para reflexões positivas, construtivas e esperançosas têm-se transformado num vendaval de infâmias e ofensas.
O momento faz lembrar o querido e saudoso professor Oscar Hentscke que seguidamente repetia em sala de aula o popular ditado: em casa que falta pão e educação, todo mundo grita e ninguém tem razão!