POR TITO
GUARNIERE
JOAQUIM
BARBOSA
O
ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa desistiu da candidatura presidencial.
Ainda bem, digo eu, pois pelas primeiras pesquisas ele corria o risco de
vencer.
Dizem que
os políticos são espertos, e são mesmo. Mas não tanto quanto se imagina. Vejam
o PSB. É preciso ignorar os fatos, fingir que não viram, passar por cima dos
detalhes mais estridentes, para se iludir com uma candidatura como a de
Barbosa.
Não é que
ele seja um outsider da política. Ele é um outsider de tudo, incapaz de
conviver no âmbito plural e multifacetado de uma agremiação coletiva (partido,
governo), de ouvir outros componentes da equipe, de decidir em conjunto, de
administrar as múltiplas ambições, as justas pretensões - e as injustas -, e os
conflitos naturais de uma convivência necessária. Tudo isso é a política e bem
olhado, a vida.
Só os
dirigentes do PSB - um partido importante- não observaram que Barbosa é um
homem de talento, decerto, mas que se atribui uma nota muito superior à que ele
de fato merece. Vaidoso, irascível, temperamental, impaciente: tudo do que um
político, um dirigente de Estado, não precisa, não pode nem deve ser.
Não
resistiu nem aos breves momentos em que prevalecem as expectativas otimistas,
quando o líder é recebido no partido de braços abertos, recebe todas as
homenagens, tudo é sorriso e festa.
Diz-se que
ele não aguentou o patamar raso das primeiras conversas, o baixo nível dos seus
interlocutores e logo arrepiou. Do jeito que ele é, não deve ter saído triste.
Afinal, durante algumas semanas seu nome ocupou as manchetes da sucessão
presidencial, alcançou índices promissores nas pesquisas eleitorais: estava no
jogo. Fez um breve passeio por uma hipótese que deve ter inflado ainda mais o
ego exuberante. E daqui para a frente poderá viver com a sensação de que
poderia ter sido presidente e só não foi porque não quis.
Ninguém
soube, ninguém viu, um sinal claro do que ele iria fazer na presidência, a não
ser um conjunto mal ajambrado de ideias soltas, algumas delas nem sequer
compatíveis entre si. Barbosa entrou no jogo como uma esfinge e saiu dele como
uma incógnita. Não foi por mal. Ele apenas não tinha a menor ideia.
À saída,
mencionou dois riscos para o país: Temer e Bolsonaro. Cá para nós, nem
paranoico de carteirinha ousaria prever um golpe de Temer. E Bolsonaro, um
risco? Se Barbosa acredita nisso - e ele pode ter razão - , então, do alto de
sua superioridade moral, deveria permanecer no páreo para combater a ameaça.
Que ninguém
se iluda. Rejeitem-se os políticos - rejeição que eles em geral bem merecem -,
mas é com eles que se fará a eleição, são eles que vão dar as cartas e um deles
será o vencedor. Pode não ser bom, como muitos acham. Mas não há nenhuma razão
para crer que a eleição de uma "novidade" seja melhor. Política é
coisa muito complicada. Leva-se anos para aprender. É uma ciência e uma arte,
para o bem e para o mal. Neófitos batem cabeça, se enroscam nos próprios pés e,
bem, como todos sabem, nada está tão mal que não possa ficar pior.