(José Nedel)
Não há na vida uma alegria pura,
Um laivo de tristeza sempre a embaça.
O bem e o mal aqui vão de mistura.
Onde a pureza íntegra e sem jaça?
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Uma espada de Dâmocles ameaça.
Sobre a existência paira e, assim, tortura.
Se bem que festa lauta a gente faça,
Não rende mais que pálida ventura.
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No carnaval até a alegria é ficta.
Disso não falta gente boa convicta.
Desmentido não tive ainda um só.
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Todo mundo, como eu, festejos preza.
Porém, no fundo, neles jaz tristeza,
Pois tudo acaba em “lembra-te: és pó”.
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... pulvis es et in pulverem reverteris - ... és pó e ao pó voltarás (Gn 3, 19)