João Baptista Herkenhoff
O
projeto de escolas destinadas a formar jovens para exames vestibulares revela e
denuncia um projeto de sociedade do qual se extirpou uma visão universal da
vida.
As escolas para vestibular são sintoma de uma organização social que perdeu os
referenciais justificadores de nossa passagem por este mundo.
Aboliu-se a educação humanística, que era a inspiração dos antigos ginásios. A
formação escolar não é mais lastreada pelo objetivo de abrir horizontes,
desenvolver o espírito crítico, favorecer a criatividade, apostar na dúvida,
pois que a dúvida é o grande caminho do pensamento. Não se lêem mais, com o
devido realce e interesse, as grandes obras da Literatura Brasileira e
Universal, mas resumos dessas obras, porque em exames vestibulares o que conta
é saber marcar “x” na opção apontada como correta. Os resumos dão conta desse
recado. É possível o candidato alcançar nota máxima numa prova de Literatura,
sem jamais ter lido uma obra literária integralmente.
Não se formam mais
jovens que encontrem seu papel no mundo, independente de eventual aprovação em
exames vestibulares.
Mesmo quando se
estuda Filosofia, em tais escolas, não se pretende com esse ensino preparar a
mente do jovem para o questionamento porque o questionamento não cabe em exames
vestibulares. O ensino da Filosofia é dirigido para o enquadramento.
Jamais saberão pensar
com independência, grandeza e senso ético jovens egressos de escolas para
vestibular, a menos que esses jovens encontrem em outros espaços sociais a
oportunidade que tais escolas lhes negaram.
A fixação em exames vestibulares é tão grande que escolas circunscritas a esse
papel chegam a disputar a concorrência com suas congêneres apresentando cifras
de aprovação. Quando conquistam para suas clientelas colocações em “primeiro
lugar” nas provas, toda uma massa publicitária exalta o feito.
Jovens aprovados em primeiro lugar serão, necessariamente, os melhores
profissionais no futuro?
Ou ampliando a
indagação: jovens campeões serão os mais felizes, os mais integrados, ou se
despedaçarão em conflitos e frustrações porque aprenderam a supor que nossa
existência é uma corrida de Fórmula Um?
Não se trata apenas de questionar as “escolas para vestibular”. Atrás dessa
questão visível há um debate muito mais importante e profundo.
A que se destina a
educação? Quais são as finalidades de uma escola? Que diretrizes deveremos
propor aos jovens para que lhes sirvam como itinerário da existência? O grande
valor que deve alimentar nossas vidas particulares e a vida das sociedades é a
competição ou a cooperação?
Trata-se de matéria
para longas discussões. Este texto apenas propõe quesitos elementares que
suponho sejam úteis à reflexão.
João Baptista Herkenhoff, 79 anos,
magistrado aposentado, Livre Docente da Universidade Federal do Espírito
Santo. Autor de: Curso de Direitos Humanos (Editora
Santuário, 2011).
E-mail: jbpherkenhoff@gmail.com
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