Nos anos 80 eu andava numa fase de muito estudo, até andei
no Max Planck Institut em Freiburg, fazia Mestrado e andei me
entretendo bastante com a Filosofia , basicamente a do Direito.
Caiu-me nas mãos o livro de Karel Kosik, tcheco já falecido,
chamado “ A dialética do Concreto”.
Kosik professava, em resumo, que o processo de conhecimento
visa a transcender a aparência dos fenômenos, para que bem se compreenda a
realidade em si. A complexidade dos fenômenos faria com que vivêssemos no mundo
da” pseudoconcreticidade”.
Vemos um homem sobre um pedaço de campo. O que é ele?
Proprietário? Possuidor? Detentor? Esbulhador? Fâmulo da posse? Para se ver que
esses entes – posse, etc, são ontologicamente distintos, mas podem externar
fenômenos símiles. O fenômeno, a aparência exterior, pode enganar.
Ok, chega de Filosofia.
No meu tempo de “ primário” no São Luiz, dois alunos se
revezavam tirando o 1º. Lugar: o Telmo Kirst e Rui Sulzbacher. Rui foi meu
amigo de infância, de adolescência e o é até hoje. Formamo-nos juntos na UFRGS,
advogamos juntos, ele é Procurador da República aposentado e mora em
Florianópolis. Eu sou o Ruyzão; ele, o Ruizinho.
Mas, como eu ia dizendo, eles tiravam os primeiros lugares e
eu, que tinha coisas mais importantes para fazer do que caprichar nos deveres
de casa, como caçar passarinhos e jogar bolita, tirava do 30º. Lugar para trás.
Ocorre que sou muito mais comunicativo e falante do
que o Sulzbacher, que é introspectivo, tímido, sisudo, tanto que hoje mora no
meio do mato.
Esses dias tivemos uma confraternização em Salvador do Sul
de ex seminaristas do Colégio Santo Inácio . Vinham todos meus
antigos colegas me cumprimentar:
- bah! Ruyzão, sempre foste o melhor aluno, junto com o
Telmo! Coisa natural que foste bem na vida!
Ao que eu redarguia:
Que nada, eu era um dos piores, o bom era o Ruizinho, o
Sulzbacher!
- Que nada, diziam todos, em coro. És muito modesto.
Quer dizer:, o que importa é o fenômeno, ou ainda, “
não me contem os fatos; contem-me a versão”.
Enfim, o futuro modificou o passado.
Apaguem-se os registros: os bons do Colégio São Luiz éramos
o Telmo e eu.
E fim de papo.
Mas que Kosik tinha razão, tinha.....