quinta-feira, 14 de março de 2013

QUANDO O FUTURO MUDA O PASSADO


 

 

Nos anos 80 eu andava numa fase de muito estudo, até andei no Max Planck Institut em   Freiburg, fazia Mestrado e andei me entretendo bastante com a Filosofia , basicamente a do Direito.

Caiu-me nas mãos o livro de Karel Kosik, tcheco já falecido, chamado “ A dialética do Concreto”.

Kosik professava, em resumo, que o processo de conhecimento visa a transcender a aparência dos fenômenos, para que bem se compreenda a realidade em si. A complexidade dos fenômenos faria com que vivêssemos no mundo da” pseudoconcreticidade”.   

Vemos um homem sobre um pedaço de campo. O que é ele? Proprietário? Possuidor? Detentor? Esbulhador? Fâmulo da posse? Para se ver que esses entes – posse, etc, são ontologicamente distintos, mas podem externar fenômenos símiles. O fenômeno, a aparência exterior, pode enganar.

Ok, chega de Filosofia.

No meu tempo de “ primário” no São Luiz, dois alunos se revezavam tirando o 1º. Lugar: o Telmo Kirst e Rui Sulzbacher. Rui foi meu amigo de infância, de adolescência e o é até hoje. Formamo-nos juntos na UFRGS, advogamos juntos, ele é Procurador da República aposentado e mora em Florianópolis. Eu sou o Ruyzão; ele, o Ruizinho.

Mas, como eu ia dizendo, eles tiravam os primeiros lugares e eu, que tinha coisas mais importantes para fazer do que caprichar nos deveres de casa, como caçar passarinhos e jogar bolita, tirava do 30º. Lugar para trás.

Ocorre que sou muito mais  comunicativo e falante do que o Sulzbacher, que é introspectivo, tímido, sisudo, tanto que hoje mora no meio do mato.

Esses dias tivemos uma confraternização em Salvador do Sul de ex seminaristas do Colégio Santo  Inácio . Vinham todos meus  antigos colegas me cumprimentar:

- bah! Ruyzão, sempre foste o melhor aluno, junto com o Telmo! Coisa natural que foste bem na vida!

Ao que eu redarguia:

Que nada, eu era um dos piores, o bom era o Ruizinho, o Sulzbacher!

- Que nada, diziam todos, em coro. És muito modesto.

Quer dizer:, o que importa é o fenômeno, ou ainda, “  não me contem os fatos; contem-me a versão”.

Enfim, o futuro modificou o passado.

Apaguem-se os registros: os bons do Colégio São Luiz éramos o Telmo e eu.

E fim de papo.

Mas que Kosik tinha razão, tinha.....