Não deixa de ser interessante a semelhança desses técnicos de futebol e seus destinos quando o fracasso lhes aponta a porta da rua dos clubes por onde passaram. No caso de Dunga, o maior clube de todos – a seleção. O mesmo vale para Mano Menezes já com meio corpo fora da casa.
A semelhança entre eles, no entanto, é homogênea. Todos foram contratados para uma missão que se torna cada vez mais complexa no universo estelar dos jogadores-milionários e desprovidos daquilo que um dia era a razão dos boleiros: o amor à camiseta.
Foi-se o tempo dos treinadores que eram respeitados dentro do vestiário e nas preleções que antecediam os jogos. Quem ousaria discutir com o velho Tetê, ou com Flávio Costa, Aimoré Moreira, Foguinho, Enio Andrade, Yustrich, Telê Santana, Carlos Froner, Zagalo, Claudio Coutinho, João Saldanha e tantos outros agora esquecidos pelo colunista?
A chamada evolução do futebol nos levou fatalmente às crises constantes de treinadores que passam rapidamente pelos clubes quando deixam de “controlar o vestiário” e são boicotados por “lideranças” entre os jogadores. Os altos salários – todos absurdos, sem distinção – aliados aos interesses comerciais e ao misterioso conluio entre alguns dirigentes e empresários transformaram a paixão dos brasileiros apenas num grande negócio.
Numa outra época, o vexame de ontem – quatro penalidades máximas perdidas numa decisão – provocaria uma onda de vergonha verdadeira nos jogadores que vestiram a camiseta verde-amarela. O que se viu ontem? Explicações toscas e primárias do treinador e dos “craques” que deram entrevistas.
Falcão, Renato, Dunga e Mano, todos “gente boa”, de certa maneira não estavam preparados para os desafios que exigiram deles. Falcão e Renato porque foram treinar clubes que são rivais históricos e que não podiam perder para ninguém. Dunga e Mano porque tinham como missão manter a seleção no pódio das melhores para manter os contratos comerciais milionários da CBF.
Falcão e Renato deixaram Inter e Grêmio sem a simpatia dos respectivos presidentes, mesmo sendo ídolos de suas torcidas e com as demissões contrariadas por elas. Futebol hoje é puro business. O torcedor é apenas um elo frágil nesse mundo perigoso e rico de cartolas, jogadores milionários e empresários ávidos por novos contratos.
Dizem que treinador bom é aquele que é temido e respeitado. Verdade para outros tempos do futebol. Hoje, o jogador-milionário está se lixando para preleções, multas e banco dos reservas. A hierarquia se derrete na preleção quando o infrator tem dezenas de milhões no banco. Jogador-celebridade dá mais valor hoje ao seu cabeleireiro e ao vendedor da loja de grifes do que ao conselho e à admoestação do treinador. Neste contexto atual a vida dos treinadores estará sempre por um fio. É mais fácil demitir um treinador que um craque tatuado e com gel no cabelo. Dirigente “moderno”, para se manter no cargo, tem sempre o treinador na sua lista de demissão.