quinta-feira, 8 de julho de 2021

A BOA FÉ ESCAMOTEADA

 Pela repercussão que teve minha crônica sobre o Mio-Mio, oportunamente versarei sobre os danos que a planta Maria-Mole,( Senecio Brasiliensis Lees) uma flor amarela, faz no gado . Também medra em muitas regiões. É um perigo para os animais.

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Quando fui promovido da Comarca de Arroio do Meio para Santiago, passei a me adaptar a um outro mundo. Arroio do Meio era um lugar pacato, quase não havia problemas. Eu brincava com meus amigos: o que estou fazendo aqui se todo mundo paga suas contas e ninguém briga com ninguém?

Ao chegar em Santiago, cidade bem linda, com pessoas afáveis, a comarca  estava sem juiz há dois anos. Então me deparei com pilhas de processos esperando andamento.

Na época em Santiago havia poucos advogados. Todos, porém, muito preparados. 

Me deparei com processos que tratavam de matérias com as quais nunca havia me defrontado: problemas de posse, de propriedade, de detenção, de limites territoriais.

Por sorte havia me preparado sobre essas matérias. Mas, como todos sabemos, uma coisa é a teoria; outra, a prática.

Quando ouvia uma testemunha, ela falava um linguajar  “sui generis”. O maior exemplo é a pelagem dos equinos! Eu brincava com os amigos que, para saber qual era a pelagem de determinada égua ou cavalo, era necessário um estudo de 20 anos. 

Enfim, passei a visitar fazendas. E ali nasceu minha vontade de um dia ter uma propriedade rural.

O homem do campo é muito educado, apesar de alguma rusticidade por vezes. Me encantava como eram gentis com a esposa e os filhos.

Todavia, muitos não sabiam dizer não. Às vezes pessoas pediam uma novilhas emprestadas para um rodeio. Resultado, elas  voltavam estropiadas. 

Agora vem o pior. Exatamente o que os jornais estamparam nesses dias.  Compradores de gado visitavam fazendas, pediram um prazo , pagaram pequenos lotes, que foram aumentando para, ao fim e ao cabo, se dar o calote.

Sucede que o campeiro é muito reservado, acredita na boa fé, tem vergonha de negar prazo para o comprador.

Quando eu comecei com a pecuária fiz uma promessa a mim mesmo. Teria gado de qualidade, estabeleceria preços convidativos , mas meu gado não sairia da porteira antes de o valor estar na minha conta bancária.  

O golpe é simples. O "comprador" vai a uma pequena fazenda e compra 12 reses   a vista, em dinheiro vivo. Sai dali e as vende. Com esse dinheiro vai impressionando outros de  como é “ honesto”. Depois pede a todos  um prazo para o pagamento das novas reses. E some, ficando o estancieiro sem mel nem porongo.