quinta-feira, 28 de março de 2019

REPERCUSSÕES SOBRE OS CUSCOS DO DR. FRANKLIN

ROSANE DE OLIVEIRA


Que bela forma de começar o dia, meus caros! Estou me sentindo mais rica nesta manhã. E não é só porque gosto de perros, mas porque um bom texto é capaz de iluminar meu dia. 
Boa quinta-feira a todos! 
Obrigada, Ruy e Franklin. 
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DR. MARCELO AIQUEL
Quem não gosta de cães BOM SUJEITO NÃO É!
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DES. ELISEU TORRES


Costumo brincar com Vanessa, minha mulher e colega de trabalho. Digo a ela que qualquer dia desses, pelo menos uma de nossas duas yorkshires, irá falar. Chama-se Clicquot, por ter a cor da champagne francesa. Já tem idade provecta (13 anos), mas isso só vai acentuando suas virtudes. Assumiu voluntariamente o papel de minha guardiã. Passa o dia do eu lado, enquanto leio, trabalho ou simplesmente durmo uma sexta. Se amanheço com algum mal-estar, ela intui e sabe mais rapidamente do que eu mesmo, que não estou bem. Ai, não sai de meu lado e fica me observando com aquele olhar penetrante, como 
que perguntando se estou melhor..Se vou  ao banheiro ela fica na porta e quer em troca de seus cuidados apenas uma palavra de carinho e o meu afago. Agira, que a idade me tornou mais lento, desço a escada que vai para a parte de baixo do nosso apartamento, degrau por degrau, por cautela.Pois ela deu-se conta disso e também passou a descer na mesma velocidade que eu.  Sofro só em pensar em perde-la mais sei que isso será, um dia, inevitável. Sim, ela não consegue falar mas seus olhos falam por  ela. Temos tambem  a Crystal, que é pura alegria, mas dela falarei outro dia,  ElIseu
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NELSON WEDEKIN

Que legal !

Não sei como seria se os cães falassem como nós. No Brasil de hoje, uma parte estaria pedindo o Lula Livre, e a outra estaria distribuindo petardos contra o "marxismo cultural".
Mesmo asim, não sei se algum deles seguiria o guru da Virgínia, o Olavo de carvalho. Não suportaria a paranóia do bruxo, e nem os palavrões que ele costuma expelir.
De todo modo, caro Ruy, vou experimentar contar as histórias para o meu boxer Jobim, que é um cachorro manso, carinhoso, que adora crianças. Esse eu sei que não gosta da turma que hoje manda no Brasil.
Obrigado, caro amigo!

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DRA. EVA MÜLLER

carissimo amigo Ruy,

tu sabes da minha paixão por animais ,em especial os cães.A fidelidade deles é indiscutível.Já tive vários, mas o marcante mesmo foi o apolo um labrador que foi presente para o meu marido ,mas ele era meu companheiro para todas as atividades ,sempre me esperando com aquela alegria mesmo que eu me ausentasse alguns minutos de casa.
Meu filho costuma brincar e dizer que os cães que temos em casa um dia vão falar e eu com certeza infartarei de susto, pois entendem tudo .
E independente de como são tratados não abandonam  seus amigos e nem seu lar. Acompanhei por anos uma senhora idosa acumuladora de animais, a poucos dias adoeceu e tive que buscar seus fiéis amigos, que não deixavam ninguém entrar na casa pois estavam como guardiões do que tinha sobrado.
Abraços
Eva M.R. Müller
Médica Veterinária
CRMV/RS 5047
Coordenadora Centro de Controle de Zoonoses
Santiago

SOBRE CÃES - Franklin Cunha


QUANDO OS CACHORROS FALAM.

Franklin Cunha
Médico
Membro da Academia Rio-Grandense de Letras

No “Colóquio de los Perros“ uma das Novela Exemplares de Cervantes, lê-se a autobiografia do cachorro Berganza, que deitado à porta de um hospital de loucos,  teve  a oportunidade de observar a desgraça do matemático incapaz de descobrir a quadratura do círculo, a tristeza do poeta cujos sonetos ninguém editava e  o desespero do político que não tinha conseguido explicar ao Rei o  engenhoso projeto financeiro para dominar a inflação e  evitar a bancarrota da Espanha.
Na porta do hospital logo se instalou outro cão, Cipion que entre eles  conversavam e contavam suas aventuras nas ruas. Um alferes, hóspede do mesmo hospital, passou a ouvir as conversas dos dois cães e se admirava que eles eram mais sábios do que ele. Ao contar para um enfermeiro o que ouvira, este se negava a acreditar que cães falassem e muito menos dizer verdades tão desagradáveis sobre o reino da Espanha.
A sabedoria de Cervantes e seu amor pelos cães é revelada nessa história, obra de elogios e afetos a uma criatura de honestidade inquebrantável, olhos melancólicos, companheiro desde tempos imemoriais, cujos ossos já eram encontrados ao lado de ossos humanos quando o homem caminhava à procura de alimentos e seus companheiros de quatro patas os seguiam para comer o que sobrava.
Outras histórias caninas já se contam desde antes de Homero, cujo cão Argos foi a única criatura que reconheceu Ulisses  ao voltar para casa depois de vinte anos de ausência.

Uma das mais recentes no gênero da literatura fantástica é As Cidades Mortas “( na versão, portuguesa, Colecção Argonauta, edição Livros do Brasil, Lisboa) e “ Cidade “ (na edição brasileira), cujo autor é Cliford Simak, escritor norte-americano,  um dos maiores clássicos da literatura de ficção científica de todos os tempos.
No livro, Simak conta a história humana a partir do ponto de vista dos representantes da família Webster e de um robô. Foi um antepassado remoto dos Webster, quem primeiro ensinou um cão a falar. A partir daí, milênios vão se passando e Simak demonstra toda sua habilidade ao criar uma obra fantástica. Com grandes doses de imaginação o autor mostra como aos poucos, os cães – muito mais ponderados e pacifistas que o homem – se tornam a espécie dominante na Terra. Nele, seres caninos questionam se a espécie humana teria realmente existido e dele se tira uma lição moral, ética e uma coerente visão do futuro. E fica-se com a pergunta final: Será que o destrutivo ser humano merece continuar no comando da Terra com todas as atrocidades que não se cansa de cometer? Ou será que nosso planeta estaria em melhores mãos, se guiado por criaturas que dão mais valor ao amor e à amizade, como os cães”? Há uma outra deliciosa história de cães de autoria do tão criativamente divertido  como socialmente “corrosivo “. É de  Pitigrilli ( Dino Segre, 1893-1975).
Um dia, um cão de fina estirpe foge de casa e se encontra , à noite, debaixo de uma ponte com um vira-lata magro e sarnento. Conversam e o cão de bela e perfumada pelugem conta sua vida na casa burguesa onde nasceu  e foi criado.

- Agora não estou mais naquela casa. Consegui fugir.
- Que queres? Aquela casa não me agradava mais. Os seus hóspedes eram demasiados ricos, demasiado bons, queriam-me demasiado bem. Até me enfastiavam  e me irritavam  com o seu afeto sem medidas. Enfim, davam-me tudo o que eu queria. E o que não queria.
- Não sabes quanto se está mal na abastança.
— Deixavam-te lamber os pratos? pergunta o vira-lata.
— Isso não, diziam eles, porque é anti-higiênico deixar que os cães comam nos pratos do dono. Até contavam uma história de um cão que por ter lambido o prato onde comera uma senhorita de dezoito anos  de família distinta, pegou a sífilis.
Assim se contam três amenas histórias de cães quase humanos, nossos fieis amigos desde imemoráveis épocas da história humana.



!



terça-feira, 26 de março de 2019

PRA REFLETIR - TEXTO DE TITO GUARNIERE


TITO GUARNIERE

 

TROFÉU DA INSENSATEZ

 

Na semana que passou no Brasil tudo o que tinha de dar errado, deu. Se Deus é brasileiro, entrou de férias. Somos incapazes de concordar minimamente sobre o que é mais prioritário e urgente. Cada um tem sua receita e não abre mão dela.

 

Para começo, há dúvidas sobre se existe governo. Bolsonaro confirma a cada passo o que já era antes possível intuir: falta-lhe visão estratégica, capacidade de diálogo com a nação, conhecimento da política. Falta-lhe leitura e o dom da palavra. É homem de reduzidas habilidades. Só se faz entender pelos seus exaltados seguidores nas redes sociais. Não acresce um único aliado aos seus valores e propósitos, e perde rapidamente o capital político que angariou na eleição.

 

Bolsonaro já disse, mais de uma vez, que não veio para fazer, mas para desfazer o mal que veio antes dele. Pode dar certo um governo de ambição tão rala? É isso que ele pensa, que foi eleito para o desmantelamento, a desconstrução? O papo maçante do PT era o do “nós contra eles”. O de Bolsonaro é o mesmo, de mão trocada.

 

Em Brasília, a reforma da previdência está no caminho certo para o brejo. Partidos inteiros desertam do compromisso de apoiá-la. Não há reforma previdenciária sem perdas. Mas se ficar a impressão de que uma corporação - como a dos militares - receberá compensações e perderá menos, os políticos, com o seu aguçado senso de sobrevivência, terão a razão que falta para não votarem a reforma impopular.

 

De outro ponto da Esplanada, o ministro Sérgio Moro resolveu peitar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para que acelere o trâmite do seu pacote anticrime. O juiz pode expedir mandado de prisão, quebrar sigilo bancário, homologar acordo de delação, condenar réu no processo de sua alçada. Mas projetos de lei , para passarem no Congresso, pedem tenacidade, paciência, articulação política. Ninguém aprova leis pelos belos olhos de ministro de Estado.

 

Maia não é o meu deputado predileto, mas era tudo o que o governo tinha na articulação política. Ela agora está nas mãos de um punhado de neófitos voluntariosos.

 

Na mesma Praça dos Três Poderes, uma parte ponderável do Supremo Tribunal Federal está em conflito aberto com os procuradores da Lava Jato. Semana sim, outra também, estes últimos, diante das críticas mais banais, ou de qualquer decisão que os incomode, entoam o mantra de que “querem acabar com a Lava Jato”. Eles se têm na alta conta de únicos honestos e de último baluarte na luta contra a corrupção. A empáfia gera reações. A do STF é apenas uma delas.

 

Até mesmo a prisão de Temer vai engrossar a indisposição do MDB, de setores do PSDB e de outros partidos, para qualquer coisa que venha do governo.

 

Os poderes digladiam entre si, em embates gerais e pontuais: é tudo o que o Brasil não precisa nesta quadra errática da vida nacional. Haverá alguma voz disposta a trazer um pouco de luz, a propor uma trégua, necessária para que, de algum modo, nós possamos nos recompor? Ou vai continuar rodando assim o carroção pesado, de rodas enferrujadas, em que nos transformamos? No final, nos enfrentaremos todos para saber quem ganha o troféu da insensatez?

 


 

domingo, 17 de março de 2019

ÁGUAS DE MARÇO E OS CAMPEIROS







Lindas as cenas que ontem presenciei na agora plácida e calma Xangri Lá. Na praia quase deserta, com mar azul, sol radiante, apareceram jovens cavaleiros, alguns montados de em pelo, com suas montarias.
Vieram conhecer o mar, junto com seus cavalos e éguas.
Até um jovem casal, pilchado a preceito apareceu.

sexta-feira, 15 de março de 2019

AINDA SOBRE AS FALAS DE BOLSONARO

( J.F. Rogowski - Jurista e teólogo)
Sobre as excentricidades comportamentais de Jair Bolsonaro e filhos penso que vem agradando ao povo por variadas razões, embora por vezes nos assuste.

Particularmente eu preferia  ler no Twitter do Presidente Bolsonaro mais sobre projetos para tirar o país da crise.

O Brasil está enfermo, edemaciado pelo acúmulo de sujeira e corrupção ano após ano.

O povo tornou-se gado, mas não da raça  Ile de France bem  cuidado e sim uma boiada magra, perebenta, maltratada, refém de inúmeras estruturas cujo único objetivo é poder, dinheiro e dominação.

Somos dominados por uma burocracia perversa que comanda um Estado paquidérmico, socialmente inútil, que suga todos os nossos recursos em forma de impostos injustos onde os mais pobres pagam mais e os mais ricos pagam menos e não se tem retorno de nada.

A Tributação Injusta e Excessiva é Uma Forma Cruel de Dominação do Povo. https://t.co/9bBICxfmEE

Estamos aprisionados no interior de uma gigantesca maquina caça-níquel  sempre a espreita para nos tirar dinheiro, seja com multas de trânsito, pedágios, taxas e etc.

Em Portugal, um país com uma  economia tímida, sem grandes parques industriais, agronegócio inexpressivo, mas  com um povo maravilhoso e hospitaleiro,  quando  lá se vê uma rodovia magnífica que mais  parece um tapete de veludo preto com pedágio a 30 centavos (lá se diz cêntimos), uma bombona de 20 litros água mineral por 70 cêntimos, percebe-se  a monstruosidade que é o custo de vida no Brasil.

Todos deveriam viajar para países de primeiro mundo, especialmente os menos aquinhoados precisariam fazer um esforço e ir nem que fosse vez única na vida, porque somente quando  se sai daqui e se consegue olhar de fora é que se vê o tamanho da fossa séptica em que estamos metidos (ou fedidos ou f...).

Diante de um cenário de tamanha perplexidade, a nação acuada a com água batendo no pescoço, as  idiossincrasias do Presidente Jair Bolsonaro acabam tendo uma conotação positiva ainda que noutro contexto fossem reprováveis, porque esse comportamento incomum digamos assim, cria uma conexão com as massas populares que ao menos vislumbram algo diferente saindo  da mesmice,  dando a impressão que daqui a pouco o Messias Bolsonaro fará um gol de bicicleta e nos tirará dessa  caótica e triste realidade.

quinta-feira, 14 de março de 2019

MENSAGEM DE ROSANE DE OLIVEIRA A RESPEITO DE MINHA MAIS RECENTE POST


Caríssimo Ruy,

Como sempre, teu comentário é perspicaz e equilibrado. Tens a isenção necessária para criticar os erros do presidente. A ti ninguém poderá chamar de comunista nem te mandar pra Cuba ou pra Venezuela, como fazem os leitores comigo quando aponto o equívoco de dar foco a irrelevâncias ou de se deixar levar pelos arroubos dos rebentos.
Tenho certeza de que a tua intenção é colaborar, porque sabes (com o perdão pela metáfora surrada) que estamos todos em um transatlântico e a ninguém interessa que afunde. Sabemos muito bem que, se o navio afundar, não haverá bote para todo mundo. 
Eu gostaria de ver o presidente focado em questões relevantes, como a reforma da previdência, das quais o país depende para voltar a crescer. Siga nessa trilha. Acho que o presidente ganharia muito se chamasse pessoas como tu para umas duas horas de prosa. No poder, os homens (e mulheres) cercam-se de concordinos. Não sabem o quanto ganhariam se ouvissem vozes plurais, como disse o general Hamilton Mourão a propósito do caso Ilona Szabó. 

OVELHA NÃO É PARA MATO, SR. PRESIDENTE


Está causando perplexidade, em alguns setores da sociedade, o agir do presidente da república.
Na maioria das nações, principalmente as que aprendem com o passado, os governantes optam por comportamento discreto. A humanidade foi coletando, pelo andar dos séculos, normas, algumas consuetudinárias, outras legais, de comportamento, tanto  das autoridades como dos cidadão comuns.
É de bom alvitre,portanto, para todos nós, cuidar com o que se diz .Já antes de Cristo se dizia que “ se ficasses calado, passarias por filósofo ( Si tacuisses, philosophus mansisses).E não é por nada que os germânicos advertiam  que falar é prata, mas silenciar é ouro ( reden ist Silber, schweigen ist Gold). Não aconteceu já contigo, que me lês, que a todo passo alguém, mesmo decênios depois,traz a tona uma frase infeliz que proferiste? Daí o outro provérbio:” és o dono das palavras não ditas,mas escravo eterno das ditas”.
O nosso presidente criou constrangimento, pela falta de clareza, quando disse que só há democracia com aquiescência das Forças Armadas. No que ajudou essa afirmação? Teria sido um afago aos militares? era necessário expressar esse pensamento?
A publicação, pelas redes sociais, de uma irresignação sua por uma postura de gosto condenável durante o carnaval redundou no que? Resultou no fato de que aquele proceder, de pouquíssima repercussão, percorreu o país, teve manchetes até no exterior. Muitos mandatários de países adiantados devem ter se perguntado: mas será que no Brasil não há outras autoridades, em nível inferior ao presidente, para tomar conta desse incidente? Teria sido de bom gosto o próprio presidente ter reproduzido o ato que achou condenável?
Daí chegamos à outra assertiva: o pretor não cuida de coisas pequenas ( de minimis non curat praetor). Assim como não cabe ao juiz algemar o assaltante, não faz nenhum sentido o presidente se arvorar em guardião dos bons costumes.
Sinceramente penso que o presidente deveria trazer, para perto de si, pessoas que bem o aconselhassem. Cito como exemplo meu colega de bancos acadêmicos do Direito da Ufrgs Nelson Jobim, deputado federal,ministro do STF e seu presidente, ministro da defesa, advogado de escol. É desse padrão de conselheiros, não desdenhando os demais que o assessoram, que necessita Bolsonaro. Homens e mulheres experimentados, de uma vida inteira sem máculas, pessoas razoáveis e prudentes que possam ajudar a amenizar essa turbulência que está desnecessariamente ocorrendo. A saúde de que entrar em  áreas em que há controvérsias técnicas? Ovelha não é para mato.


sexta-feira, 8 de março de 2019

FUNERAIS LINGUÍSTICOS


Funerais linguísticos

Franklin Cunha
Médico
Membro da Academia Rio-Grandense de Letras
      
E quando a Divindade quer abater a arrogância dos homens  não necessita do raio nem da violência; basta que confunda a sua linguagem, que a unidade da língua seja abolida, e a torre cuja cúspide deveria tocar no céu torna-se uma ruína, como estigma da impotência humana.   
Walter Porzig
em “O Mundo Maravilhoso da Linguagem”.

René Etiemble, professor de literatura da Sorbonne, está empenhado há anos numa intensa luta  contra o perigo de descaracterização da língua francesa pela invasão incontrolável de palavras inglesas ou, pior, anglo- americanas. Em seu livro Parlez-vous franglais? editado há três décadas, ele se propõe a defender não apenas o idioma, mas a cultura e o modo de viver dos franceses. Não são apenas palavras de empréstimo que se insinuam no francês - diz Etiemble - mas trata-se de uma doença metastática que corrói a pronúncia, o léxico, a morfologia, a sintaxe e o estilo. E, segundo recente pesquisa, dois terços dos gauleses são favoráveis à instituição de uma terapêutica radical contra essa grave doença.
Há duzentos anos Rivarol afirmava: “O que não é claro não é francês”. Dessa boutade Etiemble não participa, pois sabe que nenhum idioma é auto-suficiente e nem pode dispensar verbetes alienígenas para permanecer fluidamente vivo e atualizado. Porém a admissão indiscriminada  de torrentes de palavras com grafia, pronúncia, forma e flexão completamente diversas da língua original pode prejudicá-la seriamente, embotando a criatividade linguística dos seus usuários e obstruindo as fontes genuínas de enriquecimento e renovação.
A linguagem é uma estrutura de grande complexidade, definidora da humanização do homem. O linguista Noam Chomsky afirma, e tanto  neuropsicólogos como  geneticistas confirmam, que a possibilidade da fala é uma condição adquirida in útero (“As crianças não aprendem a falar: já o sabem “). Cavalli-Sforza, outro linguista, diz que o ser humano nasce com a capacidade de apreender uma língua, o que o distingue das outras espécies animais, mesmo as mais vizinhas, possuidoras de meios de comunicação limitados. A linguagem é uma criação cultural, tornada possível graças a um substrato anatômico e neurológico complexo e único no reino animal. Afinal, ela foi o principal veículo transmissor de toda a cultura e garantiu a sobrevivência e a supremacia desse ramo de primatas ao qual pertencemos. E a maravilhosa diversidade de culturas criadas pelo homem através dos tempos, é que fez surgirem milhares de idiomas.
Se estes fossem apenas um meio técnico para o mero exercício do comércio internacional, haveria vantagens e nenhum prejuízo em falarmos todos a mesma língua.  O problema é que signos linguísticos diversos implicam em modos de pensar, de sentir e de interpretar o mundo, igualmente, diferenciados.
Esse é o sentido mais profundo de uma comunidade idiomática específica;  o de ter uma imagem e uma  visão peculiar do homem e do seu universo cósmico e mental. Por isso, quando uma língua se extingue, perdem-se milhares de anos de história do desenvolvimento cultural e da experiência psicobiossocial de todo um povo.
Se o desaparecimento das línguas prosseguir no ritmo atual, o futuro nos reservará  uma uniformização não só lingüística, mas cultural, ética, estética  e mesmo ideológica. E já se tornou um truísmo afirmar-se que na diversidade está a liberdade. 
Um exemplo ilustrativo de diversas e ricas articulações em línguas culturalmente muito próximas, oferecem as designações das várias espécies de relógios, nos idiomas alemão e francês. Em alemão, Taschenuhr é o relógio de bolso; Wanduhr o de parede; Turmuhr, o relógio da torre; Sonnenuhr, o de sol; Wasseruhr, o de água; Sanduhr, o de areia. Quer dizer, todos os instrumentos para medir o tempo estão, primeiro, designados sob o nome principal Uhr, hora, depois se distinguem por sua forma e maneira de funcionar. Essa distinção aumenta nossa compreensão sobre o objeto designado. O francês, diversa e caracteristicamente, coloca nesses utensílios de uso diário, mais interesse nas diferenças de forma do que nas de funcionamento. E, assim, os nomeia: montre, o relógio de bolso; pendule, o de parede; horloge, o da torre, cadran, o relógio de sol; clepsydre (lindíssima palavra !), o de água e sablier, o de areia.
Então, os diversos tipos de relógios desempenham entre os alemães exatamente o mesmo papel que entre os franceses, porém a concepção linguística é diferente, não apenas foneticamente como, também, pelo conteúdo, quer funcional, quer estético.
Se tais diferenças já se manifestam em objetos concretos e singelos, o que ocorrerá naqueles voláteis e complexos conceitos que expressam a mais alta elaboração do pensamento humano tais como o bem, o mal, a liberdade, os direitos individuais, a vida e todos os juízos de valor no seu mais amplo sentido? Pois bem; a comunidade idiomática se funda sobre a posse comum e consensual de um grande número de tais concepções e interpretações. E, precisamente porque essa concordância é sentida como natural e não como algo especial, os povos se unem mais fortemente pela  comunidade idiomática  do que por um discurso ideológico de qualquer origem. 
Muito se tem realçado o desaparecimento de etnias, de espécies animais, vegetais e de paisagens, mas pouca ou nenhuma atenção tem se dado às perdas linguísticas e ao papel essencial desempenhado pelos idiomas nas suas respectivas culturas. Para George Steiner, se os funerais linguísticos continuarem com a frequência atual, os seis mil idiomas hoje existentes, dentro de um a dois séculos serão reduzidos somente a uma centena ou menos. E, assim, perderemos um preciosíssimo acervo de nossa milenar e diversificada herança cultural que, na verdade, deu relevante contribuição para o atual estágio civilizatório.
A luta pela manutenção de variados idiomas e culturas talvez seja decisiva para a resistência à uniformização totalitária, não apenas linguística, mas de estilos de vida, de condutas éticas, de sensos estéticos e, enfim, da  liberdade de expressão e de pensamento.                      




   

           


terça-feira, 5 de março de 2019

MAIL DA PSIQUIATRA E COMUNICADORA LAIS LEGG


Pois eu sou do tempo que tínhamos aulas de música na escola, além de dança e canto orfeônico. E todas nós adorávamos. Quando chegávamos para a aula de música, a “ma soeur” Ruth Maria já tinha enchido o quadro-negro com as letras quilométricas da música que iríamos cantar. Lembro de “História triste de uma praieira” (“era meu lindo jangadeiro, de olhos da cor verde do mar, também como ele, traiçoeiro...”), “Camino  Verde”, “Guanabara linda”  e outras tantas.

Sabíamos o que era uma clave de sol, colcheia, semi-colcheia, etc. E também cantávamos na capela do colégio, cuja acústica deixava o nosso canto quase celestial. Cantávamos em latim!!! Lembro, até hoje, a letra de “Tantum ergo”  (“tantum ergo sacramentum veneremur cernui et antiquum documentum novo cedat ritui...”). Sabíamos que era de São Tomás de Aquino.

Assim, a música entrava pelas veias e artérias desde a tenra idade. Claro que as freiras tinham as suas objeções: rock and roll nem pensar! Elvis Presley era o demônio e, para desespero delas, vieram os Beatles, aqueles cabeludos de Liverpool. Imaginem se elas ouvissem as músicas de hoje ... teriam um piripaque.

A música consegue alterar, imediatamente, o humor de qualquer pessoa. É mais eficaz que qualquer fármaco. Assim, considero uma lástima que os concertos, as serenatas  e quaisquer outras manifestações artísticas estejam desaparecendo. Quem sabe voltando ao currículo escolar não melhore?