quinta-feira, 16 de maio de 2019

MINHA CASA, MEU CASTELO


O debate sobre armas está contaminado, em alguns círculos, por paixões, raciocínios viciados, pruridos moralistas, opiniões de quem vive em bolhas herméticas.Darei minha opinião sempre respeitando quem discorde.
Aos 22 anos cursei a Academia de Polícia e exerci o cargo de Delegado por dois anos. Advoguei por outros dois anos, assumi como magistrado e voltei , depois de muito tempo , a advogar. Posso, portanto, dizer que tenho experiência sobre armas e seu uso. Recordo que aos 12 anos, como já referi aqui na coluna, dei meu primeiro tiro de espingarda dois canos, calibre 12 que, com o solavanco ,me deixou caído de bunda no chão. Era uma pescaria em que meu pai e o sr. Rambo, seu colega comerciante, faziam lá pelos lados de Pantano Grande. Também muito atirei com a arma do meu tio Lino Etges em Boa Vista quando tinha uns 14 anos. Na Escola de Polícia fiz o curso de Armamento e Tiro, quando aprendi até a desmontar a antiga metralhadora  INA.
 Creio que até os anos 70 quase todas as famílias tinham uma arma em seu lar.
Ocorriam homicídios? Sim, mas em reduzidos números. Aí que quero chegar. Não é só com revólver que se mata. Pode se matar com faca, facão, machado, enxada( como recentemente a imprensa noticiou), ministração de venenos, pedradas, espancamento com pernas e braços, esganadura, enforcamento e vou parando porque faltaria espaço.
Há alguma restrição ao aprendizado de lutas que podem ensinar quais são os golpes fatais? Não. Algum problema de ter um automóvel que pode matar de um momento para outro dez pessoas?
Hoje nosso país é um dos mais perigosos do mundo. Os bandidos tem armas atualizadas, de grosso calibre e a luta é desigual. A repressão incumbe ao Estado, por suas polícias. Não a nós cidadãos comuns.
Ocorre que uma Glock 380 equipara uma pessoa de 70 anos, franzina, a um bandidão sarado de 18. Não há como designar um policial para  cada casa. Mas um tiro de alerta para cima, desferido pelo morador de dentro do seu pátio, vai fazer o meliante desistir, na maior parte das vezes.
É necessário treinamento para se ter uma arma? Sem dúvida. É como o treinamento  obrigatório antes de se poder dirigir veículos. É necessário pesquisar os antecedentes e a situação psicológica do que quer portar uma arma? Sem dúvida que sim.
O cidadão é obrigado a portar ou comprar uma arma? Claro que não!
Concluo, portanto, que não há motivo justo para proibir a posse de armas para o cidadão de bem. Espero que um dia não se precise de armas, nem Exércitos, nem Polícia. Mas enquanto isso ...minha casa é meu castelo!

domingo, 12 de maio de 2019

COMENTÁRIO DA PROFESSORA E DOUTORA LISSI BENDER

Não é somente uma crescente transferência da linguagem oral para o texto escrito, há também uma crescente simplificação e repetição no uso de expressões e termos. Emprega-se 'aonde' em lugar de 'onde'; o termo 'onde', enquanto relativo, deve se referir a uma palavra ou expressão que indica lugar, mas é usado como multifuncional para se referir a tudo.  Quanto ao descaso para com preposições, veja o que li ainda hoje: "já parou para pensar no número de países que você pode entrar livremente com seu passaporte?" 
Sabemos que a boa linguagem, a renovação e ampliação do repertório linguístico particular está estreitamente ligado à leitura de textos bem escritos. Poderia ser esta uma das explicações possíveis para o que estamos a  observar. 

sábado, 11 de maio de 2019

BELO COMENTÁRIO DO JURISTA ROGOWSKI


Última flor do Lácio
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
(Olavo Bilac)



Bilac foi profético ao afirmar que a língua portuguesa é a um só tempo esplendor e sepultura!
Como viva que é a língua reflete o momento histórico pelo qual passa a sociedade, se aprimorando ou se desestruturando.
No ano passado mencionei aqui neste grupo o estudo realizado sobre a decadência no estilo de vestir masculino ocidental e a influência político-ideológico por trás disso a partir da revolução cultural chinesa quando os trajes tradicionais ocidentais foram substituídos por uniformes.
Dizem que o milionário Steve Jobs possuía mil calças jeans e camisetas todas iguais.
Observa-se a decadência nas artes em geral confundindo pornografia e pedofilia com manifestação artística.
Nem o Direito escapou dessa entropia. No meu livro sobre a Legítima Defesa do Patrimônio - Blindagem Patrimonial de Ativos Lícitos dediquei algumas páginas à análise da influência do gramscismo na esfera jurídica, tanto nas decisões judiciais quanto na elaboração legislativa relativizando os direitos fundamentais tradicionais da civilização cristã ocidental.
Logicamente a língua não passaria incólume por tudo isso.
Acrescente-se ainda a influência das novas tecnologias, da internet e dos aplicativos de comunicação. Esta semana pelo whatsApp alguém solicitou minha opinião sobre um tema jurídico e escreveu assim: “uq vc acha?”
Amo o teu viço agreste e o teu aroma,
Amo-te, ó rude e doloroso idioma”.

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João-francisco Rogowski

sexta-feira, 10 de maio de 2019

ANDO INVOCADO - COMENTÁRIO DE TITO GUARNIERE


Bem lançado o tema das invocações.

Eu seria capaz de elaborar uma lista complementar das vezes em que eu próprio fico invocado.

Fico muto invocado quando agradeço alguém e ela responde : " imagine!". Quando a pessoa se despede (principalmente secretárias) : "tiau, tiau!". ". Quando leio ou vejo a expressão " um beijo no coração" . A palavra "empoderado(a)" me causa calafrios. As  muletas, como a citada "então..", para introduzir uma resposta. A praga do "aí" : note que quase todos os repórteres e apresentadores de tv entremeiam o indefectível "aí" para ganhar um fôlego,  (tentar) dar ritmo à frase. " Né ", uma contração abusiva, que está em todas as falas presidenciais, ministeriais e de gente menos votada.

Surpreende ( e me deixa muito invocado ) também o " conge ", (ou seria conje?) do Moro. E a mistura explosiva de Kafka e cafta do ministro da Educação. O "meu querido" do Lula e dos políticos em geral me invoca, desde sempre.

Me invoca muito, muito, o Olavo de Carvalho, quando faz referências a orifícios e excrementos.  E me invoca ainda mais que ele tenha tantos seguidores.

ANDO INVOCADO - COMENTÁRIOS

DES. ELISEU G. TORRES


A não ser quando atendo clientes e amigos (não necessariamente na mesma ordem ), ou quando estudo ou leio algum livro ou jornal, estou sempre ligado no rádio. Os absurdos ditos por alguns repórteres ou mesmo por apresentadores ,  causam um impacto que dói no peito. Agora começaram com a questão da morte. Fulan0 foi atropelado na BR tal. Foi levado ao Hospital mais próximo, mas veio a óbito. O que vem a ser isso ? A vítima morreu,  é isso ?  OU : Beltrano foi esfaqueado pelo inimigo, ,mas não corre risco de morte. O risco é de morte. ou de vida ? Sempre se falou risco de vida porque é a vida que está em jogo. Agora, resolveram inovar... E eu estou mis invocado ainda é c0m demonstrações de puro despudor, que as redes sociais expõem, ao divulgar vídeos com universitários e universitárias pelados(as), com a genitália expostas e isso em pleno campus universitário. Em  tempos não muito distantes, alguem que  ousasse fazer isso, seria sumariamente expulso e ainda seria investigado por atentado ao pudor. Hoje são festejados. O tempora, o mores, como diria Napoleão Bonaparte...
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DR. NELSON OLIVEIRA


Caríssimos confrades.

Diante desses espasmos linguísticos, oportunamente detectados por teu texto arguto, permito-me contribuir para esse auto de flagrante delito com uma outra pestilência  que contamina, sobretudo , a juventude estudantil: “ tipo”.
 Quando querem exemplificar ou ilustrar seu discurso usam e abusam dessa muleta, tipo comparar alhos com bugalhos ou quando , tipo, nada querem comparar . 
Pobre Machado, cairia tipo fulminado tipo entre ervas e árvores ( Fernando Pessoa , A Tabacaria). Abs
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DRA, LAÍS LEGG

Como tu, ando indignada com os "comunicadores" , mas, diferente de ti, não ligo mais o rádio... não tenho estômago.

Como sou médica, digo que o termo "ir a óbito" é jargão nosso. Consta em prontuáros, autos de necrópsia, etc. Os jornalistas começaram a ter acesso e usar. Em breve, estarão usando "cefaléia" (em vez de dor de cabeça), "postatectomia" (fimose), "nictúria" (levantar à noite para fazer xixo). É questão de tempo.

A última embrulhação de estômago foi com o Tadeu Schmidt, no Fantástico:
relatou um fato ocorrido na cidade de "Plái máuth", nos Estados Unidos.
Cruuuuzes, ninguém é obrigado a saber tudo, mas um comunicador tem, sim, a obrigação em informar-se qual a pronúncia correta. A internet está cheia de sites que informam que a pronúncia correta é "Plí muth". E, para os arcaicos como nós, que tivemos aula de História Geral, no colégio, aprendemos que os britânicos que colonizaram a América fundaram a cidade de Plymouth (homenagenado a outra, da Grã-Bretanha), que vieram no navio "May flower", que eles eram protestantes que não aceitavam a Igreja Anglicana fundada por Henrique VIII, etc
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DR. MARCELO AIQUEL

Caríssimo Ruy e caros amigos

Esta "invocação" tem um só motivo:

A IGNORÂNCIA (unida à fidelidade ideológica) DOS POLITICAMENTE CORRETOS!

Forte abraço
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MARGRETA HEINEN

Bom dia, Mestre,

Deliciei-me com os textos abaixo.
Delícia muita, com a coroação afirmativa e verdadeira
de que "nem tudo que é lícito, é honesto"!
Saudações chuvosas,
Margreta.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

ANDO INVOCADO


É que não me conformo com a destruição que alguns comunicadores fazem, detonando o trabalho meticuloso dos professores em sala de aula. Começo com referência a algumas expressões tão chatas, mas tão chatas, que contraíram doenças infecciosas e, segundo os prognósticos ,“vão entrar a óbito” em breve. Vejam o  vírus “com certeza”, que se alojou nos falares de quase todos os brasileiros. Tudo começa com o “com certeza”.

“Achas
que, mesmo com o tratamento, tua bisavó vai morrer”?  “Com certeza, sim,
acredito que é duvidoso...”

E o que
se dizer do malbaratado gerúndio? “Alô , o senhor estaria podendo nos estar
escutando só um pouquinho?”

Mais
recentemente uma nuvem de gafanhotos linguísticos passou a nos assolar.

Temer “
virou” réu. Todo mundo “ vira” titular, “ vira” ídolo, “ vira” Ministro.

Seguiu-se
a ablação do “se” e de qualquer regra de regência.

“ Olá,
João, diga as notícias ”. “ Bom dia . Tivemos o jogo que o Flamengo
 perdeu “ do” Botafogo, o Inter
  empatou “para” o Cruzeiro. A causa é que o goleiro Jairo “separou” da
esposa e por isso “ magoou” muito”.

 E a Ministra Damares disse que estava cansada
e queria “ aposentar”.

A seguir
vêm as muletas.

“Fala
repórter Juca!. “ Bom dia, ééééé, o Bolsonaro, éééé disse o seguinte que não
vai ( pausa) mais concordar com ( pausa) ééé, os ataques”. Nesses casos eu
aconselharia o redator a abolir completamente pontos e vírgulas.

Nem vou
falar muito no “para mim fazer”, “ para mim gostar”, que é caso perdido.

Como o
“tá entendendo”, “ né” e seu primo “ tá”.

O
espanhol não tem  o som “ã” e seu “Z” não tem nada que ver com português.
Pois a maioria dos comunicadores pronuncia  “pãn” e o “Z” como se fosse
português. Dói mais ainda quando pronunciam “ Rivéra”.

Desligo o
rádio quando a entrevista começa assim: “ Então…..”

Entrementes
surgiu outro vírus denominado “ por conta de”. O Governador quer economizar”
por conta “ da crise.

Pobre do
“por causa”. E mais, como cobrar uma conta dessas para debelar a tal da crise?

Mudando
de saco para mala,me indignou sobremaneira a falta de noção de um órgão público
de Brasília fazer uma licitação para um banquete dito oficial. É correto um
órgão público adquirir lagostas com nosso suado dinheiro?

Ainda bem
que temos liberdade de opinião e a imprensa logo divulgou essa impropriedade (
para dizer o menos). Me causou pasmo  que esse absurdo tenha vindo de um
órgão que deveria dar exemplo de probidade.

Mas já
diziam os mestres romanos “ nem tudo o que é lícito é honesto” ( non omne quod
licet honestum est”)

 

sábado, 4 de maio de 2019

AS CIDADES, SEUS URBANISTAS E ARQUITETOS - Franklin Cunha


As cidades, seus urbanistas e arquitetos

Os arquitetos, em especial os urbanistas, parecem não dar suficiente atenção para aspectos da economia, política, demografia, climatologia, psicologia coletiva e para submundo do poder financeiro, midiático e das estruturas sombrias e irreveláveis  que regem tudo isso.

Exemplos?

Os dois maiores arquitetos do século vinte (erroneamente avaliados pela propaganda), Le Corbusier e Niemeyer , criaram  cidades de difícil convivência  para o ser humano.

A ideia de comodidade é alheia à arquitetura dita de vanguarda. As cadeiras desenhadas por Frank Lloyd Wright, por exemplo, foram definidas por um crítico como “um instrumento diabólico de tortura idealizadas para os olhos não para os glúteos”.

Os defeitos acabaram por se converter em um detalhe do estilo. Numa residência feita por Wright para um milionário (que é com quem os arquitetos gostam de trabalhar, milionários tanto privados como estatais), uma goteira pingava justo na cabeça do empresário à cabeceira de sua mesa de refeições.

Consultado, o arquiteto sugeriu que o proprietário se mudasse para outra cadeira da mesa. E as manchas de umidade acabaram se convertendo num selo distintivo da arquitetura de Wright.

Algo semelhante aconteceu com Niemeyer. Quando um visitante observou que numa casa projetada por ele em Petrópolis havia goteiras por todos os lados, a dona da casa orgulhosa disse: “Claro, nas casas de Niemeyer, chove “.

Os custos, para Le Corbusier eram uma preocupação mesquinha, indigna de um artista.

A indiferença deste famoso arquiteto pelo ser humano se revelou com ênfase no edifico do Exército de Salvação de Paris, para o qual ele havia inventado um sistema de refrigeração com janelas invioláveis ( usadas na maioria de nosso edifícios públicos). Quando chegou o verão, o sistema não funcionou e os habitantes no limite da asfixia se rebelaram e abandonaram o edifício.

Um complexo habitacional de Le Corbu em Marselha, foi um fracasso como estilo de vida comunitária. Os corredores  eram desmesuradamente compridos e escuros nos quais abriam-se as portas dos aptos e se constituíam numa zona ambígua , nem privada nem pública que  transformava a saída de casa numa aventura insegura e atemorizante. Estas obras ,não obstante, foram um modelo de especulação imobiliária  para os planos burocráticos  de vivendas baratas o que se viu refletido  nos sinistros monoblocos construídos nos distantes subúrbios das megalópoles atuais. Por fim, um crítico severo de Le Corbusier afirmou que seus conjuntos habitacionais, eram “campos de concentração aplicados à arquitetura”.

As casas e as cidades dos arquitetos de vanguarda são mais esculturas do que arquitetura, são ” casas de coleção “, aptas para ser exibidas em museus, fotografadas em revistas da moda, analisadas na aulas  das faculdades de arquitetura e construídas para milionários não para pessoas comuns e pobres. A cidade de Chandigar de Le Corbusier na Índia e a Brasília de Niemeyer e Lúcio Costa são  exemplos típicos de uma ideia autoritária a qual elaborou a planificação hierárquica dessas cidades monumentos.

As duas cidades, têm as mesmas deficiências. São divididas em blocos denominados por siglas de letras e números estritamente separados por níveis de renda familiar o que não torna possível mudar-se para um setor de maior e melhor  categoria funcional  se não de sobe no nível social. A necessidade de mão de obra para os serviços originou nas periferias outras cidades não planejadas e em geral, pobres ou  miseráveis até. As favelas são a outra cara dos portentosos monumentos de Brasília. Um arquiteto argentino afirmou que Niemeyer criou uma cidade do século vinte e várias dos séculos anteriores em suas periferias. Por sua vez, o planejamento urbano de Chandigar revelou a visão do mundo de Le Corbusier, autoritária, hierárquica, discriminadora, que não difere muito da visão de Niemeyer e Lúcio Costa. E, que afinal, acabou influindo na organização e na atuação do poder político brasílico.

.oOo.

Franklin Cunha é médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras.