sábado, 31 de outubro de 2020

CRÔNICA DE JOÃO RIEL OLIVEIRA

 OS MISTÉRIOS FINAIS DA MORTE...

 A iluminada Madre Tereza, em um de seus ensinamentos, sabiamente disse que: "O maior mistério do mundo é a morte", concordo com ela, nunca estaremos preparados o suficientes para entendermos o fim de nossos dias e dos que no cercam. Desde pequeno, a morte sempre me despertou interesse, por morarmos com meus avós, aprendi com eles a cultura de no dia de finados peregrinar os cemitérios antigos onde nossos ancestrais descansavam, no sono eterno dos justos. Vagava com grande curiosidade entre as lápides, já corroídas pelo tempo, admirando as fotos, lendo epitáfios, analisando datas de nascimentos e óbitos. Depois, após os 10 anos de idade, a pesquisa por minhas origens, fez com que minha proximidade com os mortos fosse ainda maior, necessitava deles para entender minhas origens, as visitas aos cemitérios foram ainda mais frequentes, o que por vezes, até assustava meus pais. Aquilo que não encontrava nos arquivos de cartórios e igrejas, nos umbrais dos "campos santos" eu encontrava. O resultado de tudo isso foi que hoje, tenho catalogado milhares de antepassados, muitos já publicados em livros, como uma espécie de homenagem, e também provando a importância que os registros cemiteriais exercem na história de todos nós.

Mas há passagens interessantes e misteriosas sobre a morte e suas nuances, que por vezes, nem nós mesmos somos capazes de decifrarmos. Pelo lado onírico, desde muito pequeno eu sonhava com cemitérios, mas não eram pesadelos, algumas vezes, estava perdido neles, outras, estava a limpar e restaurar necrópoles abandonadas, no meio das matas de minha terra, o que de certa forma, fez com que efetuasse a limpeza de muitos cemitérios abandonados de nossa região. Teria sido um aviso prévio de uma missão para desempenhar? Talvez! Só o mistério humano dicotômico do tabuleiro da vida e morte um dia me responderá.

Interessante também que, depois de já criança e adolescente, quando perdia um familiar muito próximo, logo após seu enterro, eu sonhava que estava com esse meu familiar nos braços e dali eles sumiam, partiam para um voo, rumo a um céu azul e infindo. Foi assim quando perdi o bisavô João, a inesquecível bisavó Erna e também o avô Riél. São coisas que nem meu inconsciente "freudiano" conseguirá responder.

Certa vez, me pus a analisar o fim da vida de meus ancestrais, o que por si só, daria um livro eivado de mistérios e fatos inacreditáveis, porém reais. Vejamos, por exemplo, algumas histórias verídicas: Meu avô Riél, partiu faz pouco, não tinha nem 70 anos, jovem, comparado à alta expectativa humana que vivenciamos hoje. Na sua hora final, tombado por um enfarto fulminante, agravado pelo tabagismo, que o ceifou em segundos, já caído no chão de seu quarto, teria pegado a mão de minha avó Nadir, que ainda se recuperava de um sério AVC, dizendo em últimas palavras: Fica aqui comigo, não me deixes só! Em seguida partiu.

A bisavó Erna, falecida apenas um ano antes do seu genro Riél, quase nonagenária, mas acometida pelo sorrateiro Alzheimer, estava muito fragilizada, nada similar com aquela linda mulher alemã, que desbravava campos e matas com seu cavalo, labutando dia e noite ao lado do marido, por dias melhores para todos nós. Por vezes, ela nem aos familiares reconhecia, a mim, que sempre fui muito ligado a ela, nunca deixou de reconhecer, e por ficar meses em nossa casa, antes de dormir, eu ia ao seu quarto, rezávamos juntos (eis que era detentora de uma fé inabalável), lembrávamos de fatos passados, viajávamos pelo véu no tempo juntos, com isso, fazia gerar vida, na sua antiga lamparina, onde não havia mais tanta luz. Eis que na véspera de sua despedida, sossegada em seu leito, já não querendo ser perturbada por ninguém, a espio na porta do quarto, num repente vejo seu gesto com a mão, chamando-me, sentei ao se lado e não é que pega meu braço e por minutos passou suas mãos pálidas sobre ele, com uma forma tão carinhosa e terna, que parecia mesmo a despedida final, lágrimas correram de nossos olhos claros, tão parecidos. No outro dia pela manhã, presenciei seu último suspiro, minha Erna dormira para o sono eterno.

Não diferente, com seu marido, meu bisavô João, de quem tanto herdei - em todos os sentidos da palavra-, ele também partiu antes dos 70, foi dirigindo seu carro inestimável até o hospital, tratar uma pneumonia, voltou sem vida! Eu tinha apenas 06 anos, era seu bisneto preferido, fui o 1º guri nascido, da leva de uma filha, duas netas e uma bisneta que me antecederam. No dia em que sua situação piorou, antes da morte, minha mãe levou-me para vê-lo no hospital, fiquei sentado ao lado de sua cama, segurei por longo tempo sua mão, com um desvelo infantil que ainda não havia presenciado, nunca me esquecerei do que ele disse, olhando em meus olhos: Cresce, e ajuda a cuidar as coisas do vô, tá! Além do nome, até sua bela morada histórica herdei. As frases quando bem proferidas e com forte carga de energia, possuem poder imenso, uma espécie de sentença divina sobre nosso destino. Por muito tempo, criança ainda, ficava sentado debaixo da sombra de um imenso cipreste, que ele adorava, olhando para o céu, na esperança que iria o ver, pois quando perguntei o que havia acontecido com o avô João? Diziam-me que havia ido para o céu. Achava que era só um daqueles passeios que fazíamos pelo campo e logo ele retornaria, mas não era...

   Sua mãe, Estácia, mulher de fibra, viveu quase 90 anos, e no dia de sua morte, na cama, cercada de amor, em companhia das filhas e netas, que estavam sentadas ao seu lado, preocupadas com sua situação, enquanto faziam crochê para se distraírem, abaladas pela saúde frágil da matriarca, eis que erram alguns pontos do trabalho, e quem chama atenção delas? A própria Estácia, que teria dito: Prestem atenção no crochê, esta saindo errado! Após teria dito: Hoje será meu dia! Na mesma noite encerrou sua presença física por aqui. 

Conhecendo a história final dos meus bisavós, descobri que Manuel de Oliveira Brito, homem com grande bagagem, viveu 96 anos, poderia ter chego aos 100, como seu irmão Eloy, que escreveu até os 100 anos, mas negou-se a realizar um procedimento cirúrgico, mandado para casa pelos médicos, para a passagem final, no dia em que piorou, teria ficado em um longo silêncio, quando um dos filhos, Iodeto, achando que o pai partira, foi aferir sua pulsação, eis que Manuel, tirando forças sem saber de onde, sacode o braço e diz: Não está na minha hora ainda, será amanhã! E assim calmamente no outro dia se apagou.  

Sua esposa, Francisca, já não foi tão longeva, viveu apenas 50 anos, mãe de 10 filhos, ria do dia em que uma cigana havia passado pelo comércio que possuíam em Lagoão e efetuando a leitura de sua mão teria dito: Tu morrerás com 50 anos, teu marido, casará novamente, com uma moça de 30 anos e ainda terá filhos com ela. À noite, Francisca conta para o marido sobre a vidência da cigana, e ainda acrescenta: Se eu morrer mesmo, quem será que vai querer um homem velho e chato como tu Manuel, e ainda uma jovem, duvido? E não é que dias após ela enfarta e se vai, e os fatos se concretizaram, Manuel casa-se com uma jovem de 30 e ainda gera filhos aos 70 anos...

Mas quem disse que o final da vida não tem histórias hilárias também, minha bisavó Guilhermina, já com 90 anos, usando cadeira de rodas para locomover-se, adorava seu gato de estimação, eis que uma das netas deixa a matriarca na sala e não é que o gato resolve fazer uma carícia nas pernas da velha dona, e a vovó Guilhermina, tentando retribuir a atenção com o felino, curva-se e cai da cadeira, foi aquele barulho na sala, por sorte não houve ferimentos, mas na semana seguinte, Guilhermina partia para outra dimensão. Seu esposo, Sebastião, partiu, durante os festejos do centenário de Soledade, onde no passado foram proprietários de uma Churrascaria, já contava com 75 anos, ele havia ficado com sequelas de um ferimento desferido por um descendente do famoso Coronel Falckembach.

Os bisavós Pedro Jacy e Maria Ingracia, partiram cedo, ele com 61, ela com 51 anos, pais de 09 filhos, herdeiros de muitos campos e propriedades, descendentes de antigos sesmeiros de Sobradinho e Soledade, acumulavam também preocupações e inúmeros afazeres com tanto trabalho, fazendo com que seus frágeis corações, muitas vezes sem tratamento adequado, sucumbissem ao enfarto.

Nessa colcha de retalhos sem fim de histórias, se chegarmos até a história da despedida dos meus trisavós, teremos muitos relatos emocionantes. Minha ancestral alemã, Luiza Cristina, faleceu durante a penosa viagem da Alemanha para cá, sendo sepultada ao mar, deixando desolados, marido, 05 filhos menores e ainda o pai com quase 80 anos, os quais tiveram que ter muita coragem para seguirem em frente, aqui no novo mundo, na Colônia Santa Cruz e Vila Germânia, onde tudo estava por fazer, .

A mãe da trisavó Maria Jesuína, chamada Maria Pacífica, faleceu ao dar a luz, mesmo sendo casada com um médico prático, Julio José, não resistiu as complicações após o parto. Pacifica era filha de um dos líderes do movimento messiânico dos Monges Barbudos de Soledade, a história é longa e cheia de mistérios e lendas reais...

Pessoas de fé, a trisavó Ana Maria, mãe de Guilhermina, já com mais de 90 anos, acometida por certa demência, em um lapso das netas cuidadoras, foge até a porta da igreja da localidade, ali senta e apaga para o sono final, quando encontraram a matriarca, com ajuda de seu cachorrinho de estimação, estava com as mãos em sinal de oração e com traços de alegria no rosto, na noite anterior teria dito que gostaria de conversar com Deus, e foi...         

Por outro lado, a trisavó Anna Francisca, aos 89 anos, pediu para ser enterrada com a roupa confeccionada por ela mesma e com a imagem de sua santa devota, um crucifixo de bronze e a bíblia dentro do caixão, que segundo ela, teria recebido de um ancestral, trazida das antigas Reduções Jesuíticas...

E as histórias resgatadas sobre o fim da vida terrena de nossos antepassados poderiam seguir por muitas outras gerações, mas isso será assunto para outro relato, ou quem sabe a passagem de outro livro. Não podemos esquecer os ancestrais queimados vivos durante o tribunal da santa inquisição, que precisam de muita luz para poder então descansar em paz, o que a ancestral Luiza Grimaldi, por sua vez, deve ter feito, pois no final da existência, podendo desfrutar a vida rica a que dispunha, abriu mão de tudo, para fazer votos como religiosa, em um convento de Portugal, onde encerrou seus dias, quase nonagenária.

Enfim, os relatos seguirão. Que esse dia dos finados sirva para lembrarmos-nos de nossos entes, que tanto contribuíram para nossa existência, só entenderemos a razão da existência aqui na terra, quando valorizarmos nossas raízes, sabermos quem fomos, de onde viemos e para onde vamos, isso explicará muito sobre nós mesmos.

Que a lembrança sobre nossos falecidos, não seja efêmera, como as flores naturais, por vezes depositadas nas lápides, as quais são exuberantes apenas por um dia, no outro murcham, secam, e depois somem por completo. Nossos mortos merecem muito mais respeito e perenidade, resgatar essas histórias, faz parte disso...

Que descasem  em paz!       
João Riél Manuel Hubner Nunes Vieira Telles de Oliveira Brito.  

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

UM DEBATE INTERESSANTE EM SANTA CRUZ

 Começo repetindo  que sou natural de Santa Cruz. Poucos me conhecem porque saí aos 17 anos para fazer minha vida. Mas sempre voltei para visitar meus pais e parentes . É claro que acabei perdendo um contato mais estreito com minha terra. Tanto isso é verdade que não consigo andar dentro da cidade sem o GPS. Meus pais faleceram, minha irmã Lia mora há anos em Porto Alegre, minha querida irmã Cleonice faleceu. Tenho meus estimados sobrinhos e parentes, mas as visitas rarearam.

Quero só recordar que aos 22 anos, ainda na faculdade de direito da Ufrgs, passei no concurso para Delegado de Polícia ( na época isso era possível). Me exonerei para advogar, passei no concurso para juiz de direito , percorri toda a carreira.

Trabalhei em inúmeras comarcas , conheci quase todo o Estado. Presidi dezenas de júris, comandei em vários lugares a Justiça Eleitoral.

Dito isso, voltei a publicar crônicas na Gazeta, por  convite do meu amigo de infância André Jungblut. Claro que já havia atuado no Pampa Debates e publicado artigos em Zero Hora.

Onde quero chegar? Quero dizer que a maioria dos habitantes de Santa Cruz são ufanos, mas nem todos aquilatam a exceção que é sua terra. Ela é uma verdadeira ilha.

Já mediei muitos debates eleitorais em outras plagas.

O Grupo Gazeta realizou um debate entre os candidatos a vice-prefeito e me convidou  

para exercer a tarefa de decidir sobre os pedidos de resposta. Relutei um pouco, mas como gosto muito dos que tocam a Rádio Gazeta e o próprio jornal, concordei.  

Claro que me preparei para tudo e para todos, afinal eram sete concorrentes.

Vocês não aquilatam minha surpresa!  Iniciaram-se  os trabalhos e tudo começou numa finesse que não tinha visto ainda. Muita cortesia, obediência ao tempo, muito bons argumentos .

Não calculava que fosse tão alto o nível desses candidatos.

Claro que alguns elevaram o tom: mas debate é para isso. A eloquência é melhor do que um discurso morno e insípido.

Houve dois pedidos de resposta que indeferí, porque não havia nenhuma ofensa ou exagero. 

Quero dizer que me encantei com todos os candidatos, sem exceção. Adorei o sotaque de uns, a erudição de outros, a simplicidade de um senhor de idade, a combatividade de uma jovem e articulada senhora.  

O próximo debate deverá ser nesses moldes, espera-se.

Também quero louvar o capricho do condutor do evento   e de seus auxiliares.Eu que já fui radialista quero dizer que a Rádio Gazeta tem profissionais que não perdem para ninguém.

Que Santa Cruz escolha seus novos governantes em clima de paz e harmonia!


terça-feira, 27 de outubro de 2020

ARTIGO DE TITO GUARNIERE

 TITO GUARNIERE 

 

CANCELEM O PROTOCOLO! 

 

Em normais circunstâncias ninguém gosta ou quer proximidade de um sujeito rude, irascível e impulsivo, mal-educado e agressivo. Acho que nem os bolsonaristas gostam – mas eles abrem uma exceção para o seu chefe e ídolo. Bolsonaro é tudo isso e muito mais. 

 

Nunca se sabe o que pode irritá-lo ou levá-lo ao destempero. Munido de um pensamento raso e de interesses vulgares, é uma bomba-relógio sempre prestes a explodir. Nunca é gentil, educado, contido, e nas horas de exaltação sobra até para os seus auxiliares mais próximos. Se é essa a impressão de longe, podem ter certeza que de perto, quando ninguém é normal (segundo Caetano), tudo fica pior. 

 

Vejam Eduardo Pazuello, um militar servil e um ministro da saúde apenas regular. Dias atrás, o Ministério da Saúde divulgou o calendário nacional de vacinação do coronavírus – início marcado para abril de 2021. Mas a programação só previa o uso da vacina de Oxford-Fiocruz, que é a aposta do governo federal. Os secretários da saúde do Brasil inteiro chiaram e com toda a razão – é provável que a vacina chinesa da Sinovac, a ser fabricada pelo Instituto Butantã, de São Paulo, esteja pronta antes, talvez em janeiro de 2021. 

 

Os secretários pediram a inclusão da vacina chinesa no calendário nacional. Pazuello, sensatamente, parece ter visto a mancada e voltou atrás, assinando um protocolo com o Instituto Butantã de compra de 46 milhões da vacina. 

 

Mas havia um problema: o Instituto Butantã, um centro de excelência que produz 70% das vacinas nacionais, pertence ao governo de São Paulo. E o governador de São Paulo, João Doria, é adversário político do presidente. 

 

Quando tudo parecia voltar à normalidade, Bolsonaro recebeu recados hostis dos seguidores nas redes sociais, provavelmente os mais ignorantes, que seria uma traição comprar a vacina comunista. E Bolsonaro, sendo Bolsonaro, que outro não pode ser, baixou a ordem de comando: cancelem o protocolo com o Butantã. 

 

Ele alegou razões de ordem científica para a decisão. Logo ele, que jamais deu a mínima para a ciência, guru negacionista que fez propaganda de uma droga milagrosa para o coronavírus, que não queria o isolamento social, que tem em seu governo a figura exótica de Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia – ainda agora insiste em divulgar a eficácia de um vermífugo (Annita) para tratamento do Covid-19. 

 

O que está por detrás das incongruências, dessas trapalhadas de (des) governo é a eleição de 2022. Como disse o capitão: "Doria quer recuperar o prestígio com a vacina!". Bem, Doria não é o meu personagem predileto. Mas no caso um valor maior está em jogo: a saúde da população. Tomara que dê certo e não importa a quem isso vai beneficiar politicamente. 

 

Bolsonaro não gosta de sombra, nem de aliados e auxiliares. Ele quer jogar sozinho no tabuleiro da sucessão. Esse é o caminho da perdição – o excesso de autoconfiança, o desvario ambicioso. Mas fiquem tranquilos: ele não irá até o fim empacado no ato insano de vetar a vacina Sinovac-Butantã. Bolsonaro, na hora certa, roerá a corda, voltará atrás e achará uma forma de dizer que a vacina chinesa só existe por causa dele. 

 

titoguarniere@hotmail.com 


segunda-feira, 26 de outubro de 2020

ACHO QUE VOU CORTAR MEUS PULSOS OU QUEIMAR MEUS VIOLINOS

 Estou na minha casa em Xangrilá. Tudo silente. Nenhum barulho mais alto.

Três da tarde. Ainda estou com o retrogosto de um belo vinho. Chegam umas crianças  na frente do meu portão e me pedem que toque umas músicas ao violino para elas.

Fui buscar o violino, afinei, passei breu no arco.

Comecei com " ave maria no morro". Estava recém começando e meu vizinho escutou um segundo e pôs a trabalhar sua enorme máquina de cortar grama.

Das Lied ist aus. ( Terminou a música).

As crianças saíram sem entender. 

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

PAVANA PARA UMA PRINCESA MORTA

 Terra da mãe de Deus ( tupã(Deus)-cy( mãe)-(retá -terra ) Tupanciretã. Cidade onde participamos de uma exposição e fomos vitoriosos em duas categorias. Cidade pequena,acolhedora. Lindos campos. Um vento frio soprava enquanto nos protegíamos com os  palas de pura lã de ovelhas.Uma cidade onde não dá para ser infeliz, tão maravilhosas são suas paisagens.

Lembrei-me hoje do enterro de uma jovem num jazigo campeiro da família, em pleno descampado, junto com seus ancestrais. Há uma semana fico me perguntando o que leva as pessoas ao suicídio.

Uma jovem dentista, com muito sucesso na profissão, rosto levemente melancólico, ao menos nos retratos da imprensa, decide sair do mundo em que vivia. O que a incomodava? Amores sem sucesso, nenhuma perspectiva de ter filhos, incompreensão, depressão?

A moça, ao que consta, só lançou alguns anzóis, indagando a uma amiga se teria coragem, ante a depressão,  de tirar a própria vida. A amiga não teria levado a sério.

Pois a jovem montou um esquema que terá que ser objeto de estudos.

Decidiu morrer. Como fazer? Porque longe de casa? Por que num lugar inóspito?

Mas a verdade é que estava determinada.

Deve ter pesquisado com cuidado uma morte sem sofrimento.

Logo que eu soube da notícia da descoberta do corpo fiquei muito triste e me pus no computador para escutar “pavana para una infanta difunta”, de Ravel.

É de uma tristeza mortal.

Nosso querido articulista, dr. Vinicius , há algum tempo publicou na Gazeta um artigo muito importante sobre o suicídio.

Em todos os casos em que tive conhecimento pelos relatos familiares a pessoa não procurara socorro ou tratamento.

Agora , há duas semanas, um menino de seus 23 anos, universitário, se atirou do último andar de um edifício no Iguatemi. Eu o conhecia, pois jogava tênis com ele em Santiago, quando ele ficava sozinho esperando parceria.Notava que era meio triste, mas se iluminava quando alguém o convidava para jogar.

Um vizinho meu da fazenda, alegre, risonho, tinha algumas dificuldades financeiras, ao que consta. Entrou no seu carro certa manhã e se matou.

E o que dizer da pungente letra de Alfonsina y el mar?

“Te vas Alfonsina con tu soledad/¿Qué poemas nuevos

fuíste a buscar?Una voz antigüa de viento y de sal te requiebra el alma

y la está llevando/y te vas hacia allá /como en sueños dormida, Alfonsina

Vestida de mar.”

Cinco sirenitas te llevarán por caminos de algas y de coral y fosforescentes caballos

marinos harán una ronda a tu lado,y los habitantes del agua van a jugar pronto a tu lado”. Rezemos uma prece pela princesa morta.

 

 

 


terça-feira, 20 de outubro de 2020

AINDA SOBRE MERITOCRACIA

 

MERITOCRACIA E  ARISTOCRACIA

09 de julho de 20141

FRANKLIN CUNHA
Médico

 

A crise de transição dos Estados-Nações diante da globalização provocou uma impotência do poder do Estado, dos partidos políticos e do sindicalismo. Diante destas condições históricas surgiu nas hostes sociaisdemocratas uma nova linha de pensamento: o liberalismo igualitário. Seu principal representante foi o jurista americano John Rawls. A novidade desta teoria está na tentativa de dar resposta ao dilema entre liberdade e igualdade, entre os direitos individuais e a equidade social. Em sua Teoria da justiça de 1971, Rawls afirma que todos os valores sociais deverão ser repartidos de maneira igual, desde que as naturais desigualdades sejam vantajosas para os menos favorecidos. Baseado na teoria dos jogos de John Hersany que pressupunha a ignorância daqueles que intervêm numa situação de escolhas de preferências, as decisões tomadas nesses casos, sob o que Rawls chama de “véu da ignorância”, seriam justas porque os jogadores tomariam uma conduta que, sem saber todos os dados, os levaria aos melhores lugares sociais e assim ser equitativos com os que ficariam nos piores lugares, pois os privilegiados  saberiam que também poderiam eventualmente ser os potenciais perdedores. Simplesmente na distribuição às cegas das cartas de um baralho, ganha a partida quem recebe os melhores naipes e souber manejá-los.
Em realidade, as teses de Rawls, aparentemente justas, escondem uma sutil maneira de defender a desigualdade  sob o manto da justiça, além  de desconhecer o sentido comum de que ninguém quer perder nada e de não levar em conta a vida prática onde os indivíduos raramente tomam  decisões desconhecendo suas consequências.  Outra condição para que os “jogadores ” aceitem a desigualdade é que todos tenham as mesmas oportunidades não prejudicadas por  privilégios  socioeconômicos e de castas familiares ou corporativas. E, para que esta igualdade de oportunidades seja efetiva, é preciso que sejam compensadas as desvantagens do ponto de partida. Condição  que na atual conjuntura das políticas neoliberais  é uma quimera expressa numa falsa meritocracia que na realidade não revela o domínio da aristocracia financeira, sólida e plenamente atuante em todos os setores da economia e que oculta as espessas vicissitudes vivenciais da competitividade. Enquanto isso os grandes grupos empresariais do mundo se unem cada vez mais fraternalmente em oligopólios e “holdings” numa concentração cada vez maior de riqueza financeira,  poder e dominação políticos.

‘E aos perdedores ... as batatas “

 

SOBRE MERITOCRACIA

 TITO GUARNIERE 

 

MERITOCRACIA (2) 

 

Em artigo anterior sugeri que é altamente discutível o dogma marxista de que todo trabalhador é explorado pelo patrão. No mais das vezes trata-se de um acordo de homens livres, vantajoso para as duas partes. 

 

A suposta espoliação do trabalhador em toda relação de trabalho, é a base da crítica recente, em certas áreas, ao conceito de meritocracia, ou mérito. 

 

O professor americano Daniel Merkovitz, por exemplo, diz que o mérito é um sistema fechado e uma farsa. Segundo ele, as elites (ele quer dizer os ricos) adrede "construíram um conjunto de padrões especificamente para favorecê-los". Como os ricos podem pagar as melhores escolas, só os filhos dos ricos ocupam os melhores postos do mercado e fazem jus aos salários mais altos. 

 

Ele toma o todo pela parte. Basta ver que gente como Bill Gates (Apple), Larry Elston (Oracle), Michael Dell (Dell), Mark Zuckenberg (Facebook) e outros do clube seleto: não nasceram em berço de ouro, são bilionários (e em dólares), e mal chegaram a concluir cursos comuns de graduação. 

 

As boas escolas, uma formação acadêmica de qualidade, ajudam, e muito, mas não garantem um lugar no topo. Ganhar muito dinheiro não é algo que se aprenda na escola. Olhem os milionários da música e do cinema, e atletas de ponta no futebol, no basquete e outros esportes. 

 

Merkovitz diz que os profissionais do mercado ganham muito mais do que os do serviço público. Mas ele compara a média de ganhos do serviço público, com os ganhos de banqueiros e advogados de ponta, a exceção da exceção. No Brasil de mais de um milhão de advogados, não chega a 1% deles que ganham mais do que na magistratura e no Ministério Público. 

 

Para negar o valor do mérito, o autor assinala que um professor, cuidador ou lixeiro ganham menos, mas trazem mais benefícios para a sociedade do que banqueiros e advogados. Mas quem, dentre o professor, o cuidador, o lixeiro traz mais benefícios? Salário não se mede por esse critério. Todos os ofícios são úteis e necessários. É assente e pacífico que altos executivos, advogados de renome, analistas de investimento ganhem mais. Raciocínios desse tipo são imprestáveis. 

 

E como sair dessas armadilhas? Merkovitz quer obrigar as escolas de ponta a receber mais alunos da classe média, garantir nos conselhos de administração das empresas representantes sindicais (e por que não um representante da empresa na direção do sindicato?), e nada menos do que criar um ministério da classe média! 

 

O professor é radical: o sistema de mérito é ruim até para os ricos! Eles são obrigados a viver uma vida desgastante, de estudos e horas trabalhadas, para manter o status e provar que merecem a riqueza que usufruem. "Os ricos tornam-se um mecanismo de sua própria exploração" (!?), diz ele. 

 

Segundo Merkovitz, em um daqueles raciocínios extravagantes, de quem liga o celular com luva de boxe, a meritocracia, além de tudo, é culpada pela ascensão de governos populistas, como Trump e Bolsonaro! 

 

Ou seja, a meritocracia só traz e causa problemas. Que ninguém estude mais, se esforce no trabalho ou procure se aprimorar. O mérito é quase um defeito de caráter. 

 

titoguarniere@hotmail.com 

 


A TRISTE HISTÓRIA DOS 20 COMBATENTES MORTOS EM LAGOÃO

 

                  
  A TRISTE HISTÓRIA DOS 20 COMBATENTES MORTOS EM LAGOÃO  

Mais um dia de finados se aproxima e com ele histórias pitorescas envolvendo nossos mortos, ganham forma e insistem em permear e povoar o imaginário popular, como essa agora descrita:

Lagoão, distrito de Soledade-RS, corria o ano de 1893, que seria um dos mais sangrentos já presenciado pelo simples povoado de estancieiros, em sua maioria, imigrantes lusos, habitado por poucas casas, ranchos cobertos com capim e algumas casas comerciais. Por esses belos e misteriosos campos gaúchos ardia a Revolução Federalista de 93, as almas ali sobreviventes, ainda lembravam com medo e pavor os episódios violentos presenciados no ano de 1839, onde num ermo campo de Lagoão, que ficou conhecido como " Rincão da Mortandande", 12  jovens foram mortos degolados, pois se negaram ter que abandonar suas casas para lutar na Revolução de 1835, tal cena ainda é lembrada pelo umbral do tempo, como uma das mais brutais que a antiga Soledade já viveu.

No entanto, outra triste história real envolvendo jovens corajosos da região, membros que lutavam em uma "força" de 400 homens, liderados pelo Coronel Camilo Pinto de Moraes, marcaria tragicamente os verdes campos de Lagoão.  Quando o General Gomercindo Saraiva, chefe supremo das forças revolucionárias passou por Soledade, alguns destemidos membros do grupo, acompanharam ele até o fatal Carovi, em cujos campos, da lendária fronteira gaúcha, o famoso caudilho foi atingido pelas balas fatais que o vitimaram. Com a morte do bravo General, estava perdida a Revolução. As forças federalistas de Lagoão e Soledade puseram-se em retirada. Já haviam assinado a paz, notícia, que pelas deficiências da comunicação da época, não tinham chegado ao conhecimento das lideranças locais. Eis então um novo combate, regado com muito sangue, travado nos despovoados campos da região, onde tombam fatalmente o Coronel Camilo, junto com mais de 20 jovens recrutas, filhos dos moradores do povoado, que amanheceria tomado por luto e medo de novos conflitos.

Mas a pior parte de toda esta barbárie histórica, foi que membros das forças opositoras aos mortos, não permitiram que as famílias velassem seus entes tombados, como mais uma fúnebre vingança, assim, os 20 jovens assassinados foram todos jogados em uma enorme vala comum, um amontoado ao lado do outro, sendo o valente líder Camilo, o último a ser lançado à cova fria, para sua funesta sorte, pois depois que os oponentes deixaram o campo de batalha, após efetuarem macabra cena, seus familiares retiram o mesmo da cova e trataram de enterrá-lo, com as devidas honras, no cemitério local, necrópole histórica com mais de 200 anos, ainda existente, bem como sua imponente lápide ainda resiste, só que praticamente abandonada.

Quanto aos 20 bravos moços ali sepultados todos juntos, as famílias decidiram deixar os mesmos onde haviam sido enterrados, embora tristes e abalados com a cena brutal  presenciada, conformavam-se que haviam morrido defendendo seu pampa e sua gente. Lá, puseram 20 cruzes, dizem que uma delas, feita em madeira de cedro, brotou e deu vida a uma enorme árvore, que tombou há pouco tempo, depois apenas uma lápide ergueram lá, em homenagem aos soldados mortos. Por anos o local foi venerado, no dia de finados, rezas ali ecoavam e dezenas de velas queimaram à iluminar as almas dos revolucionários. O local da tragédia que ainda pertence aos herdeiros de Miguel Vieira, por anos foi preservado pelo meu avô Riél, que em virtude de morar na sede dos avós, sempre que podia limpava o local, restaurava a cerca de arame farpado, que protegeu por longo tempo o lugar santo.     

Hoje, passados quase 130 anos do triste fato, resta ainda a quase indecifrável lápide esculpida na pedra bruta, já tombada, corroída pelo tempo, fenecendo no alto da coxilha, praticamente nem mais notada por quem passa na estrada geral, que liga Sobradinho até Soledade, passando por Lagoão, pisada pelos cascos dos animais que ali rondam, jaz à sombra de uma açoitada pitangueira que ainda resiste bravamente, tal qual a alma dos jovens soldados mortos, sendo testemunha de uma história infeliz, mas que é nossa, forjada com sangue revolucionário, escrita e rememorada para jamais ser esquecida, nesse dia de finados, onde os mortos para sempre devem ser lembrados e acima de tudo, respeitados. Que descansem em paz!     

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

BERÇO É TUDO

 Definitivamente me convenci: o que falta ao Brasil e a muitos países é o berço.

O que se entende por ter berço ?

Vou dar um exemplo muito lindo. Pelo torneio de tênis Roland Garros, uma menina de 19 anos, sem  sucesso importante anterior , foi à luta.Seu pai era seu apoiador. Por incrível que pareça foi galgando as fases e , incrivelmente ,chegou à final. Uma menina simples, 19 anos, polonesa. Fez o jogo concentrada, humilde, toda de branco,shorts até o joelho, sem histerias, sem gritos, sem reclamações. Após vencer o “ match point”, ao invés de cenas eufóricas normais, correu ao encontro da árbitra da partida e lhe pediu permissão para sair da quadra e abraçar seus pais. Pediu permissão, notem bem.

Berço é a criança ter tido conversa e muito contato  com seus pais. De pais ( de qualquer gênero) que amam seus filhos e querem para eles uma vida boa e correta.

Ser pai não é só ser provedor de alimentos , de escolaridade, de presentes. Ser pai é conversar, explicar, esclarecer e não deixar as ruas direcionarem suas verdades e valores. 

No recôndito do lar há que ensinar o que é correto e o que deve ser evitado.

Como disse a canção : “ e a vergonha é a herança maior que  papai me deixou”.

As pessoas deveriam chegar à idade adulta  dando bons exemplos e se comportando adequadamente.

Eu sempre cito o exemplo que nos dão os peões campeiros. Deles nunca vais ouvir um palavrão, salvo raras exceções. São cuidadosos e respeitosos com suas esposas. Não saem gritando ante qualquer problema. Esse é o campeiro de verdade e não o das canções de duvidoso gosto.

Parcimônia, elegância, cuidado com as palavras deveria ser o paradigma de qualquer pessoa.

Daí que um homem público não pode ser dar ao desplante de disparar palavrões, mormente quando todo o país o escuta e vê. 

Um presidente da república não tem o direito de se imiscuir em assuntos criminais da alçada do Ministério Público.

Votei no nosso atual presidente. Não via outra opção.

Mas , infelizmente, lhe faltava reprimir seus ímpetos de terra arrasada. Faltava-lhe humildade para ouvir seus técnicos antes de proceder  como um elefante em loja de porcelanas.

Como volto a repetir, “ si tacuisses, philosophus mansisses”. Se falasses menos, ou seja , se te calasses, passarias por filósofo.

É o que agora Bolsonaro está ensaiando, eis que quer as benesses do centrão.Já foi ao encontro do Ministro Fux , numa entrada pela garage.De certo combinando um modo de resolver o “imbróglio” com o copiador de textos candidato a ministro. Oh. céus!

Tudo como  antes  no quartel de Abrantes...


quarta-feira, 14 de outubro de 2020

A PROPÓSITO DA CRISE NO STF

 Summum ius, summa iniuria

Descrição

Descrição

Summum ius, summa iniuria é um aforismo latino que, numa tradução preliminar significa, "o máximo do direito, o máximo da injustiça", ou "suma justiça, suma injustiça"; o excesso de justiça redunda em injustiça