quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O BRASIL NÃO SE ´PREPAROU

 Só se viajando a Europa ou lá morando é que se tem uma idéia de como o relho está nos pegando. 

A diplomacia do Brasil era muito apreciada décadas atrás. As coisas começaram a se complicar quando na Europa se propalava que estávamos praticando  genocídio contra os índios  brasileiros. Os yankees pegavam mais leve porque foi um horror o que fizeram séculos atrás com os índios. Quem, acima dos sessenta anos , não se recorda dos filmes em que apareciam os brancos colonizadores matando os índios impiedosamente e eu e meus amigos sapateando ruidosamente de alegria que os índios levavam bala e bala dos brancos?

Enquanto isso, nossa querida chanceler Angela Merkel fica num silêncio ensurdecedor e volta e meia critica as “péssimas práticas” do Brasil em matéria de preservação da natureza.

Mas a nossa  Alemanha pega mais leve pois ainda lhe doem  nas costas os laçaços  que tomou nas duas recentes guerras.

O Putin, de quem nosso presidente tanto gosta, está mais quieto que cusco na canoa. 

Já o preclaro Benjamin Netanyahu, além de suas bombas nucleares, que nega, mas tem, apressou-se e já tem a vacina. Ou seja, não ficou crendo ou descrendo da vacina: foi prático e a desenvolveu. Assim sendo,  em breve todos estarão vacinados por lá.

Enquanto se pesquisava freneticamente em outros países , ficamos deitados em berço esplêndido, perdendo tempo discutindo se a vacina seria ou não obrigatória.

Não bastasse tudo isso, essa comédia bufa inicial de mandar um avião à Índia para buscar vacinas em volume que mal dá para uma cidade média.Tiveram que fazer o avião dar marcha a ré.


Depois veio o vexame e a tragédia dos tubos de oxigênio . “Oras bolas”, como gosta de dizer nosso ilustre presidente, não dava para prever isso? Não é isso que fazemos em casa com os botijões de gás? Se temos dois, um secou, vamos esperar que o outro também fique vazio? 

Agora vem o patético. Governadores e o presidente querem chegar na frente na distribuição das vacinas. Não há nada harmônico ou concatenado. Nosso governador, ante todo esse caos, já está se movendo para o nosso estado comprar diretamente a vacina. E o nosso presidente que desdenhava da vacina agora muda de opinião.

Não há harmonia nem nada; há uma corrida eleitoral absolutamente a destempo.

Pergunta que não quer calar: a compra das vacinas vai ser exclusividade do SUS ou do poder público, qualquer que seja seu nível? Sempre recorri às clínicas particulares para me vacinar, pagando do meu bolso. 

É o que me parece justo, ainda mais que o SUS poderia   receber uma parte do preço pago à clínica. 


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

BIDEN FOI MUITO BEM

 Eu sempre ouvi de meu pais e de outros senhores, quando eu era piá: tu tens que te comportar sempre, não ser inconveniente, se estás com a razão, por que gritar? Não importa saber se és rico, médio ou pobre. Tens que te portar bem.

Tem gente que enriqueceu de uma hora para outra, compra  correntões de ouro, mas não se esforça por se instruir, aprender boas maneiras, não ficar dando gargalhadas, nem abusando de palavras chulas.

Quando ví, por vez primeira, Biden caminhando, achei-o bem saudável. Adorei aquelas corridinhas que ele dava nos jardins ou nos comícios. Claro que eram coisa de 6 metros. Mas Biden queria mostrar que estava em plena forma para encarar uma campanha árdua. Minha nossa: 78 anos?

Assistindo a programas em que ele aparecia, achei-o muito bem. E mais: esguio, rosto sereno, olhos fixados no seu interlocutor, cabelos brancos como é natural da idade.

Perdeu sua primeira esposa num acidente, teve tragédias familiares, casou de novo, sempre muito classudo e simpático.

E o que dizer da simpática vice-presidente?  Está no  rosto sua determinação,  no seu jeito de caminhar, sua têmpera.

Eu não tenho nada contra o Trump. É um vencedor nos negócios, mas o via como um mercantilista e pouco piedoso com os desvalidos.

Foi um fiasco seu choro de  mau perdedor.

Não gosto muito de políticos que vivem urrando preces e orações de razões apenas políticas. Biden foi discreto e, com toda razão, ecumênico, por assim dizer.

Resta agora saber o que vai rolar para nós, brasileiros, que não temos culpa pela má fama de alguns políticos  que se generalizaram pelo mundo. Que culpa temos nós agricultores ,que somos um exemplo em excelência de qualidade? Soja, trigo, carnes de altíssima qualidade, e por aí vai. Que culpa têm os empreendedores que movimentam a máquina econômica?

O Presidente da França Emmanuel Macron, num surto napoleônico, declara que não vai mais comprar a soja brasileira em represália aos “ crimes” contra a natureza. Agrega, ainda, usar uma arma , qual seja o início de plantação de soja para consumo interno. Pelos seus ternos muito bem cortados, sapatos de pelica, gravatas Dior, deduzo que o mandatário nem saiba distinguir soja de trigo. Provavelmente vai pedir que os proprietários de terras de 50 hectares voltem a plantar soja, derrubando parreiras centenárias para semear a leguminosa.

Assim,  a França não vai mais importar nossa soja. É claro que sem escala e sem muita experiência, a soja “ française” vai custar cem vezes mais que a nossa.

O Brasil tem de voltar a ser diplomático.

Como disse Kamala: “ we did it”.


terça-feira, 19 de janeiro de 2021

MILITARES SE PEPARAM PARA A GUERA - TITO GUARNIERE

 TITO GUARNIERE 

 

MILITARES SE PREPARAM PARA A GUERRA 

 

Os generais e coronéis, da ativa e da reserva, podem ocupar cargos nas repartições civis, desde que não as militarizem, inchando-as de militares, e que certos cargos, dado o conhecimento que exigem, sejam preenchidos por especialistas, gente da área. 

 

A nomeação do general da ativa Eduardo Pazuello infringiu as duas regras. Ele praticamente militarizou o Ministério da Saúde e nada sabia antes - e parece não ter aprendido nada até agora - sobre a área estratégica, a mais importante diante da pandemia de Covid-19. 

 

A escolha de Pazuello para a Saúde provocou a tempestade perfeita. É um ministro sem carisma e personalidade e é (acima de tudo?) incompetente. É militar, como o presidente. 

 

Militares são treinados para a guerra. Na sua formação profissional, no seu espírito e na consideração íntima a respeito da existência, a morte "faz parte", "está na conta". O pensamento profundo, o inconsciente, sugerem e ditam rumos, decisões e atos. 

 

O fatalismo de Bolsonaro revela o coração endurecido do soldado no combate, o pouco caso diante das mortes - eventos esperados e inevitáveis, perdas de guerra: "todos nós iremos morrer um dia"; "a gente lamenta as mortes, mas é o destino de todo mundo": "e daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?". 

 

O descaso quanto à perda de vidas humanas traduz-se, na prática, no tratamento da doença sem a premência que ela requer. Afinal, as pessoas morrem, todos vamos morrer. Então, julgam eles, não há pressa na compra de seringas e agulhas, na compra de vacinas, ou no início da vacinação. Questões cruciais, em meio a uma pandemia devastadora, são encaradas com a mesma urgência do suprimento de uma intendência militar. 

 

A perspectiva de um profissional da saúde, de um médico, é de outra ordem. Quando escolheu a profissão provavelmente pensou, dentre outras razões, de como deve ser gratificante curar e salvar uma mulher, um homem, uma criança. A sua propensão, o seu espírito, no íntimo e nas entrelinhas da sua formação profissional, está a nobre causa de diminuir a dor e o sofrimento dos seres humanos, curar e salvar vidas. 

 

Alguém com empatia pela vida humana teria avistado o perigo, teria se preparado no tempo certo, teria adiantado o expediente para comprar a vacina, única forma de conter a pandemia. Era para lançar o olhar ao redor, ver quem tinha tradição e competência, e fazer apostas múltiplas - naquele momento ninguém poderia saber se alguma delas iria funcionar e quando. 

 

Não foi um erro botar todas as fichas na AstraZeneca-Oxford. E nem o governador João Doria errou ao patrocinar (com estridência desnecessária e interesseira) o convênio do Instituto Butantã com a Sinovac chinesa. Mas não precisava ser uma mente brilhante, um especialista em logística, (como dizem ser Pazuello), para alargar as possibilidades, de tal sorte que, se alguma das opções não desse certo ou demorasse muito, se pudesse dispor de outras. Só o governo central - o governo Bolsonaro - poderia ter feito isso e não fez, por mesquinharia política, imprevisão e ignorância - e porque, no raciocínio de guerra, de toda a maneira as pessoas vão morrer. 

 

titoguarniere@hotmail.com

MÁSCARAS QUE NOS PROTEGEM (LISSI BENDER)

 

FFP2 a máscara que nos protege do virus


Responder para o remetente

 

Seg. 20:12

L

Lissi Bender

Para:









Fonte: Apotheken Umschau - https://www.apotheken-umschau.de/FFP2-Masken#FFP2-Masken-schuetzen-besser-

A revista Apotheken Umschau se pode retirar gratuitamente nas farmácias da Alemanha. |Aqui repasso a tradução automática e, mais abaixo, o texto original.

As máscaras FFP2 são usadas principalmente para proteger o usuário, como fica claro no site do Instituto Federal de Drogas e Dispositivos Médicos (BfArM). Nos testes, as máscaras são verificadas para determinar quanto aerossol e gotas menores com um tamanho médio de 0,6 micrômetros passam pela máscara. Sua função de proteção é padronizada em toda a Europa pela norma DIN EN 149: 2009-08. De acordo com esse padrão, as máscaras FFP2 devem filtrar 95 por cento das partículas. Há uma camada de filtro especial na máscara, que é eletrostaticamente carregada. Isso não apenas captura as partículas maiores, mas também remove as gotículas de aerossol significativamente menores, mas perigosas, do ar inspirado e expirado.

Existem máscaras FFP1, FFP2 e FFP3, em que o número representa o desempenho do filtro diferente:

As máscaras FFP1 filtram 80% dos poluentes do ar que respiramos

Máscaras FFP2 filtram 95% dos poluentes e aerossóis

Máscaras FFP3 filtram até 99% dos poluentes e aerossóis

Esta é uma representação simplificada do desempenho do filtro. Para se proteger do SARS-CoV-2, você deve usar pelo menos uma máscara FFP2.

"Essas máscaras são mais eficazes do que as máscaras do dia-a-dia para se proteger ao respirar", disse Dominic Dellweg, médico-chefe de pneumologia do hospital especializado do mosteiro Grafschaft. "As máscaras do dia-a-dia não precisam obedecer a nenhum padrão. E também variam muito no desempenho do filtro", como Dellweg mostrou em um estudo ainda não publicado.

Mas o presidente da Society for Aerosol Research, Christof Asbach, agora também alertou contra os equívocos sobre a segurança das máscaras FFP2. Mesmo que se encaixassem perfeitamente, não ofereceriam proteção de cem por cento, disse Asbach à agência de notícias alemã. Se as máscaras filtrassem 94 por cento das partículas conforme necessário, 6 por cento ainda passariam. "Você também geralmente precisa se livrar da ideia de que existe uma única medida que reduz o risco de infecção a zero." É importante cumprir todas as medidas de higiene.

TEXTO ORIGINAL:

Die FFP2-Masken dienen primär dem Eigenschutz des Trägers , wie etwa die Seite des Bundesinstituts für Arzneimittel und Medizinprodukte (BfArM) deutlich macht. In Tests werden die Masken dahingehend geprüft, wie viel Aerosol und kleinere Tröpfchen einer mittleren Größe von 0,6 Mikrometern durch die Maske gelangen. Ihre Schutzfunktion ist europaweit durch die Norm DIN EN 149:2009-08 normiert. Entsprechend dieser Norm müssen die FFP2-Masken 95 Prozent der Partikel abfiltern. In der Maske befindet sich eine spezielle Filterschicht, welche elektrostatisch aufgeladen ist. So werden nicht nur die größere Partikel abgefangen, sondern auch die deutlich kleineren, aber gefährlichen Aerosol-Tröpfchen aus der Ein- und Ausatemluft entfernt.

 

Es gibt FFP1, FFP2 und FFP3 Masken, wobei hier die Zahl für die unterschiedliche Filterleistung steht:

 

FFP1 Masken filtern 80% der Schadstoffe in der Atemluft

FFP2 Masken filtern 95 % der Schadstoffe und Aerosole

FFP3 Masken filtern bis zu 99% der Schadstoffe und Aerosole

Dies ist eine vereinfachte Darstellung der Filterleistung. Um sich vor SARS-CoV-2 zu schützen, muss man mindestens eine FFP2 Maske verwenden.

 

"Für den Selbstschutz beim Einatmen sind diese Masken also effektiver als Alltagsmasken", sagt Dominic Dellweg, Chefarzt für Pneumologie am Fachkrankenhaus Kloster Grafschaft. "Die Alltagsmasken müssen überhaupt keiner Norm entsprechen. Und sie variieren in ihrer Filterleistung auch stark", wie Dellweg in einer noch unveröffentlichten Studie zeigte.

 

Aber der Präsident der Gesellschaft für Aerosolforschung, Christof Asbach, warnte nun auch vor falschen Vorstellungen bezüglich der Sicherheit von FFP2-Masken. Auch wenn sie perfekt passen würden, böten sie keinen hundertprozentigen Schutz, sagte Asbach der Deutschen Presse-Agentur. Wenn die Masken anforderungsgemäß 94 Prozent der Partikel filtern, gingen immer noch 6 Prozent durch. "Man muss sich auch generell von der Vorstellung freimachen, dass es eine einzige Maßnahme gibt, die das Risiko einer Infektion auf null senkt." Wichtig ist das Einhalten aller Hygienemaßnahmen.


sábado, 16 de janeiro de 2021

ARTIGO DE TARSO GENRO

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Tarso Genro (*)

Caro Presidente da Câmara Federal: dirijo-me publicamente ao Sr., com as considerações abaixo, em face da tragédia nacional que nos assola e que exige, mesmo com divergências de fundo que existem entre homens públicos dentro da democracia, um entendimento comum sobre coragem, determinação e compromisso, com a vida e a Constituição da República. Creio que o sr. lerá esta Carta com certa ironia e algum ceticismo, mas não posso perder a oportunidade de tentar interferir na sua consciência, para apostar no Brasil, contra a resignação e a omissão.

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Em 1931, Ortega y Gasset escreveu no jornal "La Nacion" que "entre as causas da depreciação vital da Europa" (e do mundo, certamente), a mais curiosa seria a falsa ideia de que ela (a Europa) deixou os Estados Unidos colocarem em sua mente, no que se refere à técnica". O remédio contra "esta enfermidade", segundo Ortega, seria o seguinte: "a unificação da Europa para que voltasse a exercer um efetivo mando mundial." (Jefferson Assunção, "O Homem-massa", Ed. Bestiário, pg. 148).

Lembrei-me desta profecia orteguiana porque ela nos traz uma lição de mão inversa, em relação ao sistema político americano: devemos unificar o Brasil democrático e mentalmente sadio, para derrubar Bolsonaro dentro da Constituição, como os americanos democratas e mentalmente sadios fizeram com Trump. Essa é a nossa resistência contra a "depreciação" vital, que Bolsonaro nos arremete todos os dias sob os olhos do mundo.

Até 1961 o suicídio era considerado crime pelas leis, pelo costume e pela jurisprudência dos Tribunais ingleses. Somente no ano de 1956, 613 pessoas que atentaram contra a própria vida foram julgados nas Cortes da Ilha, quando era recorrente o argumento dos Juízes que a motivação do suicídio era a "insanidade temporária". Jack London, que no começo do Século XX aportara naquelas paragens para – seguindo um roteiro que logo fracassaria –  cobrir como jornalista a "Guerra dos Boers", escreveu no seu "Povo do Abismo" (1903): "Pobreza, miséria, medo do albergue de pobres são as principais causas de suicídio entre as classes trabalhadoras."

"Insanidade temporária" era – segundo London – uma dessas frases "malditas, essas mentiras da língua, sob as quais as pessoas de barriga cheia e decentemente vestidas se abrigam, fugindo à responsabilidade de ajudar os seus irmãos e irmãs, que não têm nada na barriga e nem roupas decentes para se aquecer". Era o caso de Ellen Hughes Hunt, 52 anos, cujo suicídio se fundamentou na seguinte proclama: "Se tiver que ir para o abrigo, me afogo antes!"

A indiferença do Governo em relação às mais de 200 mil mortes pelo Coronavirus e a tragédia das asfixias em série, em Manaus, nos coloca perante um dilema ético e político: devemos esperar? A insanidade total de Bolsonaro nos gera uma insanidade (passiva) temporária? Pode ser, mas a hora é de superar todas as dúvidas antes que quaisquer temporariedades se transformem numa inércia congelada dos indiferentes.

Os "abrigos" eram a estocagem dos que saíam da produção por falta de saúde para trabalhar, como campos da morte para uma mão-de-obra já adoecida pelo calor fatal dos fornos da Revolução Industrial. Eles refletiam o período em que os personagens do trabalho se matavam – segundo os Tribunais – não pela infelicidade da miséria e da exploração ilimitada, mas – segundo boa parte das sentenças das Cortes Inglesas –  pela "insanidade temporária" dos que optavam pelo suicídio.

Os abrigos eram os espaços intermediários pelos quais fluía o caminho dos operários, operárias, crianças, jovens trabalhadores, em direção à descartabilidade completa: vidas tornadas cinzas nos fornos crematórios da gentileza burguesa. Crimes que se repetem nos dias de hoje, com novas mediações, novos personagens, mas mantida a procissão feroz – agora organizada pela voz do Estado – que soma o ódio à democracia ao estímulo do suicídio programado.

O Presidente já incidiu no art. 132 do Código Penal seguidas vezes (crime de perigo e dano iminente), já cometeu atos dolosos de improbidade e prevaricação e orientou seus Ministros que lhe seguissem, além de ser autor de outros diversos crimes de responsabilidade, que estimularam, não políticas de saúde, mas de mortandade. A derrota eleitoral de Trump e a reação da Câmara de Representantes dos EEUU, aprovando o "impeachment" do Presidente americano, reabre agora de forma radical a expulsão constitucional de Bolsonaro do Poder.

Um parágrafo sobre o Direito: a "exceção", que vigia e compõe qualquer ordem constitucionalizada, se dissemina dentro desta ordem, à medida que os grupos hegemônicos passam a dispensar os valores democráticos que estão presentes na Constituição do Estado. É o que ocorre com a alta base política bolsonarista: ela – cada vez mais – dispensa" os valores que viabilizam a sua dominação dentro a Lei – e que agora lhe prejudicam – para "manter" o mando: a partir desta situação este mando deixa de ser "consensual" e quer funcionar como arbítrio e desordem, inclusive com a visível construção de aparatos clandestinos de poder.

Estes aparatos e instituições ilegais – ou a leitura ilegal das instituições – que se apresentam na vida pública como se fossem "normais", devem ser bloqueados e seus instituidores julgados e condenados Nesta situação, permitir a continuidade de Bolsonaro é transformar a "exceção em regra" e a "desordem", da ordem constitucional, em nova ordem arbitrária sem Direito. Os covardes e oportunistas de todas as origens e laias já estão se bandeando para o negacionismo e a naturalização do genocídio, o que implica em dizer que os democratas e republicanos de todas as galáxias devem se colocar de acordo para retirar rapidamente o genocida do poder.

Estas, caro Presidente Maia, são as razões que me estimulam a lhe rogar que defira com urgência pelo menos uma das ações de impeachment, que estão nas suas mãos, e que podem ajudar o Brasil e seu povo a respirar e, assim, redesenhar um futuro sem medo e uma primavera de solidariedade e justiça, na nossa nação ameaçada. Cordiais saudações. Em determinados momentos históricos resta aos homens passarem para a História como personalidades contingenciadas pelo medo ou atravessarem-na com coragem e dignidade. E isso não é ideológico, é de escolha entre ser um estadista ou um apêndice do arbítrio e da morte.

(*) Ex-Ministro da Justiça, da Educação e ex-Governador do Rio Grande do Sul


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

SOBRE NOMES E CADELA PERDIDA

 Nos Estados Unidos, ao tempo em que foi grande  a imigração de alemães, milhares deles tiveram seus sobrenomes “ inglesados”, Basta que se deem dois exemplos:” Eisenhower” e “Smith”. Aqui no Brasil é uma pletora de nomes mal copiados. São fenômenos normais, frutos de menor instrução.

Encanta-me quando leio a Gazeta e lá estão sempre muitas referências a pessoas com nomes alemães escritos corretamente.

Há, porém, um costume em nosso país de a esposa adotar o sobrenome do marido, deixando fora o seu.

 Resultado, os filhos não têm incluído o da mãe e com isso desaparece uma raiz histórica, uma veia que sem dúvida foi e é importante.

Uma das minhas filhas, Milene Koerig Gessinger, que é Juíza de Direito em Tramandaí, tem dois filhos. Insisti muito que falasse com seu marido de sobrenome Bremm,para que um se chamasse Bremm Gessinger e o outro Gessinger Bremm. Não houve “acordo” , coisas de vô coruja. Tem que acatar.

Mas em contrapartida minha filha não  adotou o sobrenome do esposo. 

Minha mulher fez questão de adotar meu patronímico. Se nosso filho tiver descendência,permanece nosso nome . 

Minha mulher  quis que constasse no nome de casada o da mãe “ Genro”. Ficou Maristela Genro Gessinger.

Fiquei muito orgulhoso pois Adelmo Simas Genro, pai do meu querido amigo, filósofo,advogado Tarso Fernando Herz Genro,  é da família de Maristela. Nada a ver com política. Mas ela insistiu no nome Genro.Tarso pode ser controvertido, mas é homem de bem, nunca se soube de  um deslize seu.

Eu,  se pudesse dar um palpite , diria às noivas para ficarem com seus nomes de família.

………..


Sobre as  vítimas do bombardeio do primeiro dia do ano.

Xangri La tem várias redes sociais que avisam sobre pessoas suspeitas, coisas perdidas e também muito sobre cães e gatos extraviados.

Na fatídica noite da “entrada do ano novo”, coisa extremamente cafona, houve uma diáspora de cães. Até hoje muitos estão sumidos.

Tenho um vizinho na praia, cuja filha de 19 anos, foi passear na orla  com amigas.Aproximou-se dela uma cachorra e ficou se retoçando para a guria.

Acompanhou-a e entrou no portão. Em seguida se deitou pedindo carinho.

A menina lajeadense, Maria Luiza Fensterseifer, a alimentou. Seu pai pediu que a soltasse de volta para a rua.

Ante a dúvida de que a cachorrinha queria ou não sair, deixaram o portão aberto. A cadela ficou tomando posse do pátio.Rabo abanando.

Fizemos buscas e mais buscas pelas redes sociais. Espera-se alguém dar notícia.

Enquanto isso Maria Luiza aguarda e alimenta a vítima dos foguetes.Quer adotá-la.

Ainda existem anjos entre os humanos.


terça-feira, 12 de janeiro de 2021

TRUMP

 


TITO GUARNIERE 


 


TRUMP 


 


Mesmo para os padrões de Donald Trump, o final de governo foi um vexame e tanto. Trump, na Casa Branca, desempenhou vários papéis, nenhum deles memorável: o de "clown" que anima o auditório, o de bravateiro de baixa extração, o de menino birrento, o de "enfant terrible" das instituições americanas, o de canastrão mal-educado. Em momento algum foi o estadista bem assentado, cioso da magnitude do seu cargo, capaz de trazer paz ao ambiente conturbado da política. Em momento algum levou em conta a convenção virtuosa dos governantes civilizados, de agir com certo decoro e comedimento. 


 


E como poderia terminar bem um governo que ignorava a história, que desprezava a cultura e as artes, o processo civilizatório, para o qual o seu próprio país, os Estados Unidos, deu inestimável contribuição? O governo Trump desconhecia as sutilezas do convívio entre os povos, da diplomacia, das nuances de um mundo complexo e multifacetado. Um governo de ideias prontas e acabadas, de preconceitos arraigados sobre as questões da América e do mundo – uma fonte inesgotável de mentiras, um poço fundo de contradições. 


 


Teria o bufão imaginado que o assalto ao Capitólio, pelos seus seguidores mais exaltados, acenderia o pavio de uma revolta popular contra a "fraude eleitoral", capaz de provocar novas eleições e ou de reintroduzi-lo na Casa Branca, agora como ditador? 


 


Não é de se duvidar. O sonho dourado de todo golpista e de todo revolucionário é o de um evento menor, um incidente vulgar que incendeie a nação, mobilize os ressentidos de todas as vertentes, subverta as instituições vigentes e bote abaixo o status quo. Se era isso não deu certo. 


 


Para o homem comum, de razoável discernimento, foi uma patacoada, um insulto contra a democracia, uma tentativa de golpe. A direita trumpista porém, no melhor estilo do líder, além de minimizar a "tomada" do Capitólio, insinua que o vandalismo foi obra do Antifa e do Black Lives Matter, os movimentos que se opõem da forma mais vigorosa contra tudo o que representa o trumpismo. 


 


Se fosse só pela economia até que ele merecia melhor sorte – o desemprego na América caiu e a renda dos americanos aumentou. Poderia ter contado também com o mérito de que, durante o seu governo, poucos pais americanos tiveram de chorar a morte de um filho em combate no exterior. Trump, ao contrário dos seus antecessores, Clinton, Bush e Barack Obama, não iniciou nenhuma guerra nova. Mas o figurino pacifista não combina com Trump. Os seus amigos supremacistas brancos não iriam gostar. 


 


Foi uma eleição em que os maus modos, o egocentrismo doentio, o voluntarismo, a autossuficiência do presidente foram fatores decisivos. Trump, por exemplo, menosprezou o impacto da pandemia, e não demonstrou a menor empatia pelo sofrimento dos infectados, ou pela dor e o luto de 350 mil famílias que perderam entes queridos de 2019 a esta parte. Os democratas exploraram habilmente a má conduta do presidente e Joe Biden tomará posse na data marcada. 


 


Donald Trump, no crepúsculo do seu governo, com os incidentes do Capitólio, além dos seus defeitos conhecidos, volta para a casa em boa hora e com a fama de mau perdedor. 


 


titoguarniere@hotmail.com 

TRUMP



TITO GUARNIERE 

 

TRUMP 

 

Mesmo para os padrões de Donald Trump, o final de governo foi um vexame e tanto. Trump, na Casa Branca, desempenhou vários papéis, nenhum deles memorável: o de "clown" que anima o auditório, o de bravateiro de baixa extração, o de menino birrento, o de "enfant terrible" das instituições americanas, o de canastrão mal-educado. Em momento algum foi o estadista bem assentado, cioso da magnitude do seu cargo, capaz de trazer paz ao ambiente conturbado da política. Em momento algum levou em conta a convenção virtuosa dos governantes civilizados, de agir com certo decoro e comedimento. 

 

E como poderia terminar bem um governo que ignorava a história, que desprezava a cultura e as artes, o processo civilizatório, para o qual o seu próprio país, os Estados Unidos, deu inestimável contribuição? O governo Trump desconhecia as sutilezas do convívio entre os povos, da diplomacia, das nuances de um mundo complexo e multifacetado. Um governo de ideias prontas e acabadas, de preconceitos arraigados sobre as questões da América e do mundo – uma fonte inesgotável de mentiras, um poço fundo de contradições. 

 

Teria o bufão imaginado que o assalto ao Capitólio, pelos seus seguidores mais exaltados, acenderia o pavio de uma revolta popular contra a "fraude eleitoral", capaz de provocar novas eleições e ou de reintroduzi-lo na Casa Branca, agora como ditador? 

 

Não é de se duvidar. O sonho dourado de todo golpista e de todo revolucionário é o de um evento menor, um incidente vulgar que incendeie a nação, mobilize os ressentidos de todas as vertentes, subverta as instituições vigentes e bote abaixo o status quo. Se era isso não deu certo. 

 

Para o homem comum, de razoável discernimento, foi uma patacoada, um insulto contra a democracia, uma tentativa de golpe. A direita trumpista porém, no melhor estilo do líder, além de minimizar a "tomada" do Capitólio, insinua que o vandalismo foi obra do Antifa e do Black Lives Matter, os movimentos que se opõem da forma mais vigorosa contra tudo o que representa o trumpismo. 

 

Se fosse só pela economia até que ele merecia melhor sorte – o desemprego na América caiu e a renda dos americanos aumentou. Poderia ter contado também com o mérito de que, durante o seu governo, poucos pais americanos tiveram de chorar a morte de um filho em combate no exterior. Trump, ao contrário dos seus antecessores, Clinton, Bush e Barack Obama, não iniciou nenhuma guerra nova. Mas o figurino pacifista não combina com Trump. Os seus amigos supremacistas brancos não iriam gostar. 

 

Foi uma eleição em que os maus modos, o egocentrismo doentio, o voluntarismo, a autossuficiência do presidente foram fatores decisivos. Trump, por exemplo, menosprezou o impacto da pandemia, e não demonstrou a menor empatia pelo sofrimento dos infectados, ou pela dor e o luto de 350 mil famílias que perderam entes queridos de 2019 a esta parte. Os democratas exploraram habilmente a má conduta do presidente e Joe Biden tomará posse na data marcada. 

 

Donald Trump, no crepúsculo do seu governo, com os incidentes do Capitólio, além dos seus defeitos conhecidos, volta para a casa em boa hora e com a fama de mau perdedor. 

 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

A arte da resistência - Por João-francisco Rogowski

Li e concordo com as manifestações de dois diletos amigos meus, o Desembargador Ruy Gessinger e o Dr. Guilherme Socias Villela, eterno prefeito de Porto Alegre, publicadas no conceituado Blog do Ruy sob o título “A Noite dos Horrores” em que relata com toda razão, o declínio da civilidade, da ética e das regras básicas de boa convivência social tristemente observadas nesta temporada de veraneio no litoral gaúcho. In http://ruygessinger.blogspot.com Enquanto lia lembrava-me do Apóstolo Paulo quando disse em sua Carta aos Romanos que, onde predomina as trevas, também abunda a misericórdia divina, onde reina a morte, também reina a graça pela justiça de Deus. (Romanos 5:20-21). Diante da noite escura relatada - “A Noite dos Horrores” - vê-se pontos de luz como faróis a guiar os navegantes em mares bravios em noites tempestuosas, como é o caso da Operação Verão 2020/2021 do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS). Todos sabemos das dificuldades orçamentárias do Estado, agravadas pela pandemia, mesmo assim, o Corpo de Bombeiros Militar (CBMRS) superando todas as dificuldades, vem ofertando a população no litoral, um magnífico trabalho através de seus Guarda-Vidas. Na sua maioria são moças e moços, alguns de famílias da classe média, outros de famílias mais humildes, uns são universitários, outros não, mas todos têm em comum o fato de terem passado por um rigoroso processo seletivo físico e psicológico, portadores de elevados valores éticos e morais, espírito solidário, empatia, amor ao próximo, riquezas imensuráveis e que vêm de berço, ainda encontradas no seio das boas famílias, especialmente as interioranas. É a arte da resistência! Temos que aprender com essa juventude maravilhosa a resistir aos dias maus, enfrentá-los e vencê-los como fazem esses guarda-vidas, jovens guerreiros da luz, que efetuam diariamente dezenas de salvamentos no mar, arrancando das garras da morte preciosas vidas que seriam tragadas nas profundezas das águas. Nas pessoas de José Alex Martins Antunes e Marcus Rafael da Silva Packaeser, homenageio a todos os integrantes do CBMRS e suas famílias, aos quais rendo as minhas mais sinceras homenagens, parabenizando também ao Tenente-Coronel Cláudio Morais, Comandante do 9º Batalhão de Bombeiro Militar (9º BBM); Major Isandré Antunes, Chefe da Assessoria de Operações e Defesa Civil do CBMRS, pelo esplêndido trabalho que o CBMRS vem realizando nas praias gaúchas. ________________________________________ João-francisco Rogowski, Jurista, Escritor, Advogado Empresarial, Consultor de Negócios. E-mail: rogowski@sapo.pt ________________________________________ Tags: guarda-vidas, salvamento aquático, corpo de bombeiros, cbmrs, brigada militar, lifeguard service.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

MAIL DO ETERNO PREFEITO GUILHERME S. VILELLA

"A humanidade custou milhares de anos estabelecendo preceitos para que todos convivessem em harmonia. Os transgressores nos chavearam dentro de casa. Chegou finalmente a segunda- feira. Sumiram-se os vândalos. A praia é de novo nossa. Mas sábado e domingo voltaremos ao cárcere." Amigo Ruy: Conheço esse martírio (ut supra). Há algum tempo, tive casa em um condomínio em Atlântida. Mas, antes, aluguei um apartamento no Centrinho de Atlântida. Lá, para dormir era difícil (havia até garrafas vazias voadoras. Aladas!). Havia anjos caídos - lembrando John Milton. Nos últimos anos veraneei na casa de Ana Pellini, em Xangri-lá, com quem tenho, há anos, um grande "patrimônio sentimental." Abraços. Guilherme Socias Villela. P.s: Ando procurando o perfil de quem poderia ser um futuro presidente da República. Por enquanto, acho que seria algo assim - se não for pedir demais: estadista, honesto (que não seja do Rio ou de Brasília, áreas contaminadas), que tenha cosmovisão, que não seja boquirroto (parafraseando Romário, que, calado, seja um poeta), que não tenha filhos, e que não seja atormentado pela inteligência! Enfim, para tal, Jesus Cristo parece de bom tamanho.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

A NOITE DOS HORRORES

Está acontecendo algo muito errado. Vão se esvaindo, a cada ano, noções de bom comportamento. Penso que talvez seja nossa índole que está no nosso DNA moral. Tenho casa na praia, em Xangri Lá, a uma quadra do mar. Quando começou a pandemia decidi me mudar para essa casa, que de resto tem todo conforto e excelentes vizinhos que também decidiram ficar no litoral, enquanto a coisa não se normaliza. Nos supermercados e na rua todos comportados, guardando distância, usando máscara, obedecendo às normas de trânsito, geralmente todos acostumados com as rótulas e seus consequentes cuidados.. Pois bastou chegar o Natal e tudo começou a se deteriorar. Hordas andando pelas ruas sem máscaras, sons a todo volume, tanto nos carros como em aparelhos na praia. Quando a pandemia se estabeleceu as praias estavam quase desertas. A polícia militar, no entanto, ficava abordando os transeuntes, retirando-os da orla. Autoridades fecharam os clubes de tênis, proibiram mil coisas. Nós , como ovelhinhas dóceis no rebanho, nos curvamos em prol da vida. O Natal perdeu completamente seu sentido. Agora ele ficou com a missão de reunir amigos ruidosos, com muita bebida alcoólica, gritaria , automóveis andando em velocidade pela orla. E aí ninguém mais daqueles que no inverno obstavam as simples caminhadas, agora não estão vendo nada. Interpelei um dos policiais e lhe perguntei se não estava vendo o que acontecia. Deu de ombros. Mas tudo ainda era um prólogo do pior que estava por vir. No dia 30 de dezembro já não se podia mais dirigir, tamanha a quantidade de pessoas embriagadas e, por isso, perigosas. Nos supermercados uma grande aglomeração. Por sorte nós nos tínhamos prevenido com os víveres. O pior, no entanto, aconteceu dia 31. Aí o boi se foi com a corda. A civilidade foi à breca. A orla tomada de gente, pouquíssimos com máscara, garrafas atiradas no chão. Mas haveria o pior. No começo da tarde começaram os foguetes. Nós temos duas cadelas que se desesperaram. Fizemos o que deu para as acalmar. Para evitar que se ferissem, dado seu medo, ficamos sempre perto delas, dentro de casa. O foguetório com mil decibéis foi até a noite do dia primeiro do ano. As drogas estão sendo consumidas sem pudor ao lado das guaritas. O xixi é realizado a céu aberto, na frente de crianças. A humanidade custou milhares de anos , estabelecendo preceitos, para que todos convivessem em harmonia . Os transgressores nos chavearam dentro de casa. Chegou finalmente a segunda- feira. Sumiram-se os vândalos. A praia é de novo nossa.Mas sábado e domingo voltaremos ao cárcere.

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

SOBRE CACHORROS, NOSSOS AMORES

TITO GUARNIERE JOBIM FOI PARA O CÉU Morreu Jobim, nosso segundo boxer. O primeiro foi Elvis, que se foi há uns 12 anos. Na mesma semana de sua morte adquirimos um filhote de três meses da mesma raça. Chamamos-lhe Jobim em homenagem ao maior músico da MPB. As duas primeiras noites de Jobim não foram agradáveis: ganiu desesperadamente, não deixou ninguém dormir. Mas logo descobriu que havia coisas mais interessantes a fazer. E saiu para explorar as circunvizinhanças. Jobim, como os de sua raça, tinha uma cara meio assustadora, mas era pura impressão. Dócil e obediente, raramente quebrou a regra de não poder entrar em casa. E quando o fez, por distração ou teimosia, um olhar bastava para que voltasse ao seu lugar. Exceção: nos dias de trovoada entrava casa adentro e de lá só saía depois de passar a tempestade. Os cães têm ouvidos sensíveis - detestam o ronco de motocicletas, e ficam apavorados com estrondos de trovão e de fogos de artifício. Num final de ano qualquer, Jobim ficou em casa sozinho, e com o foguetório do réveillon, fugiu em desespero. Fomos à procura dele cheios de remorsos - já sabíamos do medo que o barulho estridente lhe causava. Colamos cartazes em postes, anunciamos a perda em sites de animais, vasculhamos as redondezas, andamos quilômetros atrás de uma pista. A cada pista falsa, a cada dia que passava, fomos perdendo o ânimo, e lá pelo décimo dia nos demos por vencidos, rezando para que uma alma boa o tivesse acolhido. Naqueles dias aprendemos uma bela lição: apesar de todo o mal e a indiferença no mundo, há muitas, muitas pessoas de alma bondosa que se interessam e ajudam como podem nessa situação. Tanto é assim que um anjo, digo uma moça (Denise) nos ligou, dizendo ter avistado um boxer que lhe pareceu desorientado. Deu uma volta enorme na estrada, aproximou-se, deu-lhe água, ganhou-lhe a confiança. No celular, e dali mesmo, procurou nos sites de animais e logo encontrou o anúncio do cão perdido. O anjo embarcou Jobim no seu carro e levou-o até nossa casa de praia. Foi uma festa. Foi a grande aventura de sua vida. Ficou uns dias meio sestroso mas logo, logo voltou ao que sempre foi: enérgico, vivaz, curioso, exultava de alegria no convívio conosco, era popular entre os vizinhos, os parentes, os amigos que frequentavam nossa casa. Como é comum nos boxers, Jobim adorava crianças. Ele gostava das minhas netas e o sentimento era recíproco. Quando elas chegavam ele não sabia o que fazer, ficava tonto de alegria. O fato é que Jobim, companheiro de todas as horas, já um pouco velho e doente, foi definhando até que o coração parou de bater. Apesar da vida breve e da tristeza da partida, valeu a pena. Os animais de estimação têm muito a nos ensinar em paciência, moderação e amor incondicional. São gentis e carinhosos - às vezes param e ficam nos admirando com um olhar comovido de ternura e afeição. Gostar deles, abraçá-los, conviver com eles, nos faz melhores e mais humanos. Jobim partiu, sentiremos falta, mas frequentará nossas lembranças e nossos melhores sonhos. Como disse Maria Clara, nossa netinha de quatro anos, para a avó: "Vó, não chore, o Jobim foi para o céu dos bichos". titoguarniere@hotmail.com

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

XANGRI LA - ESTAMOS REFÉNS DAS FACÇÕES?

ALGO VAI MUITO MAL Tenho casa perto do mar, a uma quadra precisamente. Vizinhos amigos, muitos de nós viemos para nos abrigarmos da Covide e acabamos por ficar em Xangri La, cidade pequena, mas que tem tudo. Belos restaurantes, Clube de Tênis, um mar bem amistoso. Serviço público bom, um mar limpo. Enfim, era um paraíso. Até chegarem hordas, não se sabe de onde surgiram, com carros de som, bebendo desbragradamente. Não eram gente da cidade. Aparecem em alta velocidade, se drogam na cara de todo mundo, embriagam-se , passam soltando fogos. A a Polícia não vê ou não quer ver nada. Temos que fugir para dentro e nossas casas. Eles andam pelas ruas carregando caixas de som. Atiram garrafas fazias no chão.Ninguém usa máscara. Urinam na frente de crianças. Eu já aprontava a casa para voltar a P.Alegre .Foguetes das 10 às 10 do outro dia. Nessa manhã desapareceram. Sexta de noite voltam para nosso desespero. Selvageria. Está perdido o controle Será que não é possível a polícia ao menos atacar e autuar ? Será que esse pessoal que desce não é de facção? Aí é outra história....