sábado, 24 de dezembro de 2022

SOBRE NATAL E ANO NOVO

 Vamos recapitular.

Nasci em Linha Arlindo onde meu pai tinha um pequeno armazém. Naquele tempo o nascimento não era complicado: meu pai chamou uma parteira que assistiu ao parto em casa mesmo. Apesar das advertências da minha mãe,  que não queria outra criança tão logo, meu pai alegou que mulher  não engravidava enquanto desse de mamar. Resultado: minha irmã Lia nasceu antes que eu completasse um ano.

Meu pai se mudou para a cidade em Santa Cruz e abriu um armazém de secos e molhados  na rua Thomas Flores, na esquina com João Alves. Isso quando eu tinha 6 anos.

Na época a cidade parava  praticamente aí.

Nos domingos o pessoal da colônia vinha de carroça para assistir a missa bem de madrugada. Lavavam os pés nos fundos do nosso armazém .

Naquele tempo o Natal era algo muito lindo. As mães montavam vistosos enfeites, que elas mesmas faziam. Os pinheirinhos eram naturais.

Os presentes eram muito poucos, mas nos traziam muita alegria.

Enquanto eu era solteiro  sempre passava o Natal com meus pais.

Aí aconteceram uma série de evoluções. Ao me casar logo vi que os costumes da minha então  esposa eram diferentes dos da minha família. Não digo melhores ou piores. Eram diferentes.

Pouco a pouco notei que o Natal, em muitos lares, não tinha as cantorias e rezas a que estávamos acostumados.

O consumo foi se apossando de quase tudo. As crianças passavam a  nadar em presentes. 

Ao invés das simples refeições e orações, alguns natais se transformaram em foguetórios.

Resolvi  me esconder, com a família, em lugares calmos e silenciosos.

Acontece que os filhos crescem, casam, têm seus filhos. Por vezes vão morar em lugares distantes. 

Meu filho mais velho mora com sua família na Alemanha. Já está há cinco anos e não tem planos de voltar.

Resumo da ópera: nem sempre se consegue reunir todos em seu torno. 

Decidimos então, minha esposa do segundo casamento  e eu, passarmos o Natal na fazenda, comendo algo frugal e dormindo cedo. 

Lá não chega o barulho dos fogos de artifício.

Não nos arriscamos mais a ficar na cidade no dia primeiro do ano. Aí sim é um horror  para cães e outros animais, principalmente nos balneários. O foguetório faz os pobres animais entrarem em pânico. Muitos fogem de casa. O estrondo  dos fogos machuca o tímpano dos nossos irmãos animais.

Como é que tem gente que gosta disso?

Esse é o preço que se paga quando se tem mais idade: ao fim e ao cabo se constata que o divino aniversariante é totalmente esquecido.

Aos poucos as orações e as tradições desaparecem e em seu lugar reina o nada.

Estarei em erro?