segunda-feira, 4 de outubro de 2021

VENDO A MORTE DE PERTO

 Diz a lenda que, de tanto vai o pote à fonte , que um dia se quebra.

O homem é uma criatura incrível. Para tudo, desde o nascimento, tem que aprender desde o início. Leva um tempão para se desenvolver. Até poder se locomover vão anos de aprendizado e desenvolvimento. Incrível como os terneiros nascem numa madrugada de geada e horas depois saem atrás da mãe.

Eu nunca quis falar que quando bois ou vacas passam num lugar onde há pouco morreu um semelhante, se põem a mugir, como se fosse choro. Achei que seria motivo de chacota. 

Nós, como os animais, temos   premonições.

Dito isso, quero relatar o que houve comigo na estrada.

Vamos lembrar que nossa fazenda situa-se em Unistalda, um município com muita área, mas pouca população. Em qualquer fazenda há mais bois e vacas do que pessoas em  toda a cidadezinha. Não consultei o IBGE mas deve ter 3.000 habitantes.

Unistalda  não é pouca coisa. Só a Pecuária Gessinger arrebatou na Expointer, tempos atrás , um grande campeão da raça ideal e três Grandes campeões de Ile de France.

Para chegar à nossa fazenda eu saio de Porto Alegre, vou pela Br 290, dobro à direita para São Sepé, vou a Santa Maria, pego a 287, passo por São Pedro do Sul, São Vicente, Jaguari, chegando em Santiago. De lá , mais 30 kms para Unistalda.

Certo dia acordei cedo, 4 horas da manhã, e iniciei o retorno para Porto Alegre, voltando da fazenda.   Ao passar por São Sepé entrei na 290 e iniciei a rota que me levaria às pontes do Guaíba. 

Numa reta ( lembremo-nos que a pista é simples e não duplicada) vinha, em sentido contrário, uma extensa fila de caminhões e ônibus. Nada à minha frente nem atrás. Num dado momento não é que sai um carro pequeno do meio da extensa fila do outro lado?

Indizível o que senti, pois vinha a 80 quilômetros por hora.  O carrinho a poucos metros de bater de frente na minha SW 4. Em um átimo de segundos, que durou não sei quanto tempo, fiquei triste, muito triste, sabendo que ia morrer. Naqueles segundos me lembrei dos meus familiares e recordo bem que pensei: “ vou morrer”.

Um anjo da guarda  abriu seu caminhão para o acostamento e assim permitiu que o carrinho voltasse para a direita. Da minha parte, tudo em milésimos de segundos, infleti para o acostamento à minha direita. A caminhonete  quis capotar mas consegui dominar a situação.

Parou todo o trânsito e eu ali completamente sem saber o que fazer.

O carrinho não parou e tratou de sair daí.Esperei quase uma hora, encostei num posto e desabei.Chamei meu filho Rudolf que veio me buscar.

A morte tem cara. Eu vi.