RUDOLF GENRO GESSINGER
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Ruy
Armando Gessinger, meu pai, foi o segundo homem natural de Santa Cruz do Sul a
tomar posse como Desembargador no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul,
formado em Direito pela UFRGS. Além de ter sido, na juventude, delegado de
polícia e advogado, ele fez carreira como juiz de direito, atendendo as
comarcas de Horizontina, Arroio do Meio, Santiago, Ijuí, São Leopoldo e Porto
Alegre.
Nas primeiras duas comarcas, meu pai
foi o primeiro juiz. Há cinquenta anos, a subseção da OAB de Santiago foi
criada também com a ajuda dele.
Naturalmente, ao longo de toda a
carreira dele aconteceram muitas histórias de julgamentos importantes do qual
meu pai participou ou das causas em que ele defendeu quando advogado, ofício
que voltou a exercer depois de se aposentar da magistratura. Ele adora – e
sabe- contar essas histórias, caprichando nos detalhes.
Meu pai tratava com lhaneza os
advogados. Sempre buscava conciliar as lides, sendo equidistante entre as partes,
mas auxiliando que achassem um denominador comum para encerrar a contenda. “Não
pode deixar o processo dar cria”, é uma frase que traduz a filosofia que ele
tinha ao analisar uma causa.
É salutar para a evolução da sociedade
que o tempo passe, deixando para trás características bonitas ou feias das
épocas. Mudanças precisam acontecer, mas não sempre de forma radical ou
revolucionária.
Eu peguei o final da época do processo
físico. Muito forcejei pelos balcões dos fóruns Rio Grande do Sul a fora para tirar
cópia daqueles cadernões. Era importantíssimo saber o nome de quem te atendia
no balcão: fazia a diferença na hora de priorizarem alguma petição tua.
Em comarcas distantes, era fundamental
ter um correspondente. Outro advogado para auxiliar com diligências ou mesmo
para fazer uma audiência. A advocacia do interior sobrevivia disso.
Na sala dos advogados, quase sempre
encontrei ambientes agradáveis, onde os colegas se juntavam para tomar um
cafezinho e trocar experiências. A digitalização dos processos e a pandemia se
encarregaram de praticamente extinguir esses momentos.
As revoluções vêm. Às vezes não para
melhor, mas para sempre. Há também os retrocessos disfarçados de revolução.
Nos últimos meses, o Conselho Nacional
de Justiça (CNJ), a entidade que deveria fazer o controle de qualidade do Poder
Judiciário em todos os âmbitos, tem feito um lamentável esforço para acabar com
o direito de os advogados fazerem sustentações orais nos Tribunais. É uma
postura, no mínimo, contra as bases da cidadania.
Não sei se ainda há juízes em Berlim; jamais
haverá advocacia calada.