terça-feira, 7 de abril de 2015

AINDA A MAIORIDADE PENAL - ARTIGO DE BERENICE KOERIG


MAIORIDADE PENAL

Berenice Koerig
 

O aumento da criminalidade em nosso país, banalizado irresponsavelmente pela mídia, e a participação “conveniente” de menores nos delitos de pena máxima levam segmentos da sociedade a cogitar a alteração da maioridade penal. Sem considerar a condição de depósito de gente dos nossos presídios, os que defendem a modificação da lei observam modelos estrangeiros, ou inspiram-se no Código Criminal do Império, para preconizar a redução de dezoito para dezesseis ou catorze anos a idade de responsabilização criminal do indivíduo. Com isso, tenta-se, mais uma vez, encontrar uma solução paliativa para os efeitos, quando se deveriam buscar as causas.

Por que um adolescente mata? Por que um jovem, menor de dezoito anos, comete latrocínio (roubo seguido de morte)? Essas são as indagações que deveriam mover a análise da criminalidade juvenil, para efeitos de alteração da lei. São questões que me acorrem com a mesma frequência de divulgação pela mídia de fatos delituosos. Excetuando-se as psicopatias, não há como isentar a crise de autoridade, que identifica o mundo moderno, de contribuição para essa calamidade.

A meu juízo, tudo começa na família, quando repassa integralmente para a escola o dever de educar, restringindo-lhe, contudo, o correspondente direito ao exercício da autoridade. O antigo e extremo argumento, “O professor sempre tem razão”, daquele pai que conhecia bem seu filho, sabia de seus “méritos” e do que o mestre podia fazer por ele, hoje é substituído por atitudes também extremadas de pais que, pouco se envolvendo na vida dos filhos, promovem o individualismo e estão sempre prontos a defendê-los da autoridade da escola.

Considerar-se, a priori, a promoção da disciplina uma violação dos direitos é deslocar a ordem do seu posto na escala de valores numa sociedade organizada e pacífica.

Sem prejuízo de providências legislativas sobre a responsabilização penal de maiores de 16 anos, convém, antes, refletir sobre o que realmente poderia implicar diminuição da criminalidade juvenil. E para corroborar a reflexão, deixo a pergunta: o que é mais sensato, permitir que a escola estabeleça limites para comportamentos socialmente inadequados da criança, ou cercear a liberdade desta um pouco mais tarde, enviando o adolescente para as verdadeiras escolas do crime, que são os presídios brasileiros?