Estava eu hoje no 11. andar do Tribunal de Justiça, onde fui entregar uns memoriais.
Ao sair do Gabinete topo com um amigo que não via " hace tiempo". Como ele ainda é magistrado da ativa, cumprimentei-o discretamente, mas ele veio ao meu encontro e me envolveu num abraço apertado. Eu acompanhara umas vicissitudes suas, coisa não rara nas carreiras jurídicas, que resultaram numa preterição na promoção. Ele me perguntou se eu soubera. Respondi-lhe que sim e que eu mesmo levei umas "caronas" que tive que engolir em seco. Falei-lhe que não guardasse mágoa, que em seguida seria promovido, que mais importante era sua respeitabilidade.
Notei que se emocionou e nos demos um novo abraço e o liberei.
Em direção ao elevador, tropeço com um serventuário de quem sempre gostei muito. Nos relinchamos e ele disse que sempre que vai a São Borja vê a placa da Pecuária Gessinger e fica com vontade de chegar. Charlamos um pouco e desci até o primeiro andar. Havia uma manifestação, um protesto na frente e os guardas do Tribunal, todos de terno preto, fazendo a segurança e preservando as galas da Casa da Justiça. Um deles, já de cabelos tordilhos , veio em minha direção e me deu um abraço.
Apesar da canícula decidi vir a pé de volta ao escritório. E vinha pensando: meu Deus, quantos amigos encontrei na vida? os da infância em Santa Cruz, os da Faculdade, os colegas juízes, os amigos das comarcas onde andei, os dos clubes, como a Libanesa, onde nunca mais fui.
Pensei , num momento de delírio: que vontade de promover uma festa monstro, nem que me custasse 100 ou 200 novilhas e reunir, com boca livre e hospedagem, todos os amigos dos quais me lembrasse, com três dias de cantoria e festejos.
Cogitava desse devaneio já a sério quando me dei conta: um só que eu esquecesse e estava feita a porcaria. Iria me incomodar o resto da vida.
" Deixêmo", como se diz em Unistalda.
Mas amizade vale muito. Nunca um amigo devemos perder.