RECOLHENDO INDÍCIOS
Estava eu no início do 4ª. Ano de Direito da UFRGS, quando
soube que haveria um concurso para Delegado de Polícia, em que eram aceitos
candidatos que ainda eram acadêmicos de Direito. Os aprovados ficariam um ano
na Academia de Polícia, percebendo uma verba equivalente à metade do que
pagavam ao delegado. Maravilha: era minha redenção financeira.
Pois não é que fui aprovado, aos 21 anos? Cursada a
academia, classifiquei-me em primeiro lugar da turma. Não sei se mereci, mas
estudei muito, principalmente , a cadeira de Investigação criminal. A palavra
chave era: olhar bem a cena do crime.
Corta para um ano depois, quando fui nomeado Delegado de São
Jerônimo.
Lá na delegacia havia um sujeito muito estranho,
chamado Paulo Santana, ao que me consta , na época, inspetor de polícia, isso
em l968. Passava usando uma camiseta do Grêmio e, aos sábados,participava
de uma programa de TV chamado Conversa de Arquibancada. É o mesmo Paulo
Santana,para uns um gênio da Zero Hora e, para outros, um idiota. Ainda não
formei minha opinião, mas para burro ele não servia.
Um dia comunicaram que um incipiente mercado, chamado
Lebes, havia sido assaltado numa noite em que jogavam Santos e Grêmio.
Fui lá ao local do assalto e , mesmo sendo um mero piá,falei aos veteranos
investigadores, que sabia quem deveríamos procurar. Riram-se alguns,
entre os quais o Santana. No chão estava um cofre virado e arrombado. E, ao
lado, havia um sapato,do pé direito, ensanguentado. Também ao lado havia um
chinelo do pé esquerdo, sandálias havaianas, intacto. Faltava o pé direito.
- Gente, temos que ir aos hospitais, pois um dos caras que
derrubou o cofre sofreu um acidente, seu pé direito deve ter sofrido uma
fratura. Ele tirou o sapato e , em seu lugar, meteu a havaiana.
Não deu outra. Em P.Alegre achamos uma entrada no Pronto
Socorro com essas características, fomos ao endereço e achamos o gajo.
Quando me formei em Direito, em 17 de dezembro de
l969, pedi demissão e fui advogar.
Me apavorei quando um que acompanhava nas investigações, não
era o Santana, nem ninguém da DP que eu chefiava, sugeriu que tirássemos
o gesso do preso e torcêssemos seu pé, para ele confessar.
Hoje isso é coisa do passado, “ Deo gratias”.
Teria mais coisas para contar. Mas alguns episódios vou
levar para o túmulo,” rectius”, para a cremação.