Estou tomando chimarrão, enfeitado com um raminho de
Macela, enquanto penso nas duas pessoas para sempre incrustadas, feito pedras
preciosas, em minha alma. Falo aqui de uma delas. Na minha infância não havia dia do pai,da mãe, da
criança. Mas isso era um tempo em que todos os dias eram dias para serem
vividos juntos, um tempo em que que se aprendia o sentimento de pertencimento
através da união de esforços pela reprodução da vida, pelo bem coletivo; em que
se aprendia valores na convivência e no contato com o mundo natural. De meu pai
aprendi a valorizar as coisas pelo que significam e não pelo preço. Com
ele aprendi desprendimento. Com ele aprendi a felicidade contida no ato de
presentear em si. Dar, doar sem esperar algo em troca, sem interesses outros
que não o sentimento advindo do ato em si.
Ao meu Papa Erwin foi reservado vida curta e muito
laboriosa. Era um ser suave, sua fala era suave, sempre muito contido, eu era
sua parceira no chimarrão desde pequenina. Gostava de me colocar sentada sobre
suas pernas cruzadas, segurava minhas mãos frágeis e juntos cantávamos: “Hopp,
hopp, hopp, Pferdchen lauf galopp. Über Stock und über Stein ....”
Minha eterna saudade está impregnada de muitas marcas
suas, entre elas o dia em que juntos pescávamos, ambos com água até o joelho, e
ele partilhava comigo seu sonho de aliviar sua carga pesada de trabalho
que ia desde o vislumbrar das primeiras luzes do dia até o cair da noite.
Então viria mais vezes me visitar e juntos iríamos fazer muitas pescarias. Uma
semana depois ausentou-se para sempre, sem aviso prévio. Contava então 56
anos. Para sempre ausente, continua presente em cada chimarrão.