Digníssimos Confrades, Ivanhoé e Ruy.
Crise da Democracia e o Centro Acadêmico da Filosofia
Há alguns dias reafirmava,
entre amigos, um conceito que já emiti - com baixa aprovação - em diário
estrangeiro, não há crise de democracia em um país onde pessoas declaram-se,
livremente, leninistas ou trotskistas e, pior, como são incapazes de ler ou
interpretar textos que contem mais de 140 caracteres, são cooptados através de
instrutores baseados em manuais de convencimento e de guerrilha assinados por
grandes cientistas políticos, tais como Josef Stalin, Mao Tsé-Tung e o
indefectível Comandante Fidel.
O que há, sim, no mundo
inteiro, é uma carência grave de homens de princípio, qualquer princípio. Senão
vejamos a facilidade com que um quadrilheiro domina a comunidade em seu entorno
substituindo plenamente o Estado omisso. Ele administra justiça, contemplando
do cível ao criminal, se utiliza de força policialesca de alta eficiência
garantindo a segurança pública e o bem-estar social, ainda que paternalista e
centralizador, dando acesso à luz, água, gás, telefone, internet banda larga,
TV por assinatura, entretenimento [bailes, futebol, carnaval], transporte
público e assim vai.
Assim, não faz falta ao homem
comum que os princípios aqueles sejam pautados por padrões morais e éticos
universalmente aceitos como corretos, desde que sejam princípios e a norma de
convivência seja clara a comunidade vive feliz. O homem comum não necessita que
o líder da comunidade em que vive seja um ídolo, de ídolos ele está bem,
existem os esportivos, artísticos os religiosos e, informado que é, o homem
comum sabe que ao fim os ídolos resultam serem moldados em adobe que, ademais
de possuir um talento especial, são todos humanos e, quando expostos, não
resistem à força das tempestades.
O exercício obrigatório do
voto, que descamba em livre exercício da democracia e plena vigência do estado
de direito, desafia o homem comum em suas crenças, propõe-lhe o paradoxo da fé
sem objetivo [pois sua irmã, a fé cega, está morta], a fé do soldado velho que
deve sempre escolher dentre os males o menor. Quanto aos políticos, é senso
comum a frase do Barão de Itararé: “de onde menos se espera, é dali que não sai
nada mesmo”.
Do outro lado, os legítimos
representantes do homem comum, exercem seus mandatos como se o município, o
estado, o país, nada mais fossem do que o “centro acadêmico da faculdade de
filosofia de uma universidade pública” [gratuita e de qualidade devem vir
junto, sempre]. Aqui não há guerras por serem travadas, não há clausulas
pétreas por defender, não há direitos fundamentais por garantir. Aqui há
pequenas batalhas do dia-a-dia, há casuísmos por exercer, há privilégios por
manter, há o esperar que o acaso nos brinde com um novo escândalo, uma nova
acusação de má gestão financeira. Sim, pois para tudo isso, teremos o discurso
preparado, contra os golpistas, os antidemocráticos, a direita.
Sentados esperamos - de
preferência num meio de transporte, pago por quem não quer se incomodar, rumo a
um congresso que pode deliberar novos rumos para a humanidade ou a data e o
local para o congresso do ano que vem – arregimentando forças para na próxima
eleição mantermos as rédeas do centro acadêmico em nossas mãos, garantindo a
continuidade, sinal do êxito de nossas propostas.
No amor, na guerra e na quadra
eleitoral, tudo vale. Alianças espúrias, conchavos entre interesses
[teoricamente] conflitantes, promiscuidade entre o público e o privado, cooptar
categorias profissionais numerosas e mal remuneradas, como policiais e
professores, que aparentam não serem dotados de senso crítico ao se renderem à
quebra de hierarquia e ao aceno de melhores salários. Mandam educar e não dão
os meios, mandam reprimir e não assumem os exageros. Sujeitam-se aos baixos
indicadores de qualidade de ensino e aos aquartelamentos [sublevações veladas].
Pueris, desejam aceitação incondicional, imaginam que “só um pouquinho” tudo
pode, à revelia do respeito pelas instituições.
Desconstroem o Estado Nacional
sem levar em consideração, por não terem aprendido – assim como não fazem
questão de que seja ensinado - que ele é muito maior do que seus interesses
pessoais e eleitoreiros, esquecendo que a Nação somos todos nós, foram nossos
antepassados que a implantaram e serão nossos descendentes que haverão de
desfrutá-la. A Nação se constrói a cada dia e, sendo maior do que o próprio
tempo, não está sujeita aos caprichos do acaso nem dos modismos permissivos das
ideologias.
“Não somos enganados nunca:
somos nós que nos enganamos a nós mesmos”. [Johann Wolfgang von Goethe]
Saudações ovelheiras!
Ivan Saul D.V.M.; M.Sc.Vet. -
Granja Po'A Porã, 05/jul/2013.