Zeitgeist, o espírito do tempo
As recentes e fortes
manifestações de rua que vivenciamos no Brasil têm algo em comum com as que
ocorreram mundo afora. E que continuam acontecendo, seja no Egito ou na
Turquia, nos Estados Unidos ou na Espanha, na Grécia ou em Portugal, e em
tantos outros lugares.
Se diferentes as origens e as razões
dos protestos de cada lugar, bem como o conjunto das reivindicações, isso quando
existente e explícito, o que há, então, em comum?
Em comum, as manifestações têm a
presença e o ativismo dos jovens. Que relativamente aos seus pais são
mais escolarizados e socialmente menos conservadores. Multifacetários cultural
e politicamente, são frutos da diversidade e ação das redes sociais.
Tecnologicamente equipados e
conectados, acessam toda a gama de informações, conhecimentos e oportunidades.
Contrária e negativamente, porém, não conseguem usufruir e gozar de oferta de
bens e serviços públicos, principalmente. Nos casos mais graves, é o fantasma
do desemprego e da desocupação. Então, não importa a nacionalidade, nem o
idioma, a demanda central é a mesma: mudanças!
O entrave principal parece ser e residir
nos modelos e sistemas tradicionais de representação e governabilidade, agora
em evidente conflito, contradição e confronto com as ditas e aceleradas
transformações sócio-comportamentais.
Não é a toa que o próprio conceito,
organização e hierarquia do que denominamos “democracia” está em
discussão. Entre o virtual e o real, o mote agora é o recém
denominado “quinto poder” - a internet e as redes sociais - e a conseqüente
“horizontalização” da política!
Ainda que as evidências e a indignação
coletiva indiquem que a ordem e organização sócio-política são injustas e
insustentáveis, os atuais detentores de poder formal resistem e renovam seu
ânimo de continuísmo e manipulação, motivados, principalmente, pelas
reivindicações difusas e a ausência de líderes.
Mas está enganado quem pensa que esses
movimentos são passageiros e efêmeros. Ou se adapta e promove mudanças, ou vai
“bailar”. É famosa a frase e conselho do escritor, político e
primeiro-ministro inglês Benjamim Disraeli (1804-1881): “- Majestade, o povo
está insatisfeito, e quer mudanças. Se essas mudanças não forem feitas por nós,
serão feitas sem nós, e, o que é pior, contra nós”.
Concluindo, possivelmente estejamos
vivenciando uma mudança no espírito do tempo. Fruto de reflexões de pensadores
alemães do século XVIII, a expressão Zeitgeist significa espírito de uma época,
sinais de um tempo, aquilo que retrata um ambiente intelectual e cultural de um
determinado momento histórico.
( publicado em Gazeta do Sul de hj)