Falas
também dos cemitérios na Alemanha. Em Tübingen costumava caminhar pelo Stadtfriedhof
aos domingos à tarde. Visitar os poetas Hölderlin e Uhland e divagar sobre a
vida e a morte.
Em
Hamburg, certa vez fui ao Ohlsdorf, o maior Parkfriedhof cemitério do
mundo, decidida a encontrar o túmulo de um de meus escritores prefiridos,
Wolfagang Borchert, falecido em 1947. Munida de um mapa do cemitério fiz minha
peregrinação, depois de muito andar o encontrei. Em pleno frio de março ele
estava florido de Stiefmütterchen. Sentei-me ao pé do túmulo e li para
ele algumas de suas poesias e algumas de suas Kurzgeschichten.
Depois
que conheci os cemitérios na Alemanha (verdadeiros parques arborizados ,
túmulos floridos com flores plantadas, bancos onde tudo convida para um
deixar-se vagar, meditar sobre o sentido da vida e da morte) venho prestando
mais atenção ao tratamento que nós damos aos nossos cemitérios, aos nossos
mortos. Campos áridos, sem árvores, sem flores plantadas e cuidadas, sem
bancos. Em seu lugar, cada vez mais estamos ocupando cada palmo com concreto,
erguendo muros com gavetas. Estamos engavetando nossos mortos. Não lhes
permitimos se incorporarem à terra mater de onde toda vida procede. Aqui
chegou-se ao cúmulo de instalar um cemitério totalmente vertical e foi
denominado de JARDIM DA PAZ ETERNA. Paz que dura enquanto alguém se
responsabiliza pelo pagamento da gaveta ou enquanto não cair o muro.
Neste
ponto, volta-me à memória um pensamento de um filósofo francês, de cujo nome
não me recordo: “O verdadeiro amor pela sua terra não é o simples amor ao
solo, mas a valorização e o respeito às gerações que o fertilizaram.”
Onde
ficou nosso respeito às gerações que frutificaram nosso solo, para que nele
nossa vida pudesse medrar?
Flores??
Por aqui muitos entulham os túmulos com flores de plástico, entulham o
cemitério de lixo. Lembro com saudade do tempo em que minha Wowa
Lídia cultivava enormes canteiros com flores na frente de casa. Em tempo de
finados colhia flores e as ofertava aos passantes a caminho do cemitério.