segunda-feira, 13 de maio de 2013

CEMITÉRIOS II - OBRA PRIMA DA PROF. LISSI BENDER


Falas também dos cemitérios na Alemanha. Em Tübingen costumava caminhar pelo Stadtfriedhof aos domingos à tarde. Visitar os poetas Hölderlin e Uhland e divagar sobre a vida e a morte.

Em Hamburg, certa vez fui ao Ohlsdorf, o maior Parkfriedhof cemitério do mundo, decidida a encontrar o túmulo de um de meus escritores prefiridos, Wolfagang Borchert, falecido em 1947. Munida de um mapa do cemitério fiz minha peregrinação, depois de muito andar o encontrei. Em pleno frio de março ele estava florido de Stiefmütterchen. Sentei-me ao pé do túmulo e li para ele algumas de suas poesias e algumas de suas Kurzgeschichten.

Depois que conheci os cemitérios na Alemanha (verdadeiros parques arborizados ,  túmulos floridos com flores plantadas, bancos  onde tudo convida para um deixar-se vagar, meditar sobre o sentido da vida e da morte) venho prestando mais atenção ao tratamento que nós damos aos nossos cemitérios, aos nossos mortos. Campos áridos, sem árvores, sem flores plantadas e cuidadas, sem bancos. Em seu lugar, cada vez mais estamos ocupando cada palmo com concreto, erguendo muros com gavetas. Estamos engavetando nossos mortos. Não lhes permitimos se incorporarem à terra mater de onde toda vida procede. Aqui chegou-se ao cúmulo de instalar um cemitério totalmente vertical e  foi denominado de JARDIM DA PAZ ETERNA. Paz que dura enquanto alguém se responsabiliza pelo pagamento da gaveta ou enquanto não cair o muro.

Neste ponto, volta-me à memória um pensamento de um filósofo francês, de cujo nome não me recordo: “O verdadeiro amor pela sua terra não é o simples amor ao solo, mas a  valorização e o respeito às gerações que o fertilizaram.”

Onde ficou nosso respeito às gerações que frutificaram nosso solo, para que nele nossa vida pudesse medrar?

Flores?? Por aqui muitos entulham os túmulos com flores de plástico, entulham o cemitério de lixo.  Lembro com saudade do tempo em que minha Wowa Lídia cultivava enormes canteiros com flores na frente de casa. Em tempo de finados  colhia flores e as ofertava aos passantes a caminho do cemitério.