quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

DOIS CONTOS/CRÕNICAS MEUS SELECIONADOS E PUBLICADOS EM LIVRO PELA AMB

A AMB ( associação brasileira de magistrados) reune juízes de todas as especialidades e de todas as instâncias do país.
A entidade decidiu publicar um livro com os trabalhos de magistrados, da ativa ou aposentados, de todo o país, bem como intelectuais de áreas afins.
Meio sem esperança, enviei dois trabalhos.
Os dois foram publicados, figurando  ente os 18 autores  selecionados em todo o país.

CONTOS DO DESEJO
é o nome do livro.
Além da minha pessoa, foram selecionados
José carlos LAITANO -RS
DANIELLE  MARTINS CARDOSO - SÃO PAULO
LUIZ KOPES - AMAPÁ
MARIZA BAUR - SÃO PAULO
LILIAN GATTAZ- SÃO PAULO
LUIZ CARLOS DITTOMASO - SÃO PAULO
HILDEMAR MENEGUZZI DE CARVALHO - SANTA CATARINA
JOSÉ AUGUSTO FONTES - ACRE
VIVIANE JUGUERO - RS
FAUSTO COUTO SOBRINHO - S. PAULO
LUIZ EDUARDO FREYESLEBEN -SANTA CATARINA
ROSIVALDDO TOSCANO DOS SANTOS JUNIOR - RIO GRANDE DO NORTE
MILO RODRIGUES - RGS

ROGERIO MEDEIROS GARCIA DE LIMA - MINAS GERAIS
ÉLIO FIGUEIREDO - SÃO PAULO
ANTONIO MARIO FIGLIOLA - SÃO  PAULO
RUI GUILHERME DE VASCONCELOOS SOUZA FILHO - AMAPÁ
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ABAIXO VAI MEU PRIMEIRO CONTO.
AMANHÃ PUBLICO O OUTRO
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SEU WILLIBALDO
 




Tinha eu 7 ou 8 anos.

Meu pai tinha um comércio por atacado e, às vezes, pegava

seu caminhão e levava produtos para “vendas” (bolichos) do

interior do Município. Na volta trazia banha, batatas, milho.

Um dos pontos de parada era na Linha Araçá, na casa

comercial do seu Wilibaldo. Aquelas casas eram residência, salão

de baile, bolicho, tudo.

Eu descia correndo para brincar com a filha dele, da minha

idade. Íamos até um arroio, onde havia uma roda de moinho.

Atirávamos pedrinhas na água.

Meu pai e seu Willibaldo bebiam cerveja, amaldiçoavam

Getúlio Vargas, que proibira falar alemão. Comiam torresmo de

porco, peidavam e davam risada.

Quando meu pai me chamava para prosseguirmos viagem,

minha amiguinha chorava. Não tinha com quem brincar.

Por vezes seu Willibaldo vinha para a cidade e trazia a filha

junto. Enquanto os adultos tomavam cerveja, comiam latas e

latas de pescada e arrotavam de satisfação, eu e ela brincávamos

nas pilhas de sacos de farinha e milho.

Depois não acompanhei mais meu pai e, aos 17 anos, passei

a estudar em Porto Alegre.

Quando voltava a Santa Cruz para visitar meus pais, eles me

diziam-

- Du musst der Willibald besuchen ( tu tens que visitar o Willibaldo).

Nunca dava tempo (desculpa de todos os crápulas).

Passaram-se os anos. Até que um dia, ao passar pelo

pedágio de Venâncio Aires olhei a placa: Linha Araçá - 10 Kms.

Entrei na estrada de chão. Ninguém sabia dizer onde era a

casa do seu Willibaldo.

Até que uma senhora, com quem falei em alemão, me

disse:

- Der Willibald ist schon tot (ele já morreu). A casa que era

dele é logo ali, depois da curva.

Ao chegar, logo reconhecí a casa. Só ficara a fachada; o

resto, ruínas. Nos fundos, um puxado de madeira.

Uma mulher de feições cansadas, mas longe de ser velha,

com uma criança no colo, assomou à porta.

- Não é aqui que morava seu Willibaldo?

- Era, eu sou a neta dele.

E tua mãe?

Morreu ano passado. Quem é o senhor?

- Eu fui amiguinho de infância de tua mãe.

- Ah, então o senhor é o tal Ruy. Meu vô sempre dizia que

o senhor um dia ia visitar ele….Minha mãe também.