quarta-feira, 21 de novembro de 2012

BELCHIOR - COMO O TEMPO PODE SER CRUEL


Se você tem menos de 100 anos talvez não se lembre de PARALELAS.

Dentro do carro
Sobre o trevo
A cem por hora, ó meu amor
Só tens agora os carinhos do motor

E no escritório em que eu trabalho
e fico rico, quanto mais eu multiplico
Diminui o meu amor

Em cada luz de mercúrio
vejo a luz do teu olhar
Passas praças, viadutos
Nem te lembras de voltar, de voltar, de voltar

No Corcovado, quem abre os braços sou eu
Copacabana, esta semana, o mar sou eu
Como é perversa a juventude do meu coração
Que só entende o que é cruel, o que é paixão

E as paralelas dos pneus n'água das ruas
São duas estradas nuas
Em que foges do que é teu

No apartamento, oitavo andar
Abro a vidraça e grito, grito quando o carro passa
Teu infinito sou eu, sou eu, sou eu, sou eu

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Corta para 1973.
Estava eu no saguão de um Hotel em P. Alegre, quando apareceu Belchior, também aí hospedado. Eu, com meu violino no estojo. Disse-lhe que a música que não me saía da cabeça era Paralelas. Ele pediu para eu tocar. Toquei.
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Abre a câmera 2 para 2013. Capa de Zero Hora.
Aquele cara é o Belchior? balbucio eu...
Bueno, se ele me visse e ainda se lembrasse do episódio, coisa impossível, diria:
- aquele ali era o altão, fininho, que tocava violino?
Tempo, tempo, tempo, tempo.