Acho muito salutar quando nas cidades existem vozes críticas. Isso ajuda a realinhar rumos. Não é por nada que Santa Cruz é o que é.
Vamos ao texto de ASTOR WARTCHOW
Oktoberfest ?
Um amigo pessoal,
inteligente e “viajado”, sempre piadista, cáustico e irônico, dizia que bastava
conhecer uma festa popular do interior para saber como seriam as demais. Pura
verdade.
O tema e a idéia do
artigo me ocorreu ao conhecer a relação das atrações nacionais da próxima
Oktoberfest de Santa Cruz do Sul. Bandas de música popular brasileira,
roqueiros especialmente, mas também pagodeiros e as clássicas duplas de música
sertaneja.
Sem nenhuma pretensão
de julgamento ou caracterização de preconceito musical, não parecem ser opções
que guardem alguma relação objetiva com uma festa e cultura típica que se
pretende seja o centro e a razão da respectiva festa.
Máximo Gorki
(1868-1936), poeta e romancista russo, já dizia que “se queres ser universal, fale
de tua aldeia”. O também russo Anton Tchekow (1860-1904),
médico e escritor, disse algo parecido: “canta a tua aldeia e cantarás ao
mundo”.
Há quem diga que essas frases teriam tido
inspiração em reflexões do grande filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804),
que, reza a lenda, nunca teria saído de sua então pequena cidade Königsberg.
Mas Kant tornou-se universal.
Até parece que os três escritores estavam
dotados de poderes premonitórios e adivinhatórios. Como se já soubessem que o
mundo caminhava para a globalização dos negócios e uma pasteurização e
padronização sem limites dos hábitos e comportamento humano.
Como se soubessem que era o momento de
destacar o valor das coisas locais, das próprias origens, dos costumes, dos
idiomas, dos hábitos, de suas idéias, entre outros aspectos, isso que popular e
costumeiramente chamamos de cultura de um povo.
Naturalmente, não preciso falar sobre as
origens históricas de povoação e cultura, sobre o que significa a “oktoberfest”
e sobre o que se pretenderia com tais iniciativas, ditas de viés sócio-cultural.
Mas observada a prática organizativa e
festiva, ano após ano, e, principalmente, o mencionado rol de atrações, cabe
perguntar: o que realmente se pretende?
Bater recordes de público e arrecadação,
fazer o máximo de shows populares, tornar o município conhecido no mapa
estadual, nacional e, quiçá, mundial, fazer muita festa e beber muita cerveja e
chope (e quem sabe obter um recorde de consumo em litragem), lotar hotéis e
arrecadar tributos, divulgar e vender produtos da indústria local? É isso, mais
ou menos? Resumindo, um “festão” para todos os gostos, uma geléia geral? Repito,
para quê?
Mas não é, e não deveria ser, uma festa
típica, quem tem objetivos muito particulares, especialmente o enaltecimento de
uma cultura local e histórica?
Em resumo, e relembrando a introdução e as
reflexões dos mencionados escritores, não seria algo para destacar “nossa
aldeia e nosso povo”? Transformar em
atração turística, destacar, iluminar e festejar aquilo que realmente é um
diferencial histórico no estado e no Brasil?
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Mais tarde publicarei um texto da professora universitária Lissi Bender.