quarta-feira, 26 de setembro de 2012

POLÊMICA EM SANTA CRUZ - OS RUMOS DA OKTOBERFEST

Acho muito salutar quando nas cidades existem vozes críticas. Isso ajuda a realinhar rumos. Não é por nada que Santa Cruz é o que é.
Vamos ao texto de ASTOR WARTCHOW


Oktoberfest ?

 

Um amigo pessoal, inteligente e “viajado”, sempre piadista, cáustico e irônico, dizia que bastava conhecer uma festa popular do interior para saber como seriam as demais. Pura verdade.

O tema e a idéia do artigo me ocorreu ao conhecer a relação das atrações nacionais da próxima Oktoberfest de Santa Cruz do Sul. Bandas de música popular brasileira, roqueiros especialmente, mas também pagodeiros e as clássicas duplas de música sertaneja.

Sem nenhuma pretensão de julgamento ou caracterização de preconceito musical, não parecem ser opções que guardem alguma relação objetiva com uma festa e cultura típica que se pretende seja o centro e a razão da respectiva festa.

Máximo Gorki (1868-1936), poeta e romancista russo, já dizia que “se queres ser universal, fale de tua aldeia”. O também russo Anton Tchekow (1860-1904), médico e escritor, disse algo parecido: “canta a tua aldeia e cantarás ao mundo”.

Há quem diga que essas frases teriam tido inspiração em reflexões do grande filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), que, reza a lenda, nunca teria saído de sua então pequena cidade Königsberg. Mas Kant tornou-se universal.

Até parece que os três escritores estavam dotados de poderes premonitórios e adivinhatórios. Como se já soubessem que o mundo caminhava para a globalização dos negócios e uma pasteurização e padronização sem limites dos hábitos e comportamento humano. 

Como se soubessem que era o momento de destacar o valor das coisas locais, das próprias origens, dos costumes, dos idiomas, dos hábitos, de suas idéias, entre outros aspectos, isso que popular e costumeiramente chamamos de cultura de um povo.

Naturalmente, não preciso falar sobre as origens históricas de povoação e cultura, sobre o que significa a “oktoberfest” e sobre o que se pretenderia com tais iniciativas, ditas de viés sócio-cultural.

Mas observada a prática organizativa e festiva, ano após ano, e, principalmente, o mencionado rol de atrações, cabe perguntar: o que realmente se pretende?

Bater recordes de público e arrecadação, fazer o máximo de shows populares, tornar o município conhecido no mapa estadual, nacional e, quiçá, mundial, fazer muita festa e beber muita cerveja e chope (e quem sabe obter um recorde de consumo em litragem), lotar hotéis e arrecadar tributos, divulgar e vender produtos da indústria local? É isso, mais ou menos? Resumindo, um “festão” para todos os gostos, uma geléia geral? Repito, para quê?

Mas não é, e não deveria ser, uma festa típica, quem tem objetivos muito particulares, especialmente o enaltecimento de uma cultura local e histórica?

Em resumo, e relembrando a introdução e as reflexões dos mencionados escritores, não seria algo para destacar “nossa aldeia e nosso povo”?  Transformar em atração turística, destacar, iluminar e festejar aquilo que realmente é um diferencial histórico no estado e no Brasil? 
......................................................................
 
Mais tarde publicarei um texto da professora universitária Lissi Bender.