Moro no 10. andar de um edifício. Ao lado do meu tem outro, mas o topo dele é do nível do minha janela, de modo que posso contemplar seu terraço.
Ali mora um urubu, bem pretinho, muito classudo, fica só na dele.
Enquanto os sabiás são do alarido e da bagunça desde as 4 da manhã, os pardais passam o dia chilreando, o bicho homem buzinando, este meu silente amigo arrinconou-se ali numa reentrância do terraço.
É todo preto, não sabe cantar , mas é de uma nobreza sem par. Tem berço, logo se vê.
Quando pega uma corrente de ar ascendente, lá vai ele majestoso para cima do Guaíba.
Deve ter suas namoradas, deve ter.
Mas nunca as traz para seu apartamento.
Que idade terá?
Agora lá está ele, pousado, meditando.
Sabendo que gosto dele, de vez em quando ele dá um rasante pela minha janela.