“Pintor nacido en mi tierra /Con el pincel extranjero/Pintor que sigues el rumbo/De tantos pintores viejos/Aunque la virgen sea blanca/Píntale angelitos negros/Que también se van al cielo/ Todos los negritos buenos/Pintor si pintas con amor/Por qué desprecias su color? Si sabes que en el cielo/También los quiere Dios/Pintor de santos alcoba/Si tienes alma en el cuerpo/Por qué al pintar en tus cuadros/Te olvidaste de los negros/Siempre que pintas iglesias/Pintas angelitos bellos/Pero nunca te acordaste/De pintar un ángel negro.” ( Manuel Maciste).
Como o espanhol é primo irmão do português, omito-me de traduzir os versos acima.
Muitas catedrais percorri em várias partes do mundo e não havia me dado conta de que Jesus era representado, ainda jovem, como um homem branco e loiro. Sua fixação na cruz mostra um homem de boa compleição física, mas branco. Não vou entrar no espinhoso tema de haver ou não alguma valia a mais pelo culto de imagens. Ocorre que no mundo inteiro há esse apreço a santos ou deuses.
Tem razão, pois, o autor dessa música (Angelitos negros), quando se pergunta: como é que se explica que, havendo pessoas negras, elas não tem representividade como anjos negros. E o autor, com muita razão se pergunta: todos os negrinhos bons são amados por Deus; como é que os pintores não os colocaram na tela?
Temos que admitir, também no nosso país, que muito desapreço se fez às pessoas negras.
A poesia dessa música merece grandes aplausos porque, de maneira educada e incontestável, põe o dedo na ferida do racismo.
Posso ter meus defeitos, mas nunca , nem de brincadeira, quis depreciar uma pessoa negra. Meus pais tinham duas empregadas negras, a Eva e Dionda, que vinham esporadicamente lavar e passar roupa. Ambas se sentavam à nossa mesa ao meio dia e almoçavam conosco. Por sinal era trivial, uns tempos atrás, na época da segunda guerra, nas colônias de origem alemã, que muitos negros falavam alemão, conquanto misturassem por vezes um vocábulo português. Todos os idiomas têm essas muletas. Basta ver os anglicismos campeando no mundo inteiro.
Posso estar errado, mas acredito que dar apelido de duvidoso gosto só serve para infelicitar a pessoa. O mesmo deve ser observado com brincadeiras picantes, de dúbia significação. Ou ditos como “Fulano é negro, mas de alma branca”. Isso, mesmo nas brincadeiras familiares, deve ser evitado.
Também isso vale para qualquer pessoa de etnia diferente da nossa. Usemos seu nome com respeito e não o rotulemos.