quinta-feira, 25 de agosto de 2022

LOS ANGELITOS NEGROS

 

“Pintor nacido en mi tierra /Con el pincel extranjero/Pintor que sigues el rumbo/De tantos pintores viejos/Aunque la virgen sea blanca/Píntale angelitos negros/Que también se van al cielo/ Todos los negritos buenos/Pintor si pintas con amor/Por qué desprecias su color? Si sabes que en el cielo/También los quiere Dios/Pintor de santos alcoba/Si tienes alma en el cuerpo/Por qué al pintar en tus cuadros/Te olvidaste de los negros/Siempre que pintas iglesias/Pintas angelitos bellos/Pero nunca te acordaste/De pintar un ángel negro.” ( Manuel Maciste).

Como o espanhol é primo irmão do português, omito-me de traduzir os versos acima.

Muitas catedrais percorri em várias partes do mundo e não havia me dado conta de  que Jesus era representado, ainda jovem, como um homem branco e loiro. Sua fixação na cruz mostra um homem de boa compleição física, mas branco. Não vou entrar no espinhoso tema de haver ou não alguma valia a mais pelo culto de imagens. Ocorre que no mundo inteiro há esse apreço a santos ou deuses. 

Tem razão, pois, o autor dessa música (Angelitos negros), quando se pergunta: como é que se explica que, havendo pessoas negras, elas  não tem representividade como anjos negros. E o autor, com muita razão se pergunta: todos os negrinhos bons são amados por Deus; como é que os pintores não os colocaram na tela? 

Temos que admitir, também no nosso país, que muito desapreço se fez às pessoas negras. 

A poesia dessa música merece grandes aplausos porque, de maneira educada e incontestável, põe o dedo na ferida do racismo.

Posso ter meus defeitos, mas nunca , nem de brincadeira, quis depreciar uma pessoa negra. Meus pais tinham duas empregadas negras, a Eva e  Dionda, que vinham esporadicamente lavar e  passar roupa. Ambas se sentavam à nossa mesa ao meio dia e almoçavam conosco. Por sinal era trivial, uns  tempos atrás, na época da segunda guerra,  nas colônias de origem alemã, que muitos negros  falavam  alemão, conquanto misturassem por vezes um vocábulo português. Todos os idiomas têm essas muletas. Basta ver os anglicismos campeando no mundo inteiro.

Posso estar errado, mas acredito que dar apelido de duvidoso gosto só serve para infelicitar a pessoa. O mesmo deve ser observado com brincadeiras picantes, de dúbia significação. Ou ditos como “Fulano é negro, mas de alma branca”. Isso, mesmo nas brincadeiras familiares, deve ser evitado. 

Também isso vale para qualquer pessoa de etnia diferente da nossa. Usemos seu nome com respeito e não o rotulemos.  

terça-feira, 23 de agosto de 2022

UMA AULA MAGNA

 


TITO GUARNIERE

 

FALSAS COMPARAÇÕES

Circula nas redes sociais uma tabela comparativa que exibe de um lado a bandeira do Brasil e de outro uma bandeira vermelha de foice e martelo - bandeira do comunismo. A tabela ornamentou uma parede externa de edifício em Porto Alegre, em escala gigante. Foi notícia em toda a mídia.

O expediente simplório gerou polêmicas previsíveis no embate eleitoral em curso.

Mas não passa de um "out-door" recheado de "fakes" grosseiros, de comparações entre categorias distintas e de bobagens homéricas. Peça de propaganda, panfleto de baixa extração, que diz muito da qualidade política e intelectual e do caráter dos seus autores.

No mural dos bolsonaristas, eles são a favor dos bandidos presos e de menos impostos, enquanto os outros(os comunistas) seriam a favor de bandidos soltos e de mais impostos. É uma tremenda forçada de barra. É "fake". É desonesto.

Ninguém defende bandido solto – a não ser no caso de uma minoria de excêntricos, maluquetes e anarquistas incorrigíveis.

A favor de impostos? Como sabemos todos , e já foi dito há muito tempo, só há duas coisas certas : a morte e os impostos. Quem por acaso – por tara pessoal ou teimosa idiossincrasia – for a favor de mais impostos, sempre serão os impostos dos outros, nunca os seus. Não se encontrará ninguém a favor de mais impostos nem entre os mais inveterados lulopetistas.

Há uma categoria especial que merece referência: os governantes (de todos os partidos, de todas as correntes) que gastam além da conta e depois compensam elevando alíquotas e criando novas fontes de arrecadação. Redução de impostos só em vésperas de eleição - o governante está de olho na (re)eleição e não no benefício dos contribuintes. No caso atual, a conta das bonanças eleitorais recentes será apresentada ao povo brasileiro no tempo certo, ano que vem e depois. E podem crer, sairá salgada.

A comparação afirma que Bolsonaro é a favor da liberdade, e que a bandeira vermelha(Lula ), é favor da censura. É verdade que Lula e o PT vem falando na regulação da mídia há muito tempo. É uma fala para dentro, para os seus. Eles estão cansados de saber que as disposições da Constituição e das leis não permitem a censura dos meios de comunicação. É duvidoso que alguém – seja quem for o ganhador da eleição – possa mudar esses sólidos delineamentos legais.

De qualquer forma, o PT , Lula, nas raras vezes em que quiseram calar ou mudar posturas da mídia, tiveram que fazer o que é normal no Estado Democrático de Direito : recorrer à Justiça. Foi assim e assim será , com Lula ou com quer que seja. E causa certo espanto acreditar que Bolsonaro seja uma voz a favor da liberdade de imprensa. Até onde consta nos autos, ele sempre elogiou e defendeu o regime militar de 1964 – este sim a favor da censura, na teoria e na prática.

E vai por aí o documento comparativo. Tudo, com frequência, se reduz à opinião de uma facção interna da esquerda ou do PT, à conceituação individual de um membro proeminente, que se estende arbitrariamente como se fosse do candidato e de todo o partido.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

A QUERIDA CASA DA UESC EM PORTO ALEGRE

 Semanas atrás a Gazeta publicou uma matéria sobre a Casa da Uesc em Porto Alegre. Matéria muito bem feita pelo competente Iuri Fardin.

Achei por bem acrescentar mais algumas coisas.

No início dos anos sessenta a criação de escolas de ensino superior engatinhava. O Curso de Direito ainda não existia em Santa Cruz.

Eu estava no 2 ° ano do científico do Colégio Mauá. Aconteceu que  meu pai teve que fechar seu comércio pelo advento dos supermercados e eu, para aliviar uma boca em casa, decidi me mexer para sobreviver.

 Também entendi que não teria chance no vestibular da Ufrgs em Porto Alegre se ficasse inerte. Decidi me matricular no Colégio Júlio de Castilhos em P. Alegre, no terceiro ano do Clássico. Não havia esse curso em Santa Cruz.

 Relembre-se que cada Faculdade da UFRGS tinha seu vestibular próprio. No Direito as matérias versavam sobre Latim, Filosofia, Francês ou Inglês, enfim as humanas. Nada a ver com as exatas.

Graças à casa da Uesc  pude ter um lugar onde morar. De dia trabalhava numa firma e à noite ia a pé ao Colégio. Nos fins de semana passava estudando.

A pior parte eram os sábados e os domingos. Nesses dois o Restaurante Universitário ( RU) fechava. Nos dias de semana havia almoço e janta gratuitos para quem fosse aluno da UFRGS. Pegava-se uma travessa de metal e se dirigia ao local onde era servida a comida. Muitas vezes guardei o pãozinho para servir de lanche mais tarde. 

No domingo a solução era tentar “filar” um almoço na casa do meu tio Huberto Gessinger, falecido pai do Umberto dos Engenheiros do Hawai. 

Na casa não havia, no meu tempo, televisão. A solução era ficar escutando o radinho Spica.

O leite era adquirido nalguma casa comercial ou na padaria. Comprava-se uma garrafa de vidro de um litro. Quando terminava o leite lavava-se a garrafa que se entregava para um funcionário. Com isso se comprava outra garrafa cheia. Quase sempre se formavam filas para comprar leite e pão.

Para não passar fome, várias vezes comprava um pão francês bem grande e no seu interior colocava banana amassada. 

Para visitar meus pais muitas vezes pegava carona com o falecido sr. Piccinin, que era vizinho dos meus pais.

Havia muita amizade e harmonia na casa. Sou grato até hoje por terem me acolhido. Tenho saudade dos queridos camaradas.

Fui aprovado no vestibular de Direito da Ufrgs. Em seguida, aos 22 anos,  assumi  um cargo público em concurso  e  então me retirei da casa para deixar a vaga para quem necessitasse. 

 Não fosse a bendita Casa as coisas teriam sido  muito complicadas. 


terça-feira, 9 de agosto de 2022

TITO GUARNIERE

 TITO GUARNIERE

 

Surpresa

O presidente Jair Bolsonaro surpreendeu, com uma nota educada e elegante a respeito da morte de Jô Soares. Não é do seu feitio homenagear quem não é do time.

Mas pegaria mal o silêncio, diante da personalidade marcante do falecido e de tudo o que ele fez em favor da cultura e do bom humor nacional.

Nada como uma eleição à vista para despertar atitudes saudáveis e bons sentimentos.

 

Três parágrafos

De todo o modo, há quem siga que não foi Bolsonaro que escreveu o texto. Seja pelo conteúdo, seja pelo estilo.

E, acrescento eu, pelo tamanho. Três parágrafos! Se ele é o autor, foi um dos maiores textos que já escreveu.

 

Não nos pertence

Já tive um sentimento mais forte de pátria e comunidade nacional diante da bandeira verde-amarela. Mas ela não pertence mais a todos os brasileiros. O bolsonarismo adotou-a como sua, apropriou-se dela.

 

Olha o nível!

O coronel Ricardo Sant'Anna , diante do que disse Simone Tebet – mulher vota em mulher - retrucou com uma agressão ao estilo vigente em certas áreas do governo e do bolsonarismo : " vaca vota em vaca ".

O oficial do brioso e orgulhoso Exército nacional é um dos membros do grupo das Forças Armadas que examina as urnas eletrônicas.

 

Excluído

O coronel Ricardo Sant'Anna, que ofendeu a candidata Simone Tebet - "vaca vota em vaca " - foi excluído do grupo de trabalho das urnas eletrônicas. Era um dos nove componentes militares da comissão junto ao TSE.

O Exército disse que ele seria mesmo afastado. Mas como sói acontecer, chegou atrasado e Sant'Anna foi afastado por ato do ministro Edson Fachin, do TSE.

 

Atrasados e botando banca

O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, em ofício "urgentíssimo", requereu ao TSE o acesso aos códigos-fonte das urnas eletrônicas. Tinha um porém : os códigos já estavam à disposição, inclusive das Forças Armadas, desde outubro de 2021.

Organismos como a Polícia Federal, CGU, Senado e UFRS já tinham cumprido a lição de casa. Os militares chegaram atrasado e ainda botaram banca.

 

Isolados

O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, fez um discurso vigoroso, sem meias palavras, atestando a integridade das urnas eleitorais.

Manifesto da FIESP, de entidades patronais e sindicais, universidades e ONGs, foram na mesma direção : as urnas eletrônicas são seguras e confiáveis.

Bolsonaro e os seus seguidores vão acabar falando sozinhos nos ataques desvairados ao sistema eleitoral brasileiro.

 

Mega-Sena não é confiável

O presidente Jair M. Bolsonaro deveria dirigir suas baterias contra a Mega-Sena , da Caixa.

O sistema não é seguro nem confiável.

Eu mesmo sou a prova disso : já apostei um monte de vezes e nunca ganhei.

 

Deus e o diabo no Planalto

Achava que a (aparentemente) afável Michelle Bolsonaro iria ajudar o marido a controlar as suas más inspirações. Mas aconteceu o contrário : Bolsonaro está influenciando Michelle.

Do contrário, ela não iria dizer que " antes o palácio era consagrado ao demônio ".

Péssima, deseducadora, mistificadora a ideia de misturar Deus, o diabo e a política.

titoguarniere@outlook.com