quarta-feira, 30 de maio de 2018

LÚCIDO TEXTO DO JURISTA LUIZ AUGUSTO BECK



                                                                 Após longo período de ausência entre os (as) “Luminares”, em que aprendi um pouco mais sobre os mais variados assuntos que por aqui desfilaram, fruto e produto da sabedoria e do conhecimento de cada um, eis que, diante do palpitante e preocupante tema que é colocado sobre a mesa – a greve dos caminhoneiros – ouso dar o meu “pitaco” a respeito. Minha análise e/ou observação dos fatos é meramente perfunctória, não me aprofundando nem buscando culpados ou responsáveis, até porque, creio, que teria de retroceder significativamente, no tempo, na medida em que o transporte ferroviário, fluvial, lacustre, marítimo e aéreo não recebeu os investimentos que eram necessários para não ficar refém do rodoviário. Assim que não pretendo opinar se governo ou caminhoneiros possuem razão, até porque a matéria é bastante complexa e, certamente, há conotações e infiltrações de natureza política, quando estamos a cerca de 4 meses das eleições presidenciais, fazendo-se uso das redes sociais em profusão, onde surgem e viralizam, com toda força, as propaladas e disseminadas “fakenews”.
                                                               O que mais me chama a atenção e aflora, neste grave período de crise de todos os matizes, é a insensibilidade e o amadorismo governamental, a par do despreparo em lidar com situação dessa natureza, a qual nunca haviam enfrentado, sendo, pois, neófitos.
                                                              Enumeremos alguns episódios e declarações para a avaliação de cada um:
1.       Aumento do preço da gasolina e do óleo diesel, diariamente, contabilizando até 5 aumentos semanais; ora se é possível revisar ou aumentar o preço somente após 60 dias, por que já não se adotou esta periodicidade ou, ao menos, que fosse mensal? Não é preciso ter muitas luzes para concluir que aumentos diários repercutem negativamente no seio da população, quanto mais daqueles que vivem do transporte e necessitam do combustível;
2.       O frete, ao seu turno, não acompanhou a mesma evolução...;
3.       Não houve garantia de que o preço, nos postos, apresentaria, desde logo, a redução de R$ 0,46 por litro do diesel. Ora, pretender encerrar um movimento e desmobilizar uma categoria que, ao abastecer, encontra o mesmo preço contra o qual se insurgiu é, também, com a devida vênia, uma ingenuidade. Se tal já não bastasse, um dos ministros interlocutores (são vários que se manifestam e não apenas um, gerando dúvidas e contradições) chegou a afirmar que “o governo não pode exigir que os donos de postos vendam o seu produto com o preço reduzido, enquanto não esgotarem seus estoques, pois os adquiriu com preço superior” então vigente. É bem razoável e plausível que assim o seja, mas tal declaração também inibiu, a meu ver,  o retorno. Ademais, como bem o sabemos, quando aumenta o combustível, não se mantém o preço anterior até acabar o adquirido com preço menor e, sim, eleva-se, desde logo, não havendo coerência nem equilíbrio em tal sentido;
4.       Negociação com quem não tem procuração nem representatividade efetiva decorrente de uma assembleia previamente convocada ou com apenas  parcela das entidades representativas, não é boa prática;
5.       Anunciar que a redução do preço do diesel será compensada com o aumento de alíquotas de outros  impostos, pode até ser uma necessidade; todavia, para quem pugna por melhores condições que visem aumentar seu ganho, fácil é concluir que irão trocar seis por meia dúzia. De que me adianta ter uma redução aqui se vou ter uma elevação ali na aquisição de bens de consumo ou de primeira necessidade. O mais grave é que, hoje, se buscou emendar, corrigir e/ou melhor explicar tal majoração, de que não será bem assim etc.

Por essas e outras como, por exemplo, pretender a aprovação de uma Reforma da Previdência, sem o apoio popular e congressual, além de comparecer, pessoalmente, ao prédio que ardia em chamas, em São Paulo, oportunidade em  foi agredido e hostilizado, necessitando de proteção, é que se conclui revelar o governo uma insensibilidade a toda prova,  necessitando de melhor orientação e aconselhamento.

terça-feira, 29 de maio de 2018

FINALMENTE UMA VOZ MAIS RAZOÁVEL



TITO GUARNIERE


A CRISE É DO ESTADO

A greve dos caminhoneiros não chega a ser uma novidade. Também não é novidade o modo, a forma como os comentaristas de rádio, tevê e jornal, (com raras exceções) encararam o assunto. Essa gente adora um raciocínio simplório. Sempre está à mão um culpado por todas as coisas que acontecem ao redor: o governo. E se for o governo Temer melhor ainda, todos batem com muito mais convicção e prazer.

Pouquíssimos desses analistas de todos os assuntos, por desconhecimento ou preguiça, arriscam ao menos tentar uma avaliação um pouco menos manjada, à altura da complexidade da matéria. Se não fosse por nada, ao menos pelo esforço de parecer original. Como fazem, apenas desinformam e contribuem para a barafunda geral.

Estamos todos de acordo quanto ao diagnóstico: a gasolina, o diesel, estão muito caros. Mas a menos que o governo se disponha a “administrar” os preços do combustível, como fez Dilma Roussef, com todos os seus efeitos funestos, não há muito que fazer. O controle populista dos preços dos combustíveis foi mais danoso para a Petrobras do que a corrupção. Mas tem gente “boa” (como Ciro Gomes, candidato a presidente) que acha que se deve continuar insistindo nas soluções erradas, na esperança de que um dia, sabe-se lá por que razão misteriosa, e de repente, deem certo.

O racional, o certo é alterar o preço dos combustíveis na proporção dos preços internacionais, como vem fazendo o governo Temer. Quando se “administra” preços, não nos iludamos alguém vai pagar a conta.

Ao que parece, a solução encontrada também pertence ao campo das velhas bruxarias. Por enquanto a União abre mão de uma parte dos tributos incidentes sobre os combustíveis, que totalizam um percentual em torno dos 45% do preço de bomba - a União, senhora de todas as culpas e todas as magias. Entretanto, quem mais lucra com a atual composição dos preços dos combustíveis são o estados. O ICMS, o imposto estadual sobre os combustíveis, é da ordem dos 30%!

E o que fazem os governos estaduais para fazer jus a parcela tão expressiva? Nada, rigorosamente nada, só passam o chapéu e arrecadam. Comparem com o esforço que precisam fazer, para ganhar um pouco mais do que os estados, os agentes econômicos que extraem o petróleo, refinam, transportam e vendem os combustíveis para o consumidor final, nos postos. O estado do Rio Grande do Sul pode diminuir o ICMS da gasolina, se não pode nem pagar em dia seus funcionários?

Ou seja, a crise dos combustíveis que está levando (se já não foi) à lona o país, é um capítulo a mais da crise do Estado brasileiro, da gastança desenfreada, do descontrole orçamentário, da desordem administrativa, e todos os desarranjos que imperam em todas as instâncias do governo.

Não é só, como diz de uma forma quase inocente uma conhecida jornalista gaúcha, um problema da falta de habilidade do governo. Isso é o de menos. Instale-se na República o governante mais hábil que possa existir, só com jeito e traquejo não chegará nem perto da solução para a crise, que é muito mais complexa e muito mais profunda.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

FINALMENTE O BRASIL ESTÁ PARECIDO, AO MENOS NUM ASPECTO, COM A ALEMANHA

Sim, a Alemanha, mas de anos passados.
Explico-me.
Logo após a guerra, foi dura a reconstrução da Alemanha. A toda hora movimentos assustadores da falecida União Soviética. Então a cada crise a alemoada corria para estocar comida e os supermercados ficavam vazios. Claro, cachorro mordido de cobra tem medo até de linguiça. Eu, que sou descendente de alemães, tenho medo de passar fome, isso que há mais de 150 anos não passo por privações. Mas tenho medo de ter fome e de ficar sem combustível. Não tenho medo de guerra, nem de assaltantes ( frau Glock me protege), nem do frio , nem do calor. De ficar sem vinho, sim.
Agora o brasileiro tem a oportunidade ímpar de se sentir um alemão dos anos 50 e 60.
Fiquem na fila três horas para abastecer; voem aos supermercados! 
Aproveitem!!!

O TEMPO PASSA, O TEMPO VOA....


Na foto enviada pelo colega Nerio Letti aparece o time de futebol da Ajuris no ano de 1976, se não me engano. 
Sou aquele cabeludo agachado bem no meio, o terceiro da esquerda para a direita. Nerio está em pé, bem atrás de mim.

terça-feira, 22 de maio de 2018

ARTIGAÇO DE TITO GUARNIERE


TITO GUARNIERE

 

CENSURA E CURTO-CIRCUITO

 

O Ministério Público do Trabalho enviou à TV Globo uma “notificação recomendatória” - com 14 recomendações - porque no entender da procuradoria a diversidade racial está sub-representada na novela Segundo Sol. A trama se passa na Bahia e há uma prevalência de atores brancos no elenco.

 

Não há razão de se contrapor à uma ação do Estado para combater o preconceito de raça, classe ou orientação sexual. Mas o Ministério Público, quando notifica uma emissora porque não gostou da proporção da cor entre atores e atrizes de uma novela, adentra, impávido, pelo terreno da exorbitância.

 

Nesse tom, o MP irá escalar atores, reescrever diálogos, mudar o roteiro. Que tal cotas raciais para atores de novelas? Em uma só palavra, trata-se de censura, que é proibida pela Constituição. E quem promove a violação? O Ministério Público, órgão que tem como dever a defesa da ordem jurídica.

 

Está bem que se trata do Ministério Público do Trabalho, uma espécie de comissariado em permanente estado de beligerância contra a classe patronal. Terá o MPT cogitado de calcular a proporção existente entre procuradores brancos, pardos e negros na sua própria casa de trabalho? Como é provável que a maioria dos procuradores é da cor branca, deve-se perguntar, com todo o respeito, se o MPT enviou alguma notificação recomendatória a quem de direito, para que a devida proporção seja respeitada.

 

De todo modo, a Rede Globo não tem muito do que reclamar, depois do que fez com o jornalista William Waack. Provou do seu próprio veneno.

 

Em outro front, o Supremo Tribunal Federal restringiu o foro privilegiado dos senadores e deputados federais. Muito bem. Para a opinião pública, o foro especial tinha se tornado um privilégio, através do qual políticos acusados de delitos, principalmente de corrupção, escapavam impunes.

 

Foi como uma escolha a dedo, atingindo apenas cerca de 600 membros do Congresso Nacional. Permanecem com as mesmas vantagens do foro especial mais de 50 mil autoridades, entre as quais todos os juízes e procuradores do Ministério Público, vale dizer, os próprios ministros do STF.

 

A decisão do STF obriga a uma revisão de todos os casos da prerrogativa. No Superior Tribunal de Justiça, que é o foro especial de governadores, membros de tribunais e do Ministério Público Federal, no caso de delitos comuns e de respondabilidade, já se discute abertamernte a necessidade de uma compatibilização. Compatibilizar significa, por exemplo, que juízes de primeira instância poderão julgar desembargadores.

 

Mas logo no início da previsível polêmica, o mesmo Ministério Público Federal, tão fervoroso em defender o fim do foro especial de senadores e deputados, não quer entretanto alterar o privilégio de foro deles mesmos, como se manifestou Luciano Mariz Maia, da Procuradoria Geral da República. Como sabemos, pimenta nos olhos dos outros é colírio.

 

Toda essa balbúrdia tem origem na escalada legisladora do Poder Judiciário, principalmente no STF. Os ministros da Corte Suprema, com certas decisões, pensam que estão arrumando a casa, mas acabam provocando um curto-circuito no sistema.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

MEU PAI E EU ( FINAL)


( PUBLICADA NA GAZETA DO SUL – DE SANTA CUZ DO SUL)

Meu pai, de gênio doce e afável, tinha dificuldade em dizer não. Daí aquele monte de créditos não pagos que o levaram a fechar seu comércio depois de vender vários bens e pagar todos os credores. Doeu demais a ele vender a Dodge azul , mais que  os demais bens.
 Com base nesse aprendizado dolorido, nunca tomei “tufo” lá na fazenda. Primeiro ver o dinheiro na minha conta para depois liberar  a tropa de gado. Antes disso o caminhão  não saía da porteira. Cansei de mandar descer toda a boiada e soltar no campo quando sentia cheiro de golpe. Fugi, qual o diabo da cruz, de avais , fianças e empréstimos . Para isso existem os bancos e as “ factorings”. Mas o maior ensinamento que recebi foi que os compromissos têm que ser cumpridos.
Voltemos agora à minha casa paterna. Aqueles churrascos domingueiros, com muita gente e bastante cerveja, que se estendiam , começaram  a rarear, para só ocorrerem  lá de vez em quando restritos  à nossa família. É como diz o ditado: “na hora da mesa farta não falta companhia”. E agrego eu, quando termina o vinho termina a festa.
Voltando: com essa derrocada econômica caiu vertiginosamente o padrão de vida. Minha decisão estava tomada. Não queria ser um peso para meus pais.Nada de coitadismo!
Me transferi do Colégio Mauá para o Julinho, em Porto Alegre. Morei na casa  da UESC. Trabalhava de dia e estudava à noite. Por uma graça divina que me salvou o futuro, consegui passar no vestibular de Direito na UFRGS e daí em diante foi um abraço.
Periodicamente visitava meus genitores. O pai, porém, conquanto ainda não idoso, estava visivelmente triste. Havia montado uma pequena fábrica de colchões, mas já não era a mesma condição de vida de antigamente.
Fui tocando a vida, aos 22 anos passei no concurso para delegado de polícia, saindo da Academia como primeiro colocado. Exerci o cargo por um ano, me exonerei para advogar e dois anos depois fui aprovado no concurso para juiz de direito.
Certo dia a mãe me telefonou dizendo que o pai estava com câncer. Pedi uma licença e fui correndo para Santa Cruz. Os médicos não lhe davam muita chance. Foi então que meu cunhado dr. Raul Kraether me disse que em Campinas, SP, havia uma clínica especializada. Levei meu pai de avião até São Paulo e de lá de táxi até Campinas. Prescreveram um tratamento e ele voltou confiante, apesar de muito, mas muito debilitado.Pouco depois faleceu aos 57 anos nos braços de minha mãe.
Era um homem antes de tudo ético. Esta é uma herança perene.Talvez a única.

terça-feira, 15 de maio de 2018

AINDA SOBRE JOAQUIM BARBOSA


POR TITO GUARNIERE

 

JOAQUIM BARBOSA

 

O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa desistiu da candidatura presidencial. Ainda bem, digo eu, pois pelas primeiras pesquisas ele corria o risco de vencer.

 

Dizem que os políticos são espertos, e são mesmo. Mas não tanto quanto se imagina. Vejam o PSB. É preciso ignorar os fatos, fingir que não viram, passar por cima dos detalhes mais estridentes, para se iludir com uma candidatura como a de Barbosa.

 

Não é que ele seja um outsider da política. Ele é um outsider de tudo, incapaz de conviver no âmbito plural e multifacetado de uma agremiação coletiva (partido, governo), de ouvir outros componentes da equipe, de decidir em conjunto, de administrar as múltiplas ambições, as justas pretensões - e as injustas -, e os conflitos naturais de uma convivência necessária. Tudo isso é a política e bem olhado, a vida.

 

Só os dirigentes do PSB - um partido importante- não observaram que Barbosa é um homem de talento, decerto, mas que se atribui uma nota muito superior à que ele de fato merece. Vaidoso, irascível, temperamental, impaciente: tudo do que um político, um dirigente de Estado, não precisa, não pode nem deve ser.

 

Não resistiu nem aos breves momentos em que prevalecem as expectativas otimistas, quando o líder é recebido no partido de braços abertos, recebe todas as homenagens, tudo é sorriso e festa.

 

Diz-se que ele não aguentou o patamar raso das primeiras conversas, o baixo nível dos seus interlocutores e logo arrepiou. Do jeito que ele é, não deve ter saído triste. Afinal, durante algumas semanas seu nome ocupou as manchetes da sucessão presidencial, alcançou índices promissores nas pesquisas eleitorais: estava no jogo. Fez um breve passeio por uma hipótese que deve ter inflado ainda mais o ego exuberante. E daqui para a frente poderá viver com a sensação de que poderia ter sido presidente e só não foi porque não quis.

 

Ninguém soube, ninguém viu, um sinal claro do que ele iria fazer na presidência, a não ser um conjunto mal ajambrado de ideias soltas, algumas delas nem sequer compatíveis entre si. Barbosa entrou no jogo como uma esfinge e saiu dele como uma incógnita. Não foi por mal. Ele apenas não tinha a menor ideia.

 

À saída, mencionou dois riscos para o país: Temer e Bolsonaro. Cá para nós, nem paranoico de carteirinha ousaria prever um golpe de Temer. E Bolsonaro, um risco? Se Barbosa acredita nisso - e ele pode ter razão - , então, do alto de sua superioridade moral, deveria permanecer no páreo para combater a ameaça.

 

Que ninguém se iluda. Rejeitem-se os políticos - rejeição que eles em geral bem merecem -, mas é com eles que se fará a eleição, são eles que vão dar as cartas e um deles será o vencedor. Pode não ser bom, como muitos acham. Mas não há nenhuma razão para crer que a eleição de uma "novidade" seja melhor. Política é coisa muito complicada. Leva-se anos para aprender. É uma ciência e uma arte, para o bem e para o mal. Neófitos batem cabeça, se enroscam nos próprios pés e, bem, como todos sabem, nada está tão mal que não possa ficar pior.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

MEU PAI E EU ( 2)- artigo publicado na Gazeta do Sul

Incrível, mas meu pai não sabia andar de bicicleta, nem jogar futebol. Mas era tinhoso na direção de carros. Ele torcia pelo Renner de P. Alegre e, quando este fechou em 1957, bandeou-se para o Grêmio, como todos da família. Menos minha mãe e eu que sempre fomos colorados. Em Santa Cruz ele era do alvi-negro e muito me levava para ver os Ave-Cruz. Detalhe: ele pouco olhava o jogo; passava na copa tomando cerveja com os amigos e, vez por outra, dirigindo impropérios contra o árbitro. Voltávamos para casa na nossa Dodge e ao chegarmos estava armado o problema. Ele queria tomar a “saideira” e ouvir os comentários, mas encontrava a oposição férrea de minha mãe. Só lhe restava ir para a cama mais cedo.
Certo dia ele inventou de agregar venda de cal virgem ao seu comércio. Não sei como  descobriu o distrito de Capivarita, hoje Município de Pantano Grande. Várias vezes fui com ele. A cal vinha em barris precários de madeira. Foi aí que comecei a conhecer o Rio Grande “bagual”. Moradias diferentes das de Santa Cruz, pessoas com outra fisionomia, linguajar campeiro, culinária para mim desconhecida. O senhor de quem meu pai comprava parecia ser muito poderoso, expressava-se com voz forte, usava bombachas e obrigava meu pai a comer o “tutano” do osso buco que emergia do panelão. Pobre do pai, voltava com as tripas meio  reviradas. Na hora de sairmos eu olhava para uma baita casa, com muitas janelas, onde se debruçavam mulheres e meninas de belos cabelos negros e compridos.(Por sinal sempre tive um fascínio pela região de Rio Pardo e Encruzilhada, onde havia o lendário City Bar, mas isso é para outra crônica).
E assim ia a vida até que um dia minha mãe e eu fomos bisbilhotar, num domingo à tarde, a mesa onde eram guardadas notas fiscais, cadernetas de anotar vendas, essas coisas. É que meu tio Humberto Gessinger, pai do meu primo Umberto, da Banda Engenheiros do Hawaii, alertara meu pai para um fenômeno novo que tinha origem nos Estados Unidos. O tal de supermercado. Aquelas dezenas de empregados das casas comerciais, que atendiam um por um dos clientes, seriam substituídos por “caixas”. Os compradores escolheriam o que queriam comprar nas prateleiras. Disse o tio que se meu pai não se adaptasse ele iria desaparecer pois não haveria como competir. Como eu ia dizendo, fomos “furucar” nas notas e apontamentos. Havia um montão de cadernos com dinheiro a receber há muito tempo em atraso. E, infelizmente, faturas e duplicatas de fornecedores  não pagas.
Só lhe restou pagar as contas e parar.  Isso para mim foi uma lição nos meus negócios. A começar por saber dizer “não”.

Prossigo semana que vem.

FÁBIO ANDRÉ KOFF

Eu tinha 23 anos quando assumi meu cargo de delegado de Polícia em São Jerônimo. Era inexperiente, mal saíra da Academia de Polícia. O Juiz de Direito era Fábio Koff. Era muito afável e muito ia me aconselhar com ele. 
Em seguida me exonerei para advogar. Dois anos depois, após prestar concurso, me tornei colega do Fábio. 
Que senhor colega! Era cristalino, olhava nos olhos, falava sem rodeios, era direto.
Enquanto a idade permitiu jogamos muito futebol juntos, conquanto eu, por ser bastante mais novo,  joguei até os 60 anos.
Um dos meus livros jurídicos dediquei a ele.
Grande pessoa!
Uma legenda imortal.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

SOBRE A NATIMORTA CANDIDATURA DE JOAQUIM BARBOSA


Vamos combinar que pouco o sr. Barbosa tem de diplomático. Por mais que discordasse de seus colegas de Tribunal, não poderia ser tão incisivo com quem o confrontasse no campo das idéias.  Na política é preciso que o candidato tenha sangue frio e opte pelo diálogo.
Dirão: mas ele foi enérgico com os corruptos! Tudo bem, mas política exige costura e alianças. Ele não aprendeu a fazer isso. E sem isso não há governança.
Ele não tem a mínima prática sobre os meandros do Poder Executivo, muito menos do Legislativo.
Fez bem em anunciar sua desistência. Vai poder tomar seu chopinho, como ele mesmo afirmou. E poderá dar suas palestras aqui e além mar.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

MEU PAI E EU ( I) artigo publicado na gazeta do sul

Não que eu queira imitar nosso brilhante colunista Clóvis  Haeser, mas nada obsta a que me inspire nele e em suas belas crônicas.
Meu pai tinha um armazém na Tomás Flores, 876; nossa família morava na casa ao lado.Desde que me conheço por gente eu ajudei nas lides domésticas e, já mais taludinho, no comércio de meu pai. Lembro-me do meu orgulho quando pela primeira vez consegui carregar sozinho um saco de farinha “ Donângela” de 25 quilos. Além de um caminhão Chevrolet verde, tínhamos uma caminhonete Dodge azul.Com esta fazíamos entrega de produtos pela cidade e interior. O pai era representante da Coca-Cola, que perdia feio em vendas para a Pepsi. Os engradados eram de madeira com uma fita metálica.Muita vezes colegas   de colégio ficavam bebericando algum refrigerante no Quiosque da praça enquanto eu carregava os engradados para dentro do bar do sr. Antelmo Emmel .
Com o caminhão verde muitas vezes acompanhei meu pai até P. Alegre para trazer uma carga de refrigerantes. Saíamos às 4 da manhã em direção a Rio Pardo, atravessávamos o Jacuí de balsa, dali a Pantano Grande e depois direto a Guaíba. Tudo estrada  de chão. Em Guaíba havia um serviço de barcas que nos deixava ali onde hoje é a Praia de Belas. Comíamos qualquer coisa e voltávamos a Santa Cruz já de noite.
Muitas vezes acompanhei meu genitor na busca de produtos do interior. O roteiro de que mais gostava era Linha Antão e Monte Alverne. Na primeira havia a casa comercial do sr. Edwin Sulzbacher. Meu pai estacionava ali no fim  da tarde.Ele e Edwin ficavam bebendo cervejas, comendo pescada em lata, arrotando e maldizendo o Getúlio. Enquanto isso eu brincava com o Rui, que tinha minha idade. O salão de baile era nosso campinho de futebol.
De vez em quando o  pai me convidava para o acompanhar em pescarias lá para os lados de Encruzilhada e Rio Pardo. Sempre ia uma turma de amigos.  Me lembro dos nomes do sr. Menezes, que era “ guarda livros” e do sr. Rambo, comerciante. Este, quando eu tinha 12 anos, me ensinou a atirar com sua arma calibre 12, dois canos. No primeiro tiro caí sentado, mas nunca perdi o fascínio por armas.
Ocorre-me outra situação que hoje pode parecer estranha. Quando íamos à missa na hoje catedral, as mulheres ficavam do lado esquerdo e os homens do direito. Mulheres casadas usavam véu preto; as demais, branco. Assim, eu ficava com meu pai e minhas irmãs com a mãe. Na hora do sermão muitos homens saíam para conversar e fumar; depois voltavam.

Volto ao papo semana que vem.

PALESTRA NA AJURIS


 



PALESTRA NA AJURIS
COMO SER A MAÇÃO VERMELHA NA COMUNICAÇÃO

No próximo dia 08 (maio), às 18:30 hs, ocorrerá na Escola da AJURIS a Palestra “Como Ser a Maçã Vermelha na Comunicação” a ser proferida pela Neurocientista Professora Nísia Rogowski  e – Luciana Schroeder, Coach e Mestre em Ciência da Computação.

Na palestra serão mostrados os métodos de como podemos entrar em sintonia com as outras pessoas tanto na linguagem falada quanto na escrita para criar situações favoráveis de interação, influência e evitar conflitos. O uso de palavras assertivas alinhadas com o mecanismo de funcionamento do cérebro a fim de obter resultados melhores nos relacionamentos são alguns dos objetivos.

LOCAL: Miniauditório da Escola da AJURIS, Rua Celeste Gobbato, 229, Bairro Praia de Belas, em Porto Alegre.

OBSERVAÇÃO: Nos eventos da Escola da Ajuris à noite o policiamento é reforçado no local.

ENTRADA FRANCA.

VAGAS LIMITADAS: Faça sua inscrição agora pelo link da Escola:


terça-feira, 1 de maio de 2018

SONETO DO ACADÊMICO JOSÉ NEDEL



PONTO DE FUGA

    José Nedel

Na pós-moderna e desvairada era,
Tudo muda a galope, ou num instante.
Novo entorno de mil facetas gera
A azáfama cruel e trepidante.

O antigo, sólido, se destempera.
O novo, descartável, é cambiante.
Nem código moral mais se venera.
A incerteza tem porte de gigante.

Nesse contexto, o que é que prevalece:
Valor da tradição, perene ? Esquece!
Do transitório agita-se o estandarte.

Eu, todavia, atalho o só lamento.
Como estratégia, boa saída invento:
Ponto de fuga busco em minha arte.