A demolição do Colégio Anchieta me dói até hoje. Com seus
inúmeros pátios cheios de plátanos e as galerias em arcos que nos remetiam a
uma abadia medieval, aquele belo colégio foi demolido para dar lugar a um
estacionamento (!!!) na Duque e a um Zaffari na Fernando Machado. Crime
inafiançável.
E temo que o meu
querido Colégio Sévigné tenha o mesmo destino. Poucos sabem, mas, ali dentro há
uma bela capela que é réplica de Notre Dame! A porta da capela, toda em madeira
entalhada, tem a flor-de-lis, símbolo da França. E a rosácea, miniatura da
rosácea de Notre Dame, foi cartão postal em Porto Alegre na década de 40.
Sévigné é um colégio católico, mas sem nome de santos, como todos os demais da
cidade. Leva o nome de uma escritora, a famosa Madame de Sévigné, demonstrando
o viés cultural que o educandário carregava.
Tenho saudade
das aulas de francês, no livro do "Robin e Bergeaud". De aprender,
com as freiras, que o Arco do Triunfo se chama "L´étoile" e que as
ruas, em forma de raios que dele partem, significam as batalhas vencidas por
Napoleão. De pronuciar corretamente "Quartier Latin" (cartiê latân) e
"Champs Elysées" (xanzelizê), coisa que muita gente erra, hoje em
dia.
Chamávamos as
freiras de "ma soeur" e a madre superiora de "ma mère". Eu,
atéia e agnóstica que sou, morro de saudade de cantar o "Tantum
ergo", em latim, que sei de cor até hoje "tantum ergo sacramentum
veneremur cernui et antiquum documentum novo cedat ritui...". E de
levantar cada vez que uma professora entrava em sala de aula, em sinal de
respeito. E sou grata por saber, até hoje, fazer tricô, crochê e bordar, artes
que, ali, aprendi.
Também tenho
saudade e acho graça da implicância que as freiras tinham com o inglês
americano. Elas detestavam os Estados Unidos, pois dali veio o "rock and
roll", Elvis Presley (o demônio, para elas), o divórcio, Hollywood e o
chiclete. Então, tínhamos que aprender o inglês britânico, este sim, classudo e
europeu. Nosso livro de inglês era o "Spoken English", que tinha um
mapa da Grã-Bretanha na capa, com um escocês tocando gaita-de-foles. Mas, certo
dia, 4 rapazes ingleses surgiram no cenário, para acabar com o sossego delas.
Os Beatles ficaram entalados nas suas gargantas e, um dia, John Lennon declarou
que eles eram mais famosos que Jesus Cristo, causando um infarto coletivo na
clausura, ah, ah, ah.
Também tenho
saudade do Grande Hotel, criminosamente incendiado, dizem, para dar lugar a
outra porcaria arquitetônica que é aquele Shopping Rua da Praia. Até hoje eu
lembro da porta giratória, com vidros de cristal bizotados, da loja da W. M.
Jackson, que vendia o "Tesouro da Juventude", da "Western
Union" e do Banco Ítalo-Belga, que ficavam no térreo. Que dor.
Como diz o
Prévidi, tenho saudade de mim.
Abraços,
Laís