domingo, 31 de dezembro de 2017
TOP SECRET
Vamos combinar, tu que me estás lendo e eu. Fica entre nós. Só entre nós. Senão estraga tudo.
De novo cumpri meu ritual secreto e sagrado.
Deixa eu te contar.
Adoro Xangri La. Mas não em janeiro e fevereiro. Razões óbvias: tenho problemas mentais, tais como aversão ao barulho, aos foguetes, à junção de multidões, ao som alto.
Então, sorrateiramente, sexta-feira passada, ainda antes da aurora, fechei minha casa da praia, acionei o alarme, embarquei na caminhonete, liguei o rádio da AM 1080 UFRGS e aí começou meu idílio. A free-way no sentido praia - P. Alegre, absolutamente vazia. Na direção oposta, carros, carros, carros, tudo parado, entupido. Meu lado cruel, maleva, já quis se regozijar com a cena, mas reprimi esses maus instintos. Isso é pecado, é feio.
No subsolo do meu edifício nenhum carro.
Hoje pela manhã acordei assustado com o silêncio. Nenhum rojão a noite inteira. Teria eu morrido dormindo? O sino da Catedral me disse que não, com seu bucólico badalar.
Olhei pelas janelas e P. Alegre estava quieta e absolutamente vazia.
Caminhei até o Parque Marinha e só um que outro ciclista.
Em seguida encomendarei um Yaksoba de camarão , acompanhado de um vinho chileno e verei, pela Netflix, o filme "Er ist wieder da", em português " Ele está de volta", uma sátira apimentada contra Hitler.
NUNCA UM AMIGO DEVEMOS PERDER
A mis amigos dedico esta zamba,
en ella siempre me recordarán,
unos con pena dentro del alma,
otros soñando con mi guitarrear;
En ellos supe encontrar un consejo,
en ellos supe encontrar un querer,
por eso a todos aquí les digo,
nunca un amigo debemos perder;
( Figueroa Reyes)
Ultimamente me ocorreram uns ataques de saudade de antigos amigos que não vejo pessoalmente há mais tempo. Amanheço, pego minha caminhonete e me meto na estrada para almoçar com o amigo e voltar. Bate e volta, como se diz. Gosto muito de alguns , com quem adoro passar o dia conversando, sim, o dia inteiro. Tenho um amigo de infância, que mora enfurnado num sítio, no meio do mato. Imaginem, o cara não tem celular. Como ele quase nunca sai da toca, visito-o sem prévio aviso. Uma vez, porém, bati com o nariz na cerca pois ele viajara. Nessas visitas ele quase não fala e ficamos escutando música erudita, o único gênero que ele aprecia. Uma ou duas vezes por ano ele aparece na minha casa, faz suas romarias pelos sebos, armazena um monte de livros e se manda de volta ao seu refúgio.
Já notei, porém, que essa nova classe de amigos, os virtuais é excelente , desde que permanecendo na virtualidade. Um dia inventei de combinar um almoço com um colega com quem me correspondia por mails e watts. Em poucos minutos a conversa “mermou”.
Penso que o primordial é que NUNCA SE DEVE PERDER UM AMIGO.
Se alguém te sacaneou, então ele não era teu amigo. Nesses raros casos penso ser melhor não falar mal . Deixa rolar, pode ser que mais na frente ocorra uma reconciliação ou se descubra que " a coisa não foi bem assim".
Numa dessas charlas intermináveis de galpão, um amigo de Santiago me explicou que o amigo para pescarias talvez não seja o conselheiro ideal para teu investimento de um milhão de piastras em Miami. Até faz sentido. Mas ele tem outra tirada muito ferina:
“ desconfia daquele amigo cuja esposa não gosta de ti”.Tese instigante, mas com a qual não me comprometi.
De um músico nativista aprendi que é bom ser compreensivo com aquele que se afasta. Quando ele cansar e se voltar, nada de cobranças!Siga o papo de onde terminou.
A amizade, contudo, não é salvo conduto para falta de educação.
Se teu amigo engordou ou pintou os cabelos, é melhor não tocar no assunto. Se ele aparecer com uma gatíssima a tiracolo, fica frio , pode não ser a filha...
sábado, 30 de dezembro de 2017
MÃOS E MUNDO
MÃOS E MUNDO
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
“A causa fundamental dos problemas no mundo é que os estúpidos são cheios de certezas enquanto os inteligentes estão cheios de dúvidas”.
Carl Gustava Jung (1875-1961)
Aquelas mãos tão inquietas antes
Inertes agora
cruzadas
(o cheiro de flor e vela)
Para onde iremos?
A pergunta é inútil: nunca saberemos.
Festas, carnavais, delírios, drogas
(E violência, autofagia, crueldade, medo)
Depois, todos irão embora,
Ele ficará lá debaixo so sete palmos
E muitos pensarão: “Credo, final de ano e ele gosta de escrever coisas tristes, pessimistas”
O bom da idade é que não mais nos importamos com os juízos alheios e com a ignorância deslumbrada.
Somos poucos? Somos.
Tantos cantores sertanejos, tanto funk – para que se preocupar, afora a Annita....”
E as mãos estarão para sempre quietas –sempre
(Salvador, 30 de dezembro de 2017)
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
“A causa fundamental dos problemas no mundo é que os estúpidos são cheios de certezas enquanto os inteligentes estão cheios de dúvidas”.
Carl Gustava Jung (1875-1961)
Aquelas mãos tão inquietas antes
Inertes agora
cruzadas
(o cheiro de flor e vela)
Para onde iremos?
A pergunta é inútil: nunca saberemos.
Festas, carnavais, delírios, drogas
(E violência, autofagia, crueldade, medo)
Depois, todos irão embora,
Ele ficará lá debaixo so sete palmos
E muitos pensarão: “Credo, final de ano e ele gosta de escrever coisas tristes, pessimistas”
O bom da idade é que não mais nos importamos com os juízos alheios e com a ignorância deslumbrada.
Somos poucos? Somos.
Tantos cantores sertanejos, tanto funk – para que se preocupar, afora a Annita....”
E as mãos estarão para sempre quietas –sempre
(Salvador, 30 de dezembro de 2017)
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
O REALISMO ATROZ DE PREVIDI TEM QUE SER LEVADO A SÉRIO
QUE 2018
SEJA A SUA CARA
Não precisa desenhar, né?
Mas, tá bom, vai lá!
Assim:
Ou assim:
Este segundo está mais no espírito da coisa.
...
Não me venham com aquela conversinha mole de que você "só quer o bem das pessoas", a "paz mundial", o "amor entre os homens".
Isso é conversa pra otário dormir.
Tipo mela cueca.
Não convence mais ninguém com este papo de Cantinflas.
Tive uma parente emprestada que dizia: "Eu ajudo a todos, sou uma pessoa muito boa". Era uma baita filhadaputa.
...
Está convencido de que não é nenhum anjinho, né?
Que torceu para que alguém se quebrasse no meio do caminho, que não suporta o seu concorrente, que disse bem assim "quero que esse sujeito se foda!!".
Sem cinismos, por favor.
Já estamos bem grandinhos para falarmos apenas a verdade.
...
Claro que comigo aconteceu rigorosamente isso.
Pelo que lembro agora, torço para que três canalhas se explodam - no sentido figurado. Não passa desse ano, porque como diz a música "tudo o que você faz / um dia volta pra você".
...
Mas ao menos eu compenso de outro jeito. Como pude, ajudei muita gente a alcançar objetivos. Elogiei muito mais do que critiquei. Dei força até para alguns que não mereciam. E até me omiti para não criticar coitados.
...
Acreditem, já fiz o meu balanço de 2017.
Paguei todos os meus pecadinhos e pecados através das três internações no Hospital Santa Clara. Não pelo HSC, maravilhoso, mas e o medo de não sair de lá?
Não tenho estrutura para mais uma "etapa" por lá.
...
Em 2018?
Já estou na frente do espelho, como a segunda ilustração aí acima.
TEM QUE BOTAR O DEDO NA CARA E ENCARAR ALGUMA MUDANÇA.
É isso que espero dos meus amigos leitores.
Uma mudança, na tentativa de ser melhor.
...
Eu vou tentar.
Mas nada de mirabolante.
Feijão com arroz.
E, por favor, nada de "amor, paz, felicidade, alegria, prosperidade" e outras baboseiras!!
TUDO FALSO!!!!
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
MAIL DE ROSANE DE OLIVEIRA SOBRE MINHA POST " O CHOCOLATÃO'
O que adoro em Rosane é sua calma e elegância!
...............................
Meus caros,
Como dediquei o Natal à família, acompanhei de
forma um tanto enviesada o debate sobre o marrom bombom do nosso Litoral. Não
quero aqui entrar em debate, porque nem mesmo é assunto da minha área de
atuação, mas aproveito para fazer alguns esclarecimentos acerca da cobertura de
Zero Hora, com a autoridade de quem trabalha no Grupo RBS desde 1992.
Em primeríssimo lugar, temos um esforço enorme
de valorização do litoral. Todos os anos, mantemos sempre duas equipes de 26 de
dezembro até o final da temporada, acompanhando o dia a dia da população que
migra para as nossas praias.
Como todos sabemos, não é novidade para ninguém
que a cor do nosso mar, em geral, não se compara ao Caribe nem a Santa
Catarina. Nos últimos verões, chamou atenção o fato de por vários dias, a água
ter ficado limpa. Fizemos matéria como esta:
E esta:
No ano passado, tivemos iniciativas
diferenciadas, como o giro de bike que começou lá no Litoral Sul e foi até
Torres, mostrando muitas coisas legais do Litoral.
Todo ano, na abertura da temporada, fazemos uma
repassada geral em todas as prais pra ver o que está bem e o que está com
problema. Colo aqui, a título de exemplo, a versão de 2016:
E esta é a de 2017, que saiu no último fim de
semana:
A matéria sobre a cor do mar no fim de semana
foi uma constatação (não brigamos com imagens e constatações, publicamos) de
que no feriadão de Natal, teve frio e chocolatão. A matéria deixou claro,
no site e no papel, que chocolatão não significa água suja e sim uma mistura de
implicações naturais (pela proximidade com rios e lagos) e também com impacto
de períodos de chuva.
No digital, é um trabalho bem cuidadoso:
Enfim, não temos predisposição de menosprezar o
litoral gaúcho, embora também não devam contar conosco pra esconder os
problemas do Litoral, sejam ambientais, de segurança, urbanos, de ocupação do
espaço natural, de convivência e tantos outros que infelizmente existem. Eu,
particularmente, escrevi em janeiro de 2017 uma crônica de domingo que vou
colar aqui em vez de dar o link porque minha produção é exclusiva para
assinantes e não sei se todos neste grupo o são. Desde já, peço desculpas pelo
"textão", mas achei que vocês mereciam mais do que meia dúzia de
linhas. Desejo um excelente 2018 a todos e faço votos de que no próximo fim de
semana o tempo colabore. Estarei no plantão, torcendo pelos que estarão na
praia, no campo ou na serra.
Grande abraço
Rosane
"CRÔNICA DE DOMINGO
Pelo sagrado direito ao silêncio
Ninguém deveria ser obrigado a ouvir músicas que
não escolheu quando vai à praia
22/01/2017 - 11h32min
Atualizada em 22/01/2017 - 11h32min
Ainda não fui à praia neste verão. Leio que o
mar nunca esteve tão azul. Vejo as fotos que os amigos postam nas redes sociais
com legendas do tipo "estou no Caribe" e fico tentada a dar uma
esticadinha até o Litoral, caminhar na areia, tomar um banho de mar. Mas os
relatos de outros amigos me fazem desistir. Dizem que a praia ficou
insuportável depois que ao inferno das caixas de som em carros estacionadas na
rua somou-se a praga das caixinhas superpotentes que reproduzem por bluetooth
as playlists do celular sob o guarda-sol a seu lado.
Sou do tipo que considera sagrado o direito ao
silêncio e à escolha da música ou do ruído que cada um quer ouvir. Por que
sermos obrigados a ouvir o funk do vizinho de barraca, o rock pauleira ou a
dupla sertaneja que se rasga para interpretar uma canção de versos infames? Que
cada um escute o que gosta – e gosto não se discute – mas sem desrespeitar os
ouvidos alheios.
Leio também que agora a moda é fazer churrasco
na praia. Então quer dizer que o cheiro de mar também acabou? Por cheiro de mar
entenda-se aquela mistura de conchas com perfume de bronzeador. Churrasco?
Mesmo que eu não coma, acho que o cheiro até é bom, mas na churrascaria ou em
em casa. Na areia? Misturado com Rayto de Sol? Sei não, mas parece bem
estranho.
Conheci o mar aos 17 anos, na viagem de
formatura do Ensino Médio. Foi encantamento à primeira vista. O som das ondas
quebrando o silêncio ficou impressa na memória como registro daquela
experiência mágica. De imensidão eu só conhecia a dos campos verdes. A
imensidão azul me arrebatou, mesmo que na parte rasa o tom lembrasse o do velho
Jacuí.
Como preciso escolher onde aplicar a folga do
fim de semana, opto por esta casinha de campo, onde eu posso curtir meus
amigos, meus discos, meus livros, e ficar no tamanho da paz, como na canção da
imortal Elis Regina. Aqui o silêncio é quebrado por um canto de quero-quero ou
de uma cigarra, o latido de um cão ou o zumbido das abelhas. Eu quero lembrar o
silêncio da infância no campo e o direito de pensar sem trilha sonora. Será
pedir demais?"
segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
' CHOCOLATÃO' -A IDIOTICE DOS COMUNICADORES PUERIS
Site de uma grande empresa dá como chamada principal o " chocolatão!" que teria ocorrido hoje no Litoral Norte.
É compreensível que o novato em jornalismo, recém saído da puberdade, dentro do seu restrito universo, vislumbre no Litoral apenas o desejo de ver mar azul que viu pela internet, nas Seyschelles.
É da vida. Ainda mais se não teve oportunidade sequer de viajar para além do Mampituba. Coisas da vida.
O impúbere dá absoluta importância ao mar que, vez por outra , se revolta, mas que sua cor se deve a ser mar aberto. Não é sujeira, nem poluição. Claro que ele não sabe, por seu mundo se restringir a algumas quadras de sua cidade, que o " chocolatão" é uma exceção, como a poluição de praias de além Mampituba ser uma constante,
Esquece o neófito a brisa fresca. O silêncio, a tranquilidade, o som do bramir do mar na alta madrugada, os bons restaurantes, as confeitarias, as crianças andando livres e soltas, muitas de bicicletas. Casais passeando de mãozinhas.
Mas o babaca não viu nada disso. Ele é dos que só imagina o pior.
O espírito de caranguejo.
Pena. Um dia vai conhecer o prazer de ver o lado bom das coisas.
sábado, 23 de dezembro de 2017
FALECEU SPEROTTO - PRESIDENTE DA FARSUL
O Sindicato Rural de Santiago sempre foi um crítico da administração do sr. Sperotto. Por vontade dos colegas produtores rurais fui convidado, anos atrás, para ser Presidente do Sindicato Rural de Santiago. Aceitei, fiz muita força,não gastei para meus deslocamentos ou despeas um pila do Sindicato, mas na época, não concordei com o fechamento e bloqueio de estradas, tática terrorista e ilegal. Sentindo o perigo do " fogo amigo" renunciei antes de terminar meu mandato.
Voltemos ao tempo. No dia da posse, Sperotto veio me prestigiar. Nunca me perseguiu por não ter votado nele. Ficou uns tempos de orelhas torcidas, mas se amansou. Depois, ficamos bons amigos.
Se foi o longevo Presidente da Farsul.
Entra em seu lugar Gedeão Pereira, homem bem sucedido, correto, que soube esperar sua vez.
Gosto muito de Gedeão e tenho absoluta certeza de que vai nos representar com muita competência.
Quanto a Sperotto, lutou o bom combate. Sua vida era a Farsul.
( na foto , Sperotto com Maristela Genro Gessinger, então Presidente da ABCIF)
AINDA O NATAL
PROSA DE NATAL
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
Naqueles natais não havia peru defumado, o irmão matava o bicho e tomava um gole de cana, papai pegava “barba-de-velho” para fazer o presépio, missa do galo, bonecas de pano, jogo de botão, bolinhas de gude. Não, não é um poema sentimental. Talvez nem seja uma prosa poética. Apenas uma "Prosa de de Natal". Não, não me chamo Raimundo (parodiando Drummond)., não gosto do gerúndio – e tudo já foi escrito sobre o natal. Incorporo Clarice Lispector como uma entidade mediúnica: A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar. Por destino volto com as mãos vazias. Shoppings cheios – como as novas catedrais do consumo, pacotes, gente estressada, um inferno com ar condicionado. Todos serão gentis, e depois esquecerão a ternura até o próximo natal, e a indústria precisa se renovar – o dinheiro, sempre ele. As mães, como os garotos, querem celulares de última geração e eletroeletrônicos da moda. Não é só a política que ficou irrelevante: a própria existência humana. O que aspirava? Plenitude – não perfeição. Mudou o natal?
Rezávamos em frente ao presépio, e juntos íamos à missa do galo. Mudei eu? (Todos perguntam.) Mudamos todos. Sim, fomos ficando velhos, outros morreram no meio do caminho.
Morreram pais, morreram mães, morreram irmãs, morreram amigos. Alguma entidade maior me fez depositário da memória da tribo. O passado escorre úmido – contamina o presente, Tento congelar o tempo – cristalizá-lo, para que ele fiquer sempre comigo, converter esse precioso instante em sempre, além de mim, além da vida, –até o pó que serei. Lembro-me de um piano numa tarde calma, de um subúrbio, de pão quentinho, de cadeira de balanço, de fogão de lenha, de tainha frita, de uma estação de trem, de um pé de amora, e também do mar – sempre ele. O que é o tempo? “O que é o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; Se quiser explicá-lo, já não sei”, socorre-me Santo Agostinho (354-430). Chamo Freud (1856-1939): O delírio é uma tentativa de cura do sujeito frente à catástrofe subjetiva, uma nova maneira de se vincular à realidade perdida. O que tem isso a ver com o natal? Tudo. E nada. O rio não é o mesmo – o menino talvez esteja naquela pele enrugada, mas isso é apenas um álibi compensatório, que a coisificação do mundo já não contempla. Fomos ficando para trás?
Mas também saberei rir nessa outra ceia, tantos anos depois, pois é preciso saber rir e não se dar muita importância. Brindaremos à vida – sim, à vida. O rio?
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
Naqueles natais não havia peru defumado, o irmão matava o bicho e tomava um gole de cana, papai pegava “barba-de-velho” para fazer o presépio, missa do galo, bonecas de pano, jogo de botão, bolinhas de gude. Não, não é um poema sentimental. Talvez nem seja uma prosa poética. Apenas uma "Prosa de de Natal". Não, não me chamo Raimundo (parodiando Drummond)., não gosto do gerúndio – e tudo já foi escrito sobre o natal. Incorporo Clarice Lispector como uma entidade mediúnica: A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar. Por destino volto com as mãos vazias. Shoppings cheios – como as novas catedrais do consumo, pacotes, gente estressada, um inferno com ar condicionado. Todos serão gentis, e depois esquecerão a ternura até o próximo natal, e a indústria precisa se renovar – o dinheiro, sempre ele. As mães, como os garotos, querem celulares de última geração e eletroeletrônicos da moda. Não é só a política que ficou irrelevante: a própria existência humana. O que aspirava? Plenitude – não perfeição. Mudou o natal?
Rezávamos em frente ao presépio, e juntos íamos à missa do galo. Mudei eu? (Todos perguntam.) Mudamos todos. Sim, fomos ficando velhos, outros morreram no meio do caminho.
Morreram pais, morreram mães, morreram irmãs, morreram amigos. Alguma entidade maior me fez depositário da memória da tribo. O passado escorre úmido – contamina o presente, Tento congelar o tempo – cristalizá-lo, para que ele fiquer sempre comigo, converter esse precioso instante em sempre, além de mim, além da vida, –até o pó que serei. Lembro-me de um piano numa tarde calma, de um subúrbio, de pão quentinho, de cadeira de balanço, de fogão de lenha, de tainha frita, de uma estação de trem, de um pé de amora, e também do mar – sempre ele. O que é o tempo? “O que é o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; Se quiser explicá-lo, já não sei”, socorre-me Santo Agostinho (354-430). Chamo Freud (1856-1939): O delírio é uma tentativa de cura do sujeito frente à catástrofe subjetiva, uma nova maneira de se vincular à realidade perdida. O que tem isso a ver com o natal? Tudo. E nada. O rio não é o mesmo – o menino talvez esteja naquela pele enrugada, mas isso é apenas um álibi compensatório, que a coisificação do mundo já não contempla. Fomos ficando para trás?
Mas também saberei rir nessa outra ceia, tantos anos depois, pois é preciso saber rir e não se dar muita importância. Brindaremos à vida – sim, à vida. O rio?
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
NATAL NA CASA DE MEUS AVÓS
Meus avós paternos, Rudolf Gessinger e Rosália Klafke Gessinger tinham casa de comércio em Boa Vista. distrito de Santa Cruz do Sul. Faleceram ambos num desastre de automóvel quando se dirigiam à Missa de Ramos em Santa Cruz no ano de 1953, quando eu tinha 8 anos.Estão sepultados, lado a lado, na entrada do Cemitério Católico da cidade de Santa Cruz.
A casa do meu avô desperta-me muita saudade. Ali se vendiam víveres para os colonos, além de ferramentas, tecidos, remédios. O salão de bailes servia, normalmente, para depósito de fardos de fumo. Na parte social da casa o que mais me fascinava era a abundância de instrumentos musicais, a começar por um piano importado, tocado pela minha tia Brunhilde. A tia Hildegard estudara acordeon. Também havia violinos e violões.
Quando passava férias lá, dormia no quarto do meu tio Guido, dez anos mais velho que eu e espiava as cartas que ele mandava para sua namorada em P. Alegre, hoje sua esposa.
O Natal era comemorado dia 25 mesmo e não tinha nada dessas festas pantagruélicas que hoje se fazem dia 24. Minhas irmãs, meus pais e eu íamos à missa bem cedo em S. Cruz e, após, embarcávamos na caminhonete Dodge 1951, rumando a Boa Vista. A mãe e minhas irmãs desciam na casa da avó materna, Bertha Etges, viúva. E eu seguia com meu pai.
Não estou dizendo que o que agora vou narrar pode se aplicar aos dias de hoje. Só estou descrevendo.
Meu pai, tios e tias tinham um respeito sacrossanto pelos meus avós. Só se sentavam à mesa depois que os genitores o fizessem. A ajudante de minha avó, sra. Anna Stuelp, servia o almoço. Rezava-se, então, em alemão, o Pai Nosso, a Ave Maria e o Glória ao Pai. Feito isso, meu avô era servido e ele escolhia suas postas prediletas de galinha. Falava-se pouco durante a refeição.
Findo o almoço meus avós iam sestear sendo proibido um pio pela casa.
Liberado o horário de silêncio eu ia brincar com os Wuttke que moravam defronte.
À tardinha meu avô chamava as tias para executarem algumas peças musicais para as visitas.
Muitas dessas práticas procurei incutir nos meus filhos. Quase todos se exercitam em instrumentos musicais.
Para mim, a maior herança que se pode deixar é a perpetuação de bons usos e costumes aos descendentes
( Na foto meus avós, pai, tios e tias)
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
COMO ORAR - TRAD. DO JURISTA ROGOWSKI
Como
orar?
De
autoria do pastor americano Scott Admer, o livro "Como Orar Com Poder" já ajudou milhares de pessoas pelo mundo
a terem suas vidas transformadas pelo poder da oração e se tornou um best seller gospel book nos EUA, Canadá,
Austrália e outros.
O
livro foi traduzido para o português pelo Dr. J. F. Rogowski conhecido jurista
no Brasil e Portugal, pesquisador e escritor de dezenas de trabalhos jurídicos
e teológicos, e também hermeneuta bíblico, formado pela Word of Life Bible School
com sede na cidade de Uppsala, Suécia.
"Como Orar Com Poder" foi publicado
em português no formato digital pela Aurium Editora, numa linguagem simples, de
fácil compreensão, acessível a todos, sem abdicar da vivificação do Espírito
Santo.
É
precisamente na singeleza de suas palavras que se percebe a pureza da presença
do Poder de Deus, sente-se a unção verter em cada parágrafo, em cada página.
Numa
época de tantos desafios para a nação brasileira, tantas lutas, esse livro
abençoado chega em boa hora ao Brasil.
O
lançamento foi neste mês de Dezembro e está a venda na Livraria Hotmart.
Para saber mais acesse o portal voz profetica - link: vozprofetica.net
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
SÁBIA MENSAGEM DE UM JOVEM MINISTRO DO STJ
Acabo de receber essa mensagem do amigo Paulo de Tarso Vieira Sanseverino, jovem Ministro do Superior Tribunal de Justiça, que reflete muito bem o que devemos fazer se quisermos um mundo melhor.
domingo, 17 de dezembro de 2017
SOBRE GRÊMIO E REAL
Os eufóricos e que nada conhecem depois do Mampituba ou dos aeroportos, que me perdoem. Mas a Europa não sabe nada do Brasil, muito menos que ao Sul do "Brazil" existe uma província diferente , com seu linguajar próprio, com sua música nativa e com suas ronhas .
Os grandes veículos de comunicação mundiais não deram nem cinco de bola para o jogo. Um jogo como qualquer outro.
Sou colorado. Mas, nem por isso, idiota.
O Grêmio se portou nobremente. Não deu escândalo, foi elegante. O que talvez o tenha prejudicado foi o arroubo de novo rico de seu técnico que , a serem verdadeiros os noticiários, meteu o Grêmio numa polêmica pueril . Mas mesmo assim, o Grêmio poderia ter ganho o jogo, como o fez o meu Inter contra o Barcelona , quando jogou por uma bola.
Não compactuo da tese que jogou contra uma seleção mundial. O Real escapou de tomar 2 x 0 do Al Jazira.
Os grandes veículos de comunicação mundiais não deram nem cinco de bola para o jogo. Um jogo como qualquer outro.
Sou colorado. Mas, nem por isso, idiota.
O Grêmio se portou nobremente. Não deu escândalo, foi elegante. O que talvez o tenha prejudicado foi o arroubo de novo rico de seu técnico que , a serem verdadeiros os noticiários, meteu o Grêmio numa polêmica pueril . Mas mesmo assim, o Grêmio poderia ter ganho o jogo, como o fez o meu Inter contra o Barcelona , quando jogou por uma bola.
Não compactuo da tese que jogou contra uma seleção mundial. O Real escapou de tomar 2 x 0 do Al Jazira.
quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
E A PRINCESA PARTIU
Elle était si jolie ( ela era tão linda)
Que je n'osais l'aimer ( que eu não ousava amá-la)
Elle était si jolie ( ela era tão linda)
Je ne peux l'oublier ( eu não a posso esquecer)
.
A princesa tinha 15 anos e precisava de um par para o baile de
debutantes do Club União. Pois não é que eu, com 17 anos, mereci a honra do
convite para a valsa?
Voltemos no tempo.
Me dava ciúmes ver aquele “ footing”, como dizia o Michels, então
cronista da Gazeta, de guris e gurias andando com as toalhinhas de banho,
mostrando, aos vis mortais, que eram sócios da única piscina de água azul de
Santa Cruz, a do Tênis Club.
Meu pai tinha ido mal nos seus negócios. Para quem cresceu entre pianos
e violinos é brabo se conformar com a série C do campeonato da vida.
Comecei a vender cestas de Natal Titanus e Columbus, fazer cobranças,
trabalhei na Assmann Artefatos de Cimento e acabei comprando um título do Tênis
Club. Ingressei,portanto, gloriosamente nessa esfera do que, então, achava tudo
de bom.
A princesa, era alta , loira, olhos vivos e ternos. Vestia um maiô
inteiro. Discreto.Conversas intermináveis com ela à beira da piscina.
Frequentando o Segundo ano Científico do Colégio Mauá me convenci que
minha praia era o Direito. Não havia o curso “ clássico” em Santa Cruz, muito
menos faculdades. E, por isso, me mandei a P. Alegre para me matricular no 3.
ano do Clássico do Júlio de Castilhos. No ano seguinte passei no vestibular da
UFRGS.
Os amores juvenis são plantinhas sensíveis que tem de ser regadas com
muita frequência. Eu era um “ pelado”, morador da Casa da Uesc, em P. Alegre,
onde dividia um quarto com quatro colegas. De vez em quando ia na rua Hoffmann
e pegava carona do sr. Piccinin no seu caminhão para Santa Cruz.
Mas as idas iam rareando e outros interesses preponderando. Os bailes da
Reitoria, as colegas de Faculdade, as novas relações.
Quando visitava pais e parentes era na correria. Mas sempre perguntava
pela princesinha que me tinha dado tanta honra. Casei, tempos depois descasei,
fiquei vários anos sozinho, até que conheci Maristela, com quem estou bem feliz
até agora..
Soube que a princesa casara e tinha filhos. Igual, sempre que podia, eu
perguntava como ela ia.
Até que me disseram que ela estava doente, muito doente. Pensei em ir
visitá-la, mas nao tive coragem. Ela partiu.
Me mostraram sua foto.. A idade não lhe tirara nada de sua beleza.
Se rolou alguma coisa? Só aquela valsa e as conversas à beira da
piscina..
Sim, “ elle était si jolie”
segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
ONDE VAMOS PARAR?
É época Natalina e essa quadra do ano me deixa muito sentimental e saudoso.
Recordo-me dos dias da minha infância. As aulas estavam terminando e era tempo de ajudar meu pai em sua casa de comércio em Santa Cruz. Labutava o dia inteiro, bem feliz.
Nossa casa era no centro da cidade e dormíamos de janelas abertas. Sim, sim, sim, janelas com as cortinas esvoaçantes.
O que houve conosco no Brasil inteiro?
Assassinatos e execuções se sucedem. Cresce o número de pessoas catando coisas nas lixeiras . Nas cidades médias e grandes cada vez mais moradores de rua. E olha que são pessoas tranquilas e nunca vi um agressivo. Mas moram na rua e catam lixo.
O que houve?
Bandidos tornaram um inferno as cidades pequenas.
O desemprego campeia.
Às vezes acordo e penso que tudo isso é mentira, apenas tive um pesadelo.
Mas a luz do sol é implacável e me confronta com um país lindo, mas francamente decadente.
Recordo-me dos dias da minha infância. As aulas estavam terminando e era tempo de ajudar meu pai em sua casa de comércio em Santa Cruz. Labutava o dia inteiro, bem feliz.
Nossa casa era no centro da cidade e dormíamos de janelas abertas. Sim, sim, sim, janelas com as cortinas esvoaçantes.
O que houve conosco no Brasil inteiro?
Assassinatos e execuções se sucedem. Cresce o número de pessoas catando coisas nas lixeiras . Nas cidades médias e grandes cada vez mais moradores de rua. E olha que são pessoas tranquilas e nunca vi um agressivo. Mas moram na rua e catam lixo.
O que houve?
Bandidos tornaram um inferno as cidades pequenas.
O desemprego campeia.
Às vezes acordo e penso que tudo isso é mentira, apenas tive um pesadelo.
Mas a luz do sol é implacável e me confronta com um país lindo, mas francamente decadente.
quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
AMIGOS E CONVERSA UMA TARDE INTEIRA
Pergunto. Coisa melhor que um papo, na véspera de um feriado, com amigos queridos?
Loeffler e Previdi são jornalistas polêmicos. Mas extremamente carinhosos, bem resolvidos.
Rudolf me ajudou a os recepcionar.
E aí meu leitor: quanto tempo faz que não sentas com um amigo e passas uma tarde charlando?
Loeffler e Previdi são jornalistas polêmicos. Mas extremamente carinhosos, bem resolvidos.
Rudolf me ajudou a os recepcionar.
E aí meu leitor: quanto tempo faz que não sentas com um amigo e passas uma tarde charlando?
quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
EM BUSCA DO ALTO ASTRAL
MARCELO AIQUEL
Amigos,
a inevitável reflexão desta época natalina me levou a seguir em busca da experiência
de vida saudável e da felicidade plena, ensinada – com muita sabedoria – pelos
estudiosos das ciências médicas e espirituais.
Todos
são unânimes em dizer que um dos maiores motivos de stress no ser humano é o
rancor, ou o ódio que nos consome sem barulho ou aviso prévio. Sem contar que o
pensamento positivo e o otimismo constante nos trazem – seguramente – uma condição muito mais agradável ao nosso dia a dia.
Diante
disso, decidi dedicar mais amor a quem merece amor, e procurar ser mais
tolerante com (ou mesmo tentar perdoar) aqueles que tem
um comportamento que me incomoda pela hipocrisia, pela falta de respeito e
educação; pelas ideias retrógradas; pela mediocridade dos objetivos; e pela ilusão
consciente diante da verdade dos fatos. Até porque a verdade não tem versão. Ou
é, ou não é.
Ah,
e também tentarei ser tolerante com os que “se fazem” de POLITICAMENTE
CORRETOS! Será bem difícil, mas prometo tentar.
A
partir de agora vou procurar ser mais feliz e ignorar solenemente a tudo o que
me causa algum stress, inclusive – e principalmente – as pessoas que motivam
isto, seja por atos ou palavras.
Assim,
daqui em diante, vou fazer um grande esforço para EVITAR, na minha rotina diária:
-
assistir telejornais com suas notícias tendenciosas, ou de desgraças;
-
escutar, ler, ou me inteirar de coisas que em nada somam para minha paz e
para a minha vida;
-
perder a paciência com ridículas “flautas” de futebol (principalmente vindas de recalcados
perdedores);
-
dar espaço para pessoas pessimistas, de baixo astral;
-
esquentar a cabeça com os pobres idealistas bolivarianos.
Este
filtro que buscarei passar a colocar
em prática não quer dizer que vou simplesmente
“cruzar os braços e me omitir”, ou permitir que tais
sujeitos tomem conta do pedaço, sem qualquer oposição.
NÃO MESMO!
Apenas
farei força para não mais carregar o “lixo” deles comigo.
Quero
ser mais leve!
Dormir
tranquilo!
E
ser feliz!
A
minha saúde, o meu humor, e quem vive ao meu lado, agradecerão. Com certeza.
Marcelo Aiquel – advogado (06/12/2017)
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
MEUS PRIMEIROS 50 PILAS - POR RUDOLF GENRO GESSINGER
Era verão em 2005. Eu tinha 9 anos e recém saído de férias do colégio. Fui com o meu pai para a praia, chegamos no começo da tarde e, tão logo nos estabelecemos, ele me deu uma relação de coisas que queria que eu comprasse na farmácia. Unida por um clips ao papel que continha o que eu precisava trazer, uma nota de 50. Que dinheirão!, eu pensei.
Calcei um tênis e fui cumprir a missão. Só não fui segurando a nota de 50 com as duas mãos porque cairia da bicicleta.
Eu sempre ia na mesma farmácia e o trajeto era curto. Em questão de 20 minutos, eu já tinha voltado trazendo um envelope pardo com tudo dentro: os remédios, a nota fiscal e o troco.
Como normalmente fazia, meu pai confirmou que tinha vindo tudo e, do troco, me deu as moedas e alguma nota de 1 e 2. Eu me sentia super bem recompensado com o que ganhava nessas tarefas; dava pra comprar um picolé no final do dia e esse era o auge.
Minha mãe não veio conosco porque as férias dela ainda não tinham chegado, por isso resolvemos pedir uma pizza de janta. Liguei e pedi uma grande, inclusive frisei: GRANDE.
Troco pra 50, vinha em meia hora. Peguei o dinheiro com o pai e fiquei esperando.
Lá pelas tantas, chegou um cara de moto ali na frente de casa trazendo uma caixa de papelão mais ou menos do tamanho da roda de um carrinho de mão. Achei aquilo muito estranho.
Lá pelas tantas, chegou um cara de moto ali na frente de casa trazendo uma caixa de papelão mais ou menos do tamanho da roda de um carrinho de mão. Achei aquilo muito estranho.
- Moço, teu pessoal errou. Eu pedi uma pizza grande.
- Mas essa é uma pizza grande!
Não pode. Louco eu não tinha ficado.
Pedi pra ele abrir a caixa e vi que a pizza tinha os sabores que queríamos. O problema é que sendo daquele tamanho eu comeria tudo sozinho e continuaria com fome… e o preço era de pizza grande.
- Cara, isso não é uma pizza grande de jeito nenhum!
- O nosso tamanho grande é esse e o teu pedido tá certo.
Não era certo aquilo. Com firmeza, respondi:
- Então pode levar embora isso aí porque eu não quero. É pequena demais.
Ele não tinha culpa, mas me entendeu. Montou na moto, fez a volta e foi embora. Também me virei, abri o portão e, logo que entrei no pátio, vi meu pai de pé na área. Percebi que ele tinha testemunhado tudo.
- Tu viu que tentaram nos roubar?
- Tô orgulhoso de ti. Isso é saber dar valor ao dinheiro! Ele me respondeu abrindo os braços, que estavam cruzados.
Ganhei um abraço forte e agradeci pelo elogio. Realmente eu não tinha percebido a dimensão do que eu tinha feito.
Em seguida disse alguma coisa como “ó, tá aqui o teu dinheiro”.
- Fica pra ti. Vou ligar pra tua mãe e contar que tu foste muito bem nessa.
- Ba, muito obrigado!
Olhei pra nota, igualzinha à que eu levei pra farmácia de tarde. Quanta coisa eu poderia comprar usando ela… agora era minha. Fiquei muito feliz.
Então me lembrei que tínhamos ficado sem janta.
- E agora? O que vamos comer?
- Deixa isso comigo, vai lá guardar teu dinheiro.
- Tá bom. Valeu mesmo!
Voei até o meu quarto.