APENAS UM RAPAZ
LATINO-AMERICANO
EMANUEL MEDEIROS
VIEIRA
Serei rápido. Mais uma da nossa geração que se vai.
Veio do Nordeste, não formou “panelinhas”, grupos, e com
extrema força e talento deixou uma bela obra.
Sempre te escutei.
E, mesmo dando a
cara ao
tapa, ouso perguntar: não foram segmentos da chamada contracultura (dois de seus mais famosos nomes, nasceram
aqui na Bahia,– de onde escrevo) que alijaram (consciente ou inconscientemente)
outras correntes, outras vozes, outros talentos,como o próprio Belchior?
Eu sei, eu sei, houve
a ditadura. Mas foi só ela que alijou a música de protesto, que mesmo com tanta
lambada nas costas, buscou captar as raízes da Nacionalidade, deste Brasil
difícil, desigual, e que todos nós amamos?
Não na fórmula da ditadura “Ame-o ou deixe-o!”
Há muitos anos, Henfil (1944-1988)já pensava assim: numa charge de
sua autoria, alguém indaga:, mais menos
assim (escrevo de memória):“Ninguém vai responder à Ordem do Dia?”
(Na época, tais ordens eram muito comuns e escritas pelo Ministério
do Exército – agora são “Comandos”) Alguém responde: “Não precisa. Caetano e
Gil já falaram”.
Num momento de homenagem, Belchior, não deveria falar assim.
Mas a gente persegue verdade. Espero até estar errado na
minha avaliação.
Mas creio que também Zé Ramalho (1949), Ednardo (1945),
Fagner (1949) e outros não entraram totalmente no esquema da grande mídia, da
canonização ou divinização em vida e da bajulação extrema.
O preço não é pequeno.
O amigo foi como
muitos, apenas um rapaz latino americano , sem dinheiro no bolso, sem parentes
importantes e vindo do interior.
Um rapaz latino
americano, brasileiro, que admirávamos muito.
E vai-se Antônio
Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes – que preferiu ser chamado
apenas de Belchior.