terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

CRÔNICA DE DESPEDIDA DO RECANTO XANGRILA


Quanta tertúlia, quantos jogos de tênis, quanta amizade durante essas décadas em que também fui sócio quotista do recanto Xangri la.
A turma começou a ser atingida pela idade,  outros empreendimentos foram surgindo e decidimos vender os terrenos sobre os quais estavam as quadras.
Celso Carlucci de Campos  apresenta sua crônica.

Pois, meus caros amigos, encerra-se, simbolicamente hoje, uma etapa de nossas vidas. A etapa Recanto Xangri-Lá, nome inspirado na sugestão de nosso saudoso e inesquecível LonguinoBystronski.

Uma etapa importante, pois este encontro de amigos já dura mais de quarenta anos. O encontro não se encerra, é claro, pois nós, ainda remanescentes, certamente continuaremos nos encontrando, ao menos a cada veraneio.

A referência que nos aproximou nos primeiros tempos, a quadra de tênis do Cléo (que sucedeu à antiga quadra de asfalto do Hotel Xangri-Lá), continuará à nossa disposição, conforme afirmado pelo próprio já por diversas vezes.

As amizades que aqui desenvolvemos e cultivamos durante todo esse tempo são daquele tipo de amizade que dispensa a convivência frequente, pois a maioria de nós se vê apenas no verão. Mas, ao nos encontrarmos a cada ano, parece que não houve interrupção, as conversas apenas continuam, como se não tivesse havido a separação temporária.

Vêm-nos à lembrança os primeiros tempos, ainda na quadra do hotel, quando chegávamos cedo, por volta das oito horas da manhã, e os dois primeiros a chegar tinham direito de jogar um set de simples antes das duplas habituais. Éramos jovens. Muitas vezes, depois das duplas, ainda nos restava energia para uma partida de simples, sob o sol escaldante do meio-dia. Lembro-me dos meus amistosos e renhidos confrontos com o David, que o Amerigo até hoje comenta comigo.

E os torneios, já desde o hotel, quando chegamos a ter trinta e duas duplas inscritas, divididas em categorias. E as festas de encerramento, no sítio do Neneco, de onde saíamos muitas vezes cheios de chope e íamos para a estrada, voltando pras cidades. E o “coroamento” dos campeões com meia melancia na cabeça! E a guerra de chope! E os patrocinadores financiando o churrasco com um boi inteiro!

E os desafios, que nasciam nas festas, já com algum teor etílico na cabeça, e se concretizavam na quadra nos dias seguintes. E o Julinho me escolhendo como parceiro e, já no chope, desafiando a dupla Cléo e David, sempre com uma aposta. E perdíamos sempre. Quanta cerveja pagamos...

E as tertúlias, músicas prolongando nossas jantas, e as serenatas, quando, depois das festas, saíamos a cantar acordando os amigos que abriam suas casas para nos receber. Às vezes até interrompemos atividades importantes que estavam acontecendo... Nesse setor, tenho orgulho de lembrar que, com a empolgação dos festivais nativistas de que estava possuído, consegui fazer muitos amigos perceberem o encanto das músicas nativistas, quando, como me disse o Amerigo ontem, começavam a entender o significado das belas letras que íamos mostrando.

Mais detalhes e histórias certamente estão, neste momento, aflorando às memórias de muitos.

Tenistas demais frequentando a quadra, que já não dava conta de tanta demanda.

E, finalmente, após muitos planos do grupo à beira da quadra, quando muito se sonhava e nada se concretizava, surge o princípio do Recanto: o Cléo havia comprado os terrenos e nos disponibilizava a sonhada construção das quadras.

Então o projeto andou. Formou-se o primeiro grupo de “associados”, éramos dezessete, aos quais foram-se paulatinamente agregando outros, chegando-se a ter cinquenta e oito condôminos, como passamos a ser chamados na constituição do Condomínio Recanto Xangri-Lá. Naquela etapa, após a construção das quadras pelo Cléo, já se reunindo os primeiros recursos do grupo, conseguimos juntar o montante para ressarcir ao Cléo o valor despendido na compra dos terrenos.Entretanto, o esforço desse amigo e o valor do benefício recebido são imponderáveis, certamente isso não conseguiremos ressarcir.

Éramos os donos do tênis na praia. Nenhum clube ou associação tinha, como nós, três quadras modernas, sempre com pisos de última geração, que atraíam a atenção dos tenistas que aqui veraneavam.

E assim estivemos, jogando tênis, a nossa paixão, e convivendo em amizade, ativos e participantes, durante tanto tempo. Os que estão aqui presentes hoje, fundadores ou que aderiram ao grupo na trajetória, conhecem essa história.

Muita coisa ainda poderia ser dita a respeito desta história. Mas nossa memória é imperfeita...

Mas o tempo é implacável. Os condomínios surgiram, com suas quadras. O grupo, amadureceu e envelheceu. Muitos deixaram de frequentar as quadras, em função da saúde ou por outros motivos, e começaram a retirar-se, de forma que restamos nós, que hoje estamos promovendo o encerramento desta etapa.

Mas encerra-se esta etapa com dignidade, conforme nos propusemos. À custa de bastante trabalho, mas valeu a pena.

E este encerramento, em nossa visão, ocorre da melhor forma que poderia ocorrer: além do final de uma etapa de nossas vidas, como dissemos no início, significa o começo de uma nova etapa das vidas dos queridos amigos Amerigo, Claudete e família, que construirão sua residência de praia, configurando, assim, em nossa visão, a vizinhança ideal. Muito sucesso e alegria lhes desejamos, merecidíssimos, pelas pessoas que são e têm sido em todos esses mais de quarenta anos.

Estamos já tocando em frente (como diz Renato Teixeira, o compositor) o processo da transmissão do terreno, aguardando apenas a chegada das últimas procurações que, por circunstâncias especiais, ainda não puderam ser-nos remetidas. O encaminhamento da escritura e finalização da venda deverá ocorrer nos próximos dias.

Mas, como este não é um momento de tristeza pelo final de uma vivência e sim de alegria por ela ter acontecido e ainda um festejo pela continuidade do jeito que se configura, vamos ao nosso tradicional momento musical, com que pretendemos manter a alegria que sempre nos distinguiu.