sábado, 26 de novembro de 2016
CARTA PARA MINHAS NETAS CLARA E PETRA
Gurias!
Daqui a uns dias vocês farão a viagem inversa àquela que seus bisavós fizeram. Vão morar na Alemanha, onde já está trabalhando o Armando, pai de vocês e meu filho.
Claro que a gente vai continuar se falando e coisa e tal, mas não com tanta frequência.
Lembrem-se que vocês carregam uma carga genética de muita rusticidade, resistência e força, tanto física como mental.
A vó Ludmila, minha mãe já falecida, me deu a luz em casa, assistida por uma parteira e um balde de água. E já saí mamando. Nunca tive baldas e desde criança trabalhei (fosse hoje meus pais estariam na cadeia). Quando eu fazia uma arte recebia uns laçaços na bunda ( coisa que se fosse hoje, levaria meu pai ao Presídio de segurança máxima).
A gente ia na aula, com chuva ou sem chuva, a pé e levava reguaços dos professores ( que hoje seriam executados por fuzilamento).
Futebol a gente jogava de pé no chão e quanto pisava num prego enferrujado tracava-lhe sal e " segue o baile".
Apesar de na época não haver vacina, nem isso nem aquilo, ninguém morreu.
Então , gurias, metam a cara, vão morar meio amontoadas no início. Sorriam para os vizinhos, sejam prestativas, se for o caso, sejam babás no início.
E não se esqueçam: a vida é dura para quem é mole .
E ao embarcarem no avião, só olhem para a frente!