Liebe Freunde der deutschen Sprache und
Kultur deutscher Herkunft! Estimados
amigos da língua alemã e da cultura de origem germânica!
A
língua alemã já me foi entregue no berço. Meus antepassados faleceram sem nunca
ter falado outro idioma, e posso lhes assegurar, eram bons brasileiros. Em
minha infância a língua alemã fazia parte de forma tão natural, como o ar que
respirava. Somente adolescente, quando comecei a frequentar o colégio “lá fora”-
na cidade - que me deparei com um fato novo: no espaço educacional eu era
duplamente discriminada: eu era colona (vinha do interior) e era grossa (porque
falava alemão e não dominava o português). Somente, mais tarde, já na Universidade
Federal de Santa Maria, meus conhecimentos linguísticos foram valorizados.
Enquanto monitora, comecei a dar aulas de alemão na universidade, em
substituição à professora que fora estudar na Alemanha. Fiz curso de formação
de professor no Goethe Institut de Belo Horizonte e fui também convidada a dar
aula no Centro Cultural de Santa Maria. Mais tarde lecionei alemão na
Pontifícia Universidade Católica de Pelotas. Minha graduação em língua alemã
foi efetivada no IFPLA da UNISINOS, onde também participei da primeira turma do
curso de Pós-Graduação em Língua Alemã.
Tanto
em Santa Maria, quanto em Pelotas as salas sempre estiveram lotadas de pessoas
interessadas em aprender alemão. No entanto, quando voltei a morar em Santa
Cruz, meados anos 80, deparei-me com falta de interesse pelo idioma. Desde
então não mais parei de investigar esta realidade. Para me aperfeiçoar, estudei
literatura e cultura alemã na universidade Albert Ludwig de Freiburg. Para
entender melhor minha região, sua história e dinâmica, fiz mestrado em
Desenvolvimento Regional, na área Sociocultural. Em meu afã de querer conhecer
mais, de entender melhor a realidade histórica, social, cultural de Santa Cruz fiz
pesquisas. Em uma de minhas leituras me deparei com um texto do professor Theo
Kleine em que promovia uma reflexão sobre significado da língua alemã presente
em nosso Rio Grande. Theo Kleine foi o fundador da Casa da Juventude de Gramado
e ativo participante do Centro Cultural
25 de Julho que ora aqui nos abriga. Dizia ele „Die
Sprache ist eben mehr als nur ein Verständigungsmittel unter den Menschen“. Isto é, que “a língua é muito mais do que um meio de
comunicação entre pessoas”; e fundamentava que na língua se tecem e efetuam formas de vida forjadas durante séculos, e que
a perda de uma língua significa perda de substância espiritual e intelectual;
que quando uma perda acontece de uma geração para a outra, se instala no lugar
do que foi perdido um empobrecimento espiritual e intelectual que, muitas vezes,
nem é percebido pela pessoa atingida, mas que, com frequência, é motivo de
desenvolvimentos desfavoráveis.
Estas
palavras de Theo Kleine me levaram a querer entender mais e melhor o
significado da língua alemã para Santa Cruz e para os seus falantes. Afinal, por
que manter viva a língua alemã em Santa Cruz? Ela faz parte da identidade dos
falantes? Ela faz parte da identidade de Santa Cruz? Estas questões eu persegui
em meus estudos de doutorado na Universidade Eberhard-Karls de Tübingen, na
Alemanha onde estudei e analisei a situação da língua alemã presente em Santa
Cruz.
Para
chamar atenção sobre a condição bilíngue de Santa Cruz, comecei a escrever
crônicas, publiquei mais de cem, publiquei livros de receitas bilíngues, afinal
... é pelo estômago que se conquista os
comensais, pensei. Eu queria apresentar nesses livros algo especial que Santa
Cruz tem para servir à mesa, a língua alemã.
Para
que as pessoas percebessem o imenso valor imbricado no fato de serem bilíngues,
iniciei na Universidade de Santa Cruz, encontros culturais em idioma alemão em
2009. Até final de 2010 havíamos promovido 32 encontros, ofertados
gratuitamente à comunidade, que foram muito bem frequentados.
De
2011 a 2014 trabalhei no projeto de pesquisa, memória viva que resultou no
livro Spurensuche – Rastros da presença da língua alemã em Santa Cruz, uma
forma de fixar um pouquinho desse patrimônio imaterial de Santa Cruz em livro
e, assim, chamar atenção para esta presença. Em 2014 foi iniciado o projeto de
extensão Cultivar Idioma & Vivenciar Cultura com dois enfoques: o primeiro é
o Stammtisch Deutsch, que são encontros temáticos culturais em língua alemã o
segundo é o passado presente por meio de sabores, saberes e da memória. Este
projeto conta com a monitoria da acadêmica Raphaela Hagemann, nossa Miss Santa
Cruz aqui presente. Danke Raphaela. Já realizamos 24 encontros e estamos
coletando receitas e histórias para o próximo livro. Cabe ainda colocar que há
14 anos sou comentarista cultural do programa A Hora Alemã Intercomunitária de
do Programa Deutsche Musik da Radio Santa Cruz.
Senhoras
e senhores, estamos aqui reunidos para celebrar a imigração alemã no Rio Grande
do Sul, o legado da tradição do associativismo e a herança linguística, ambos parte do patrimônio
imaterial transmitido por nossos ancestrais.
Neste
sentido gostaria de relembrar um pensamento do famoso psicanalísta Carl Gustav
Jung psiquiatra e psicanalista suíço, um
dos maiores estudiosos da vida interior do homem.
“Pensar
que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente
anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia. Nasceu num contexto
histórico específico, com qualidades históricas específicas e, só é
completo, quando tem relação com essas coisas. Se um indivíduo cresce sem ligação
com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse
perceber
o mundo exterior com exatidão. Isto é o mesmo que mutilá-lo.”, conclui
Jung.
Fomentar
a relação atenciosa com o passado é compromisso das famílias e das escolas. Também
as diferentes línguas do Brasil devem ser fomentadas pelas escolas brasileiras.
Cabe aqui lembrar que o Brasil é um dos países mais ricos do mundo em
diversidade linguística. Aqui são faladas em torno de 200 línguas que suportam
uma imensa diversidade cultural. Em cada região em que existe uma língua
regional, esta deveria receber o status de “língua regional” e fazer parte do
currículo das escolas. Escola é o locus de aprendizado de valores. Lá a criança
aprende a valorizar o patrimônio imaterial da comunidade em que sua escola está
inserida. Se a escola falhar neste sentido, estará colaborando para que a
cultura de sua comunidade seja depreciada. No caso da região de Santa Cruz, a
língua alemã existente precisa receber maior apoio da comunidade representativa
para o seu fomento e cultivo. Ela é um elemento que distingue a comunidade, ela
faz parte da identidade regional e da identidade dos falantes. Além disso, por
meio da preservação e do cultivo da língua, podemos alavancar desenvolvimento,
cultural, social, econômico, intelectual e turístico para toda a coletividade.
Com
relação ao plurilinguíssimo existente no Brasil e ao bilinguismo existente em
diferentes regiões do Rio Grande e, para finalizar, quero ainda lhes apresentar
uma fala do professor de filologia
românica da Universidade de Zurique na Suíça, Georg Bossong:
“Ideal
wäre eine Welt der generalisierten Mehrsprachigkeit” – Diz ele: “talvez seja
uma utopia, mas deve ser permitido, conceber uma utopia assim: ideal seria um
mundo com plurilinguismo generalizado, em que tanto as necessidades da
eficiência comunicativa fossem consideradas, quanto às necessidades da
identidade dos falantes; ideal seria um mundo, em que cada indivíduo tivesse
direito de escolha, de, sem repressão e sem obrigação poder falar livremente a
língua que lhe parece adequada para cada
situação. Ideal seria um mundo de igualdade em liberdade.“
O
prêmio que ora me é conferido não é somente para mim. Este prêmio eu dedico à
minha universidade UNISC que apoia meu fazer pelo idioma e pela cultura de
origem alemã. Esta premiação valoriza a presença da língua alemã na região de
Santa Cruz e a dedico a todos que se empenham por ela, a todos que a falam e
que aqui estão representados em cada um de vocês, que vieram e prestigiam este
evento.
Herzlichen Dank
für Ihre Aufmerksamkeit! Muito obrigada
por sua atenção!