Os componentes das duas
categorias são escassos, mas existem. Sartre disse que a política é
atividade impensável e depois escreveu Crítica da razão dialética, uma vasta
reflexão sobre a política. Aconselhou que não se abandonasse a escritura pela
política, nem a política pela escritura e que a maneira autêntica do escritor fazer política é escrevendo. Na
verdade, escrevendo Sartre cometeu acertos e equívocos políticos, alguns
graves, mas redimiu-se pelas peças teatrais que escreveu. A história de
escritores que se tornaram políticos, assume aspetos ora heroicos, ora
dramáticos e por vezes trágicos. Por outro lado, alguns políticos, para
alcançar o poder, estetizam a política através da arte da escritura, sabendo da
capacidade de sedução da arte e quando no poder, politizam a arte
para dominar as multidões. O líder carismático tem traços psicológicos
similares ao ator, em ambos há um fundo de personalidade histriônica pela
necessidade compulsiva de seduzir a todos. No caso de líderes totalitários,
aspetos histéricos se juntam a outros sádicos, originado uma personalidade
psicopática que usa sua capacidade de sedução para o domínio das massas.
Mussolini, Marinetti e Gabriele D ´Anunzio, intelectuais por formação queriam
transformar o futurismo na arte oficial do fascismo.
Goebbels, autor de peças teatrais e de novelas afirmava
que “A massa não é para nós mais que um material informe. Só nas mãos de um
artista, da massa nasce um povo e do povo uma nação”. Belas palavras que
terminaram numa gigantesca tragédia.
Ao nosso lado, na Argentina, são conhecidos os casos do
poeta Leopldo Lugones que se tornou o intelectual preferido do ditador Uriburu, de Borges que almoçava com o
sanguinário General Videla e recebia condecorações de Pinochet, de Scalabrini
Ortiz e Arthur Jauretche, ensaístas e filósofos que apoiaram o General Perón até o fim.
No Peru, Vargas Llosa teve desastrada atuação política e
eleitoral e deixou seu país cair nas mãos de um corrupto homicida.
Os nossos ditadores pouco precisaram de intelectuais,
talvez porque não vislumbrassem o valor deles ou porque só manuseassem o RDE.
Temos a sorte no entanto de ainda termos em plena e
refinada produção literária, políticos que honram a tradição regional de escritores que encaram a política como arte e
como meio importante da arte de governar.
Franklin Cunha
Médico
Membro da Academia Rio-Grandense de Letras (cadeira nº9)
( na foto Franklin ladeado por Donaldo Schüller, Rosane de Oliveira, Maristela Genro e eu)