segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O POLITICO ESCRITOR E O ESCRITOR POLITICO - POR FRANKLIN CUNHA


 

 
Os componentes das duas  categorias são escassos, mas existem. Sartre disse que a política é atividade impensável e depois escreveu Crítica da razão dialética, uma vasta reflexão sobre a política. Aconselhou que não se abandonasse a escritura pela política, nem a política pela escritura e que a maneira autêntica  do escritor fazer política é escrevendo. Na verdade, escrevendo Sartre cometeu acertos e equívocos políticos, alguns graves, mas redimiu-se pelas peças teatrais que escreveu. A história de escritores que se tornaram políticos, assume aspetos ora heroicos, ora dramáticos e por vezes trágicos. Por outro lado, alguns políticos, para alcançar o poder, estetizam a política através da arte da escritura, sabendo da capacidade de sedução da arte e quando no poder, politizam  a arte  para dominar as multidões. O líder carismático tem traços psicológicos similares ao ator, em ambos há um fundo de personalidade histriônica pela necessidade compulsiva de seduzir a todos. No caso de líderes totalitários, aspetos histéricos se juntam a outros sádicos, originado uma personalidade psicopática que usa sua capacidade de sedução para o domínio das massas. Mussolini, Marinetti e Gabriele D ´Anunzio, intelectuais por formação queriam transformar o futurismo na arte oficial do fascismo.

 

Goebbels, autor de peças teatrais e de novelas afirmava que “A massa não é para nós mais que um material informe. Só nas mãos de um artista, da massa nasce um povo e do povo uma nação”. Belas palavras que terminaram numa gigantesca tragédia.

 

Ao nosso lado, na Argentina, são conhecidos os casos do poeta Leopldo Lugones que se tornou o intelectual preferido do ditador  Uriburu, de Borges que almoçava com o sanguinário General Videla e recebia condecorações de Pinochet, de Scalabrini Ortiz e Arthur Jauretche, ensaístas e filósofos que apoiaram o General  Perón até o fim.

 

No Peru, Vargas Llosa teve desastrada atuação política e eleitoral e deixou seu país cair nas mãos de um corrupto homicida.

Os nossos ditadores pouco precisaram de intelectuais, talvez porque não vislumbrassem o valor deles ou porque só manuseassem o RDE.

 

Temos a sorte no entanto de ainda termos em plena e refinada produção literária, políticos que honram a tradição regional de  escritores que encaram a política como arte e como meio importante da arte de governar.

Franklin Cunha
Médico

Membro da Academia Rio-Grandense de Letras (cadeira nº9)

( na foto Franklin ladeado por Donaldo Schüller, Rosane de Oliveira, Maristela Genro e eu)